Último Turno

Ficha técnica
Título Original: End of Watch
Título Traduzido: Último Turno
Ano de Publicação: 2016
Páginas: 344 páginas (Editora Suma)
Data de Publicação nos EUA: 07/07/2016
Personagens: Bill Hodges, Jerome Robinson, Holly Gibney, Peter Huntley, Morris Bellamy, John Rothstein, Peter Saubers
Conexões: Cujo, Carrie, A Incendiaria, Desespero, Os Justiceiros, A Casa Negra e Doutor Sono.
Personagens Citados: –
Disponível no Brasil pela editora: Editora Suma (2016)
Sobre o livro
Brady Hartsfield, o diabólico Assassino do Mercedes, está há cinco anos em estado vegetativo em uma clínica de traumatismo cerebral. Segundo os médicos, qualquer coisa perto de uma recuperação completa é improvável. Mas sob o olhar fixo e a imobilidade, Brady está acordado, e possui agora poderes capazes de criar o caos sem que sequer precise deixar a cama de hospital. O detetive aposentado Bill Hodges agora trabalha em uma agência de investigação com Holly Gibney, a mulher que desferiu o golpe em Brady. Quando os dois são chamados a uma cena de suicídio que tem ligação com o Massacre do Mercedes, logo se veem envolvidos no que pode ser seu caso mais perigoso até então. Brady está de volta e, desta vez, não planeja se vingar apenas de seus inimigos, mas atingir toda uma cidade. Em Último turno, Stephen King leva a trilogia a uma conclusão sublime e aterrorizante, combinando a narrativa policial de Mr. Mercedes e Achados e perdidos com o suspense sobrenatural que é sua marca registrada.
Resenha
Último Turno é a conclusão da trilogia Bill Hodges de Stephen King, que se inicia com Mr. Mercedes e segue com Achados e Perdidos. Esta obra encerra de maneira surpreendente e impactante a jornada do detetive aposentado Bill Hodges, sua parceira Jerome Robinson e a jovem Holly Gibney, enquanto enfrentam um vilão sobrenatural e uma série de eventos que transcendem a mera resolução de crimes. Ao longo do livro, King entrelaça suspense, mistério e um clima de terror psicológico, mas também reflete sobre a natureza da morte, a obsessão e o conceito de vingança, construindo uma narrativa carregada de simbolismo e metáforas que revelam dimensões mais profundas.
O principal antagonista do livro, Brady Hartsfield, o “Assassino do Mercedes”, retorna de uma maneira inesperada e mais ameaçadora. O que parecia ser um criminoso comum, motivado por vingança e rancor, é transformado em uma figura de caráter sobrenatural. Sua manipulação de um dispositivo eletrônico que afeta a mente das pessoas leva a trama a um território onde a linha entre o real e o imaginário se torna tênue. O uso da tecnologia como uma ferramenta para o mal ressoa como uma metáfora para o controle da mente humana e a perda de autonomia. Brady, em sua busca por destruição, também é um reflexo do medo moderno de sermos controlados por forças externas, uma crítica sutil ao quanto a tecnologia e a sociedade de consumo têm o poder de desumanizar e alienar.
King também utiliza Último Turno para explorar a ideia de redenção e do peso da culpa. Bill Hodges, ao longo da trilogia, se vê confrontado com o peso de sua aposentadoria e sua incapacidade de se afastar de uma vida que o consumiu. A obra questiona se a verdadeira redenção é possível e se nossas escolhas, boas ou ruins, podem ser transcendidas. O próprio envelhecimento de Bill é uma metáfora para o tempo que consome todos nós, o inevitável processo de desgaste físico e emocional que não pode ser ignorado. A busca por uma última vitória sobre Brady, mesmo quando já no final de sua vida, é uma tentativa de deixar um legado e uma justificativa para suas ações, mas também uma meditação sobre o que realmente significa vencer.
Holly Gibney, outra figura central da trilogia, continua sua evolução de uma pessoa introvertida e marginalizada para uma mulher forte, com uma habilidade extraordinária de entender e enfrentar o mal. A transformação de Holly é uma analogia para o poder da perseverança e da superação de traumas pessoais. Ela, como um símbolo de resiliência, representa a luta contra forças que parecem maiores do que qualquer ser humano. A sua jornada, como a de Bill, revela como os aspectos mais sombrios da vida podem ser enfrentados, mas não sem uma batalha interna constante.
A dinâmica entre Bill, Jerome e Holly também serve como uma metáfora para a união de forças contra o mal. King, ao focar nessa equipe improvável de heróis, nos mostra que a verdadeira força reside na capacidade de colaboração e empatia, ao invés de nos isolarmos e tentarmos enfrentar os desafios sozinhos. Essa interação simboliza a necessidade de se conectar com os outros para superar os obstáculos da vida, mesmo quando tudo parece perdido.
Último Turno é também uma reflexão sobre a morte e a inevitabilidade do fim. O título, por si só, remete ao conceito de um “fim de jornada” para os personagens, mas também para a própria vida. Ao longo da história, a morte é retratada não apenas como uma questão física, mas também como uma presença psicológica. O vilão Brady, ao tentar controlar e manipular a vida e a morte de outros, se torna um simbolismo do próprio medo da morte e da tentativa de superá-la. Isso também se liga ao fato de que a verdadeira morte de Brady, como personagem, ocorre apenas quando ele perde sua capacidade de controle, representando que, no final, é a perda do poder que mais define o fim.
O livro também tece uma crítica ao uso da tecnologia para manipular a sociedade, representada pela forma como Brady Hartsfield explora as fraquezas humanas. A ideia de que a tecnologia pode ser uma ferramenta de controle se entrelaça com a metáfora de Brady como um “deus das marionetes”, que, por meio da tecnologia, altera a percepção das vítimas e as leva a ações irracionais e destrutivas. Isso fala sobre a nossa dependência crescente da tecnologia e o modo como ela pode ser usada para o mal se não for controlada.
A narrativa em Último Turno é marcada por uma mistura de elementos de horror psicológico e thriller policial, onde o sobrenatural e o real se encontram. A maneira como King insere o elemento fantástico na trama de um mistério policial é um reflexo de como ele mescla o real com o imaginário ao longo de sua obra, criando uma tensão constante entre o que é possível e o que é impossível. A escrita, fluida e cheia de tensão, é mais do que uma simples busca por um assassino; ela se torna uma meditação sobre o que nos move, sobre a nossa luta constante contra as forças que tentam nos destruir, seja por meios físicos ou psicológicos.
Em termos de temas universais, Último Turno é um estudo sobre o poder do mal e como ele pode se manifestar de maneiras insidiosas. Brady, como uma representação de todos os medos e frustrações não resolvidas, nos ensina que o verdadeiro mal não é apenas o que vemos, mas o que ele é capaz de desencadear em nossas mentes e corações. Ao confrontar o mal, os personagens são forçados a enfrentar suas próprias fraquezas, medos e a inevitabilidade do fim, criando um elo profundo entre os leitores e os personagens.
Em resumo, Último Turno é uma obra que explora os limites do mal, da redenção e da mortalidade, combinando o estilo policial com elementos sobrenaturais. King utiliza suas tradicionais metáforas de poder, controle e perda para criar uma história envolvente, mas também profunda, que leva os leitores a questionar o que realmente significa vencer e o que acontece quando as fronteiras entre o bem e o mal se tornam borradas.
Curiosidades
- O livro se chamaria The Suicide Prince (“O Príncipe Suicida”) e foi anunciado em abril de 2015 em um evento no St. Francis College. De acordo com o posfácio, King conta que o novo titulo foi sugerido como uma alternativa por sua esposa Tabitha.
- O livro é dedicado a Thomas Harris, autor dos romances de Hannibal Lecter.
- Durante uma entrevista, King disse que uma personagem da trilogia de Mr. Mercedes também teria um papel fundamental no romance no qual ele estáva trabalhando, Outsider.
Referências Locais
- Com o parque de diversões Six Flags e Chagrin Falls, são mencionados em duas cenas, que também aparecem em A Incendiaria.
Referências Narrativas
- Último Turno é a conclusão da trilogia do Sr. Mercedes e, portanto, fortemente ligada ao Mercedes e a Achados e Perdidos. Muitos personagens são mencionados direta ou indiretamente, como Augie Odenkirk.
- Brady Hartsfield descobre que ele possue telecinese, assim como Carrie White, de Carrie. No entanto, ele não adquire essas habilidades até que é envolvido involuntariamente de um experimento médico como Andy McGee e Vicky McGee em A Incendiaria.
- O cerebelo batizado de Felix Babineau é uma variação do Lote 6 da Oficina/Loja, que também permite que Andrew McGee e Vicky McGee se comuniquem e troquem idéias sem necessidade de falar no enredo de A Incendiaria.
- Abra Stone também conhece um Restaurante Jardim do Panda, no romance Doutor Sono, porém o restaurante fica em North Conway, New Hampshire, e não em Ohio, como o restaurante que Bill Hodges e Holly Gibney conhecem enquanto estão resolvendo o caso do caso de Martine Stover.
- A maneira em Brady Hartsfield pode implantar sua mente em outros corpos, mas a psique de seus anfitriões fica cada vez mais para trás e destruídas, lembra as habilidades de Tak em Desespero e Os Justiceiros.
- O comportamento de Brady Hartsfield em relação às enfermeiras no hospital é muito parecido com o comportamento de outro personagem que apenas fingiu ser paciente para assediar as enfermeiras. O Comportamento de Hartsfield lembra Charles Burnside de A Casa Negra.
- As primeiras quatro turnês da banda ‘Round Here’ foram patrocinadas pela Sharp. Era para a empresa a Sharp que Vic Trenton em Cujo
- A revista de escândalos Inside View é mencionada, a mesma vista no romance A Zona Morta, no conto O Piloto da Noite, e em tantas outras histórias de King.
- O famoso número 19 é mencionado: Barbara Robinson quase morre quando está em Lowtown, a 19 quarteirões do hospital de Hartsfield.
Personagens Gêmeas
- Nós já conhecemos um personagem de nome Rob Martin no romance em Cujo. Porém lá ele era um veterano do Vietnã de uma perna só.
Assuntos Recorrentes
- Alguém é Iluminado, Brady Hartsfield possue telecinese e pode implantar sua mente em outros corpos.