Sob a Redoma

Ficha técnica
Título Original: Under the Dome
Título Traduzido: Sob a Redoma (2012 – Presente)
Ano de Publicação: 2009
Páginas: 954 (Edição de 2012 – Editora Suma)
Data de Publicação nos EUA: 10/11/2009
Personagens: Dale Barbara, Big Jim Rennie, Julia Shumway, Andy Sanders, Eric Everett
Conexões: A Hora do Lobisomem; Ao Cair da Noite; Quatro Estações
Personagens Citados: –
Adaptação: Under the Dome (2013 – 2015)
Disponível no Brasil pelas Editoras: Suma de Letras (2012); Editora Suma (2013)
Sobre o livro
A pequena cidade de Chester’s Mill esconde alguns indesejáveis segredos políticos. Quando uma redoma gigante cerca a cidade sem mais nem menos, esses segredos estão ameaçados. Um grupo, incluindo um ex-combatente do Iraque, resolve se unir para proteger o interesse comum: sobrevivência. Contra eles, está Jim Rennie, um político violento que fará de tudo para proteger seus segredos e cargo, até mesmo matar… O tempo corre, suas vidas estão ameaçadas, e eles precisam descobrir rapidamente um jeito de se libertarem da redoma.
Resenha
Sob a Redoma de Stephen King é uma obra monumental que transcende o horror convencional para se tornar uma incisiva alegoria social. Publicado em 2009, o romance apresenta a pequena cidade de Chester’s Mill, no Maine, subitamente isolada do resto do mundo por uma redoma invisível e impenetrável. A trama mergulha no caos que se instaura entre os habitantes, enquanto explora a degradação moral e os conflitos que emergem em condições extremas, revelando o lado mais sombrio da natureza humana.
A redoma funciona como uma metáfora central, representando a fragilidade das barreiras entre civilidade e barbárie. Assim que a barreira desce, ela não apenas separa Chester’s Mill do restante do mundo, mas também expõe as dinâmicas de poder, os preconceitos latentes e os medos que permeiam a sociedade da cidade. A redoma, nesse sentido, é menos uma barreira física e mais um reflexo psicológico das limitações que os próprios personagens enfrentam: medo, ganância, controle e, em última análise, sua incapacidade de enxergar além de seus próprios interesses.
O enredo principal se desenrola em torno da luta de poder entre Dale “Barbie” Barbara, um veterano do exército tentando restaurar a ordem, e Big Jim Rennie, um político local corrupto que vê na crise uma oportunidade para consolidar sua influência. Big Jim é uma personificação da tirania e do abuso de poder, seu comportamento ecoando líderes autoritários reais que manipulam o medo e a ignorância para controlar as massas. A relação de antagonismo entre Big Jim e Barbie revela as tensões entre moralidade e pragmatismo em situações extremas, um tema recorrente na obra de King.
Os personagens de Chester’s Mill são cuidadosamente construídos para refletir arquétipos da sociedade contemporânea. Desde o fanatismo religioso de figuras como a fanática Rebecca Shumway até a apatia de outros moradores diante dos abusos de poder, cada personagem contribui para a crítica de King às estruturas sociais que permitem que a opressão prospere. A redoma força os moradores a confrontarem seus próprios demônios internos, revelando como o isolamento pode amplificar não apenas os conflitos externos, mas também os internos.
King utiliza a narrativa para criticar a fragilidade das instituições humanas. O colapso das normas sociais em Chester’s Mill é quase instantâneo, mostrando o quão precário é o equilíbrio entre ordem e caos. A polícia local se transforma rapidamente em um instrumento de opressão sob o comando de Big Jim, enquanto a comunidade, dominada pelo medo, permite que atrocidades ocorram em nome da sobrevivência. Essa crítica é ampliada pelo uso de jovens, como Junior Rennie, que se tornam agentes de violência e desespero, simbolizando a corrupção de futuras gerações em sistemas já deteriorados.
O simbolismo da redoma também pode ser interpretado como uma crítica ecológica e existencial. Chester’s Mill, isolada e incapaz de interagir com o mundo exterior, torna-se uma espécie de microcosmo do planeta Terra, onde recursos finitos e escolhas insustentáveis levam ao colapso. A deterioração ambiental dentro da redoma, com o ar tornando-se irrespirável e o ambiente cada vez mais hostil, ecoa preocupações reais sobre a negligência ambiental e o impacto das ações humanas no equilíbrio do planeta.
Outro aspecto relevante da narrativa é a maneira como King explora a manipulação da verdade e o papel da mídia. Big Jim e seus aliados controlam as informações que chegam aos cidadãos, criando uma atmosfera de desinformação e paranoia. Essa dinâmica reflete o poder das narrativas em moldar comportamentos e opiniões, uma questão que ressoa fortemente em uma era marcada por fake news e propaganda política.
Apesar de seu tom sombrio, Sob a Redoma também aborda a resistência e a solidariedade humana. Personagens como Barbie, Julia Shumway e outros que se aliam a eles representam a capacidade de lutar contra a opressão, mesmo em face de probabilidades esmagadoras. Esses personagens simbolizam a resiliência e a esperança, contrastando com o desespero que domina grande parte da cidade.
O final do romance, frequentemente discutido entre os leitores, oferece uma reviravolta que liga a redoma a forças alienígenas que tratam os humanos como meros experimentos. Essa revelação amplia a metáfora central, sugerindo que as lutas de Chester’s Mill, por mais significativas que pareçam para os envolvidos, são insignificantes em um contexto maior. É uma crítica sutil à arrogância humana e ao egocentrismo, questionando se nossos conflitos e tragédias são realmente relevantes em um universo vasto e indiferente.
Sob a Redoma é, em última análise, um estudo fascinante do comportamento humano sob pressão. King utiliza sua habilidade narrativa para construir um mundo isolado onde as falhas e virtudes da humanidade são ampliadas. A obra é um espelho da sociedade contemporânea, expondo os perigos do autoritarismo, da ignorância e da apatia, enquanto celebra a coragem e a compaixão que ainda podem emergir mesmo nas circunstâncias mais sombrias. É uma leitura tanto aterrorizante quanto provocativa, que permanece com o leitor muito tempo após a última página.
Curiosidades
- O romance é uma re-escritura de dois outros romances que King nunca pode terminar, The Cannibals e Under the Dome, que eram diferentes em si, mas tratavam basicamente da mesma premissa.
- King disse que o antigo romance era como uma comédia social à lá Trocas Macabras. Mas do antigo romance só se aproveitou o primeiro capítulo, e ele é muito mais sério do que antes.
- King esteve no TimesCenter, em Nova York, no dia do lançamento do livro, para promovê-lo.
Referências Locais
- A prisão de Shawshank é mencionada várias vezes no livro.
- Chester’s Mill é a cidade vizinha de Tarker’s Mill, a cidade-palco de A Hora do Lobisomem.
Referências de Personagens
- Dois personagens, que são irmãos, receberam os nomes de Randall e Roland Killian. Uma óbvia brincadeirinha com os nomes de Roland Deschain e Randall Flagg.
Referências Narrativas
- A cúpula desce às 11:44. 11 4 4 = 19.
- Na noveleta “N.“, do livro Ao Cair da Noite, vemos um artigo transcrito sobre os acontecimentos narrados nesta história escrito por Julia Shumway, uma das personagens principais de Sob a Redoma.
- O quarto do hospital para Big Jim Rennie tem 19 anos.
- O ônibus que eles tentam escapar da bola de fogo é 19. Eu acho que Piper Libby é uma versão feminina do Padre Callahan, e Horace o cão tem um Oy nele também.
- Joe Mcclatchey é muito parecido com Jake também.