Rose Madder

Ficha técnica

Título Original: Rose Madder
Título Traduzido: Rose Madder (1996 – Presente)
Ano de Publicação: 1995
Páginas: 480 (Edição de 2013 – Editora Suma)
Data de Publicação nos EUA: 01/06/1995
Personagens: Rose Daniels, Norman Daniels, Rose Madder, Bill Steiner, Cynthia Smith
Conexões: Insônia; Angústia; A Torre Negra
Personagens Citados: Paul Sheldon, Susan Day
Disponível no Brasil pelas Editoras: Objetiva (1996; 2003); Planeta DeAgostini (2004); Ponto de Leitura (2011); Suma de Letras (2011; 2013)

Sobre o livro

Rosie cansou de ser agredida pelo seu marido, Norman Daniels, um policial psicótico, e por isso resolve fugir de casa para nunca mais voltar. Desnecessário dizer que Norman fica irado. Começa então uma perseguição implacável, e o louco policial não está disposto a deixar Rosie se livrar dele tão facilmente, e vai destruir qualquer um que se meter no seu caminho. Entretanto, ao comprar um quadro estranho batizado de “Rose Madder”, Rosie vai descobrir que agora, de certa forma, ela não está sozinha em sua luta.

Resenha

Rose Madder, de Stephen King, é uma obra profundamente alegórica que explora os horrores da violência doméstica, o poder transformador da arte e o potencial humano para a renovação e resiliência. Lançado em 1995, o romance une realismo brutal e fantasia sobrenatural, criando uma narrativa multifacetada que reflete a jornada de uma mulher em busca de liberdade e autodescoberta.

A história segue Rose Daniels, uma mulher que, após quatorze anos de abuso nas mãos de seu marido Norman, um policial violento e psicopata, finalmente encontra coragem para fugir. Sua jornada de autolibertação começa de forma concreta, com sua fuga para uma nova cidade e um novo início, mas rapidamente se entrelaça com elementos fantásticos quando ela adquire uma pintura misteriosa, “Rose Madder”, que se torna uma porta literal para outro mundo. Esse mundo, tanto metafórico quanto sobrenatural, reflete e amplifica os temas centrais do romance.

A pintura funciona como um símbolo multifacetado, representando a transformação, a coragem e o renascimento. Sua presença na narrativa sugere que a arte – seja ela visual, literária ou de qualquer outra forma – tem o poder de transcender a realidade e nos conectar a aspectos mais profundos de nós mesmos. Quando Rose entra no mundo da pintura, ela não está apenas escapando fisicamente; ela está confrontando os aspectos mais sombrios de sua psique, assim como a sombra persistente de Norman, que a persegue até mesmo nesse espaço surreal. A imagem de Rose Madder, a mulher mítica dentro do quadro, funciona como um arquétipo de força feminina, ao mesmo tempo protetora e vingativa, encarnando o potencial de Rose para se reinventar.

A cor “madder”, uma tonalidade vibrante de vermelho, não é apenas uma referência literal à cor predominante na pintura, mas também uma metáfora para o sangue, a raiva e a vitalidade. É um lembrete constante da violência que Rose sofreu, mas também da paixão e força latentes que ela começa a descobrir em si mesma. Ao longo da narrativa, o vermelho aparece como um motivo recorrente, simbolizando tanto perigo quanto renovação, como se a própria cor encapsulasse a dualidade da experiência de Rose.

Norman, por outro lado, é mais do que um antagonista; ele é a personificação do controle patriarcal, da violência desenfreada e do desejo de posse. Sua obsessão em rastrear Rose e trazê-la de volta não é apenas um reflexo de seu ego ferido, mas também uma representação simbólica das forças opressoras que frequentemente tentam silenciar ou subjugar as mulheres que ousam escapar. A relação entre Rose e Norman é um estudo de poder e submissão, mas também de resistência e sobrevivência.

O mundo dentro da pintura, com sua atmosfera onírica e perigos latentes, pode ser interpretado como uma manifestação do inconsciente de Rose. É um espaço onde ela confronta não apenas os resquícios do trauma, mas também suas próprias capacidades de enfrentá-lo. O touro no labirinto, uma criatura imponente e ameaçadora, é uma representação direta de Norman e, mais amplamente, dos monstros internos e externos que Rose precisa derrotar para se libertar completamente.

A mitologia subjacente ao mundo da pintura remete a narrativas arquetípicas de heroísmo e transformação, como as histórias de Perseu enfrentando Medusa ou de Teseu navegando pelo labirinto do Minotauro. Esses paralelos não são acidentais; King utiliza esses mitos para ancorar a jornada de Rose em um contexto atemporal, destacando a universalidade de sua luta e de sua eventual vitória. Ao derrotar Norman e confrontar os horrores do mundo dentro da pintura, Rose completa sua jornada de heroína, emergindo mais forte e mais consciente de seu próprio valor.

Além dos elementos de fantasia, Rose Madder é também um retrato profundamente humano do impacto do trauma. King trata o abuso doméstico com seriedade e empatia, explorando não apenas as cicatrizes físicas, mas também as emocionais que Rose carrega. Sua luta para construir uma nova vida – encontrar trabalho, formar amizades e redescobrir sua própria identidade – é descrita com uma sensibilidade que torna sua história tanto um ato de resistência quanto de renascimento.

As interseções entre o real e o sobrenatural no romance também sugerem que a cura e a autodescoberta não são processos lineares ou unidimensionais. Para Rose, enfrentar Norman no mundo real não é suficiente; ela precisa confrontá-lo no nível simbólico, dentro do espaço da pintura, para se libertar completamente. Esse dualismo entre os mundos reflete a complexidade do processo de cura, onde confrontar o trauma pode exigir tanto um enfrentamento concreto quanto uma reconciliação mais profunda com o que ele representa.

Rose Madder não é apenas uma história sobre escapar de um abusador; é uma celebração da força e da capacidade humana de se transformar diante da adversidade. A jornada de Rose é tanto interna quanto externa, e King a conduz com um equilíbrio impressionante entre brutalidade e beleza. Ao fundir realismo social com fantasia, o autor cria uma narrativa que ressoa em múltiplos níveis, oferecendo ao leitor uma experiência que é ao mesmo tempo visceral e profundamente simbólica.

O romance, no entanto, não escapa de suas críticas. Alguns leitores podem achar o elemento sobrenatural uma distração da narrativa central de abuso e recuperação. Outros podem argumentar que Norman é retratado de forma excessivamente caricatural, uma encarnação tão extrema do mal que perde parte de sua complexidade. Ainda assim, essas escolhas narrativas parecem intencionais, enfatizando os temas maiores de poder, opressão e o confronto com forças que transcendem o controle humano.

No final, Rose Madder é uma obra que mistura coragem e delicadeza, horror e esperança, ao contar a história de uma mulher que redescobre sua força em meio à escuridão. Stephen King prova, mais uma vez, sua habilidade de usar o extraordinário para iluminar o comum, criando uma narrativa que é ao mesmo tempo aterrorizante e profundamente inspiradora.

Referências Biográficas

  • O nome “Dorcas” (a criada de Rose Madder) em grego significa Tabitha (primeiro nome da esposa de King).

Referências de Personagens

  • Menção a Avenida Dearborn, referencia a Roland que se passou por Will Dearborn em A Torre Negra – Volume IV: Mago e Vidro.

Referências Narrativas

  • É dito que Rose Madder e Dorcas passaram um tempo na cidade de Lud, vista em A Torre Negra – Volume III: As Terras Devastadas.
  • No capitulo 6, Dorcas diz: “Eu vi homens sábios sendo assassinados e tolos tomando seus lugares”, possivelmente uma alusão ao assassinato do Rei Roland e a nomeação de Thomas como rei em Os Olhos do Dragão.
  • Os romances de Paul Sheldon, protagonista de Misery, que contam as aventuras de Misery Chastain, são mencionados.
  • Anna Stevenson é fã de Susan Day, personagem de Insônia.

Assuntos Recorrentes

  • Violência doméstica, Norman Daniels é muito abusivo com Rose.

Menções e Referências em Outros Livros

  • Cynthia Smith, uma das personagens secundárias de Rose Madder, reaparece no romance seguinte de King, Desespero (dessa vez, com um papel maior), e em Os Justiceiros, irmão gêmeo deste último.
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