O HOMEM DE PRETO NA VILA QUE PERECEU

Por Johnny Menezes

- Eu não posso dizer! – gritou Cláudio.
- Mas você vai! O que estava falando de tão importante com aquele homem de preto? Qual é o seu maldito nome? – gritou Lucas, o chefe da vila. Ele estava novamente com aquilo esparramado no rosto corroído pela poeira. Nos últimos tempos sempre lhe esparramavam aquilo. O medo. Ele escorria pelo rosto e dançava pelo corpo. Tudo era puro medo. Não o medo escandaloso das crianças, mas o medo silencioso. Aquele medo que se esconde nos olhos quando se sabe que não há mais salvação. Aquele que mata a pessoa aos poucos. Que definha a mente devagar até que uma hora tudo apaga.
- Não sei, cada hora ele se refere a ele mesmo com um nome diferente. @

(ELE É BELO! ELE É PODEROSO! ELE É UM DEUS!)

...é estranho.
- O que você disse de tão importante com esse forasteiro. Desde quando ele chegou, nosso gado vem morrendo. Ele tem que partir.

(PELO AMOR DE DEUS! ELE TEM QUE PARTIR! NÃO AGÜENTO MAIS! TEM QUE PARTIR!)

- Tudo está morrendo, muito antes dele. – sussurrou Cláudio contra o vento quente. - Ele já partiu e me deixou uma missão.
Cláudio desviou o olhar para o horizonte. Olhou também para o monte de gado apodrecido perto da igreja. Eles diziam para ele “Vá logo. O tempo é curto.” E misturado ao fedor notava-se ao fundo “Venha aqui. Deite-se conosco.”
- Olha pra mim! – Lucas gritou, dando-lhe um tapa no rosto.
- Você é louco?! – Cláudio gritou, dando um soco em Lucas, que foi ao chão ressecado feito sua pele.
- Você irá dizer! Não pode viver aqui sem dar satisfações ao chefe da vila! Nada de segredos aqui! Você irá dizer!
- Eu não posso! Você não entende! Eu não posso! – Cláudio o olhava nos olhos. Realmente não podia dizer.
Renato via tudo aquilo de longe. Quando notou o tombo do chefe da vila, pegou um pedaço de madeira e correu na direção de Cláudio.
Cláudio, por sua vez, não teve tempo de reação.

(SEU CÉREBRO HAVIA DESCOLADO, SEM DÚVIDA HAVIA).

Quando acordou, estava na prisão improvisada da vila. O local era um forno. O ar ali, sem dúvida provinha do inferno.
Por um momento esquecera o que tinha acontecido. Não se lembrava o que fizera para estar ali, mas logo sua cabeça pulsando o fez lembrar. Ela doía muito. Olhou ao redor e não viu ninguém. Tudo estava silencioso.
- Preciso sair daqui. – Disse para si mesmo.
Foi até a grade e puxou-as com toda a força. Talvez se fizesse muita força elas poderiam... Ficar imóveis. Não mexeram nenhum centímetro.
Não muito longe dali, um palhaço surgia no meio de alguns arbustos.

CONTINUA...