The Colorado Kid

Ficha técnica

Original: The Colorado Kid
Título Traduzido:
Ano de Publicação: 2005
Páginas: 179 (Edição de 2005 – Hard Case Crime)
Data de Publicação nos EUA: 04/10/2005
Personagens: Dave Bowie, Stephanie McCann, Vince Teague, James Cogan, Arla Cogan
Conexões: A Torre Negra
Personagens Citados:
Adaptação: Haven (2010―2015)
Disponível no Brasil pelas editoras: Livro inédito no Brasil.

Sobre o livro

O corpo de um homem é encontrado na costa do Maine, sua identidade é desconhecida, e todas as pistas levam a lugar nenhum. Um ano depois, o cadáver é identificado, mas as principais perguntas continuam sem respostas. Um dupla de figurões do jornal local usam este caso para servir como uma espécie de teste para uma jornalista estagiária. Conseguirá ela descobrir a verdade por trás do caso do Rapaz do Colorado?

Resenha

The Colorado Kid, de Stephen King, é uma obra que desafia as convenções do gênero policial ao apresentar um mistério que, em vez de ser resolvido, permanece em aberto, ecoando a incerteza e a complexidade da própria vida. Publicado em 2005 como parte da linha Hard Case Crime, a narrativa deliberadamente subverte as expectativas dos leitores que buscam um desfecho claro e satisfatório. Ainda inédito no Brasil, o livro levanta questões fundamentais sobre a natureza da verdade, da narrativa e do desejo humano de encontrar sentido em meio ao caos.

A história se passa em uma pequena ilha no Maine e é narrada por dois jornalistas veteranos, Vince Teague e Dave Bowie, que compartilham com a jovem estagiária Stephanie McCann o intrigante caso do “Colorado Kid”. O mistério gira em torno de um homem desconhecido encontrado morto em uma praia em 1980, cuja identidade e circunstâncias da morte só foram parcialmente descobertas depois de anos de investigação. Apesar dos avanços no caso, várias perguntas essenciais permanecem sem resposta, e é essa ausência de conclusão que forma o cerne da narrativa.

O “Colorado Kid” em si é uma metáfora para o insondável. Ele representa tudo o que nos escapa — o inexplicável, o aleatório, o enigma que desafia a lógica e as leis narrativas convencionais. O homem sem passado nem destino claro é um reflexo de como a vida muitas vezes não oferece explicações e de como o desejo humano de conclusão pode ser frustrado pela própria natureza da realidade. A ausência de respostas finais no livro força o leitor a confrontar seu próprio desconforto com a ambiguidade, um tema que King explora com maestria.

King utiliza a estrutura narrativa de forma intencionalmente subversiva. Em vez de mergulhar em cenas de ação ou revelações dramáticas, o autor adota um tom introspectivo e quase casual, com a história sendo contada em grande parte através de diálogos entre os personagens. Esse formato reforça a ideia de que o foco do livro não está no mistério em si, mas no impacto que ele tem sobre aqueles que o testemunham e nas reflexões que ele provoca. O caso do “Colorado Kid” é, na verdade, uma desculpa para King explorar a relação entre contadores de histórias e seus ouvintes, além de questionar as limitações do próprio ato de narrar.

A escolha de King por ambientar a história em uma ilha isolada no Maine, um cenário recorrente em sua obra, cria uma atmosfera de isolamento que amplifica o mistério e reflete a desconexão entre o “Colorado Kid” e o mundo ao seu redor. A ilha funciona como uma metáfora para a bolha de percepção em que todos vivemos, limitada por nossa própria experiência e perspectiva. A distância geográfica e emocional entre o homem morto e os moradores da ilha destaca o abismo entre as vidas que tocamos indiretamente e aquilo que jamais poderemos compreender completamente.

O livro também levanta questões sobre a natureza do jornalismo e da busca pela verdade. Vince e Dave, com sua longa experiência na profissão, entendem que nem todos os mistérios podem ser resolvidos, e seu relato serve como um lembrete de que a busca pela verdade é muitas vezes mais importante do que as respostas que encontramos. Stephanie, representando uma nova geração, é inicialmente frustrada pela falta de um desfecho, mas sua interação com os veteranos sugere uma passagem de sabedoria, uma aceitação gradual de que a vida é composta de mistérios sem solução.

Embora The Colorado Kid não seja uma obra tradicionalmente associada ao horror, King infunde na narrativa uma sensação de inquietação que é característica de seus trabalhos. O verdadeiro terror aqui não vem de elementos sobrenaturais ou de violência, mas do reconhecimento de que o mundo é vasto, indiferente e repleto de lacunas que nunca preencheremos. Essa perspectiva é profundamente lovecraftiana, embora apresentada de forma mais humana e introspectiva, focada menos no medo do desconhecido e mais na aceitação dele como parte integrante da existência.

Ao permanecer inédito no Brasil, The Colorado Kid deixa de alcançar leitores que poderiam se beneficiar de sua abordagem única e filosófica ao gênero policial. É um livro que desafia não apenas as expectativas literárias, mas também as emocionais, pedindo ao leitor que abandone a necessidade de fechamento e abrace a incerteza. King demonstra aqui que a ausência de respostas pode ser tão reveladora quanto as respostas em si, tornando a obra uma meditação sutil e provocativa sobre os mistérios da vida e a arte de contar histórias.

Curiosidades

  • Primeiro livro de King publicado depois do fim da série A Torre Negra, até então, antes do anúncio de O Vento Pela Fechadura.
  • Publicado numa editora especializada em romances sobre crimes, em vez da editora comum em que King publica seus livros. Oito anos depois, King novamente usaria o selo da HardCase Crime para publicar Joyland.
  • O mistério do Rapaz do Colorado rendeu um seriado pelo SyFy Channel chamado Haven, que é levemente baseado no romance.

Referências Narrativas

  • Enquanto que aos olhos comuns pode-se não notar referências aos outros trabalhos de King, o próprio escritor escreveu em seu site, na época do lançamento do livro que:

 

“A crítica do USA Today sobre o livro diz que não havia café da marca Starbucks em Denver de 1980, já Starbucks que não se expandiu fora de Seattle, Washington até 1987. Não tome isso como um erro de minha parte. Os leitores fiéis de ‘A Torre Negra’ poderão perceber que isso não é necessariamente um erro de continuidade, mas uma dica.”

Com isso, pode-se assumir que a inclusão da rede de locadoras Blockbuster, que não surgiu antes de 1985, também pode ser uma dica de que essa história se passa em “outro quando”. Outra evidencia disso é o fato que a Haven descrita aqui, sendo uma cidade litorânea, é muito diferente da Haven descrita em Os Estranhos, uma cidade pequena de interior.

Gostou deste conteúdo? Compartilhe!