Olhos de Dragão

Ficha técnica

Título Original: The Eyes of the Dragon
Título Traduzido: Os Olhos do Dragão
Ano de Publicação: 1987
Data de Publicação nos EUA: 02/02/1987
Personagens Principais: Príncipe Pedro, Príncipe Tomás, Rei Roland, Randall Flagg, Rainha Sasha
Cidade da História: Delain
Estados da História:
Adaptações: —
Derivados:
Disponível no Brasil pelas Editoras: Disponível no Brasil pelas Editoras: Francisco Alves (1988); Planeta DeAgostini (2004); Objetiva (2006); Ponto de Leitura (2011); Editora Suma (2013)

Sobre o livro

O maligno conselheiro Flagg planeja destruir o reino de Delain, e para isso ele causa a morte do Rei Rolando e da Rainha Sasha. Entretanto, o casal real deixou dois herdeiros: Pedro e Tomás. Pedro é o exemplo de um futuro rei; forte, inteligente e astuto. Tomás é o completo oposto. O próximo passo de Flagg é se livrar de Pedro, para que Tomás, a quem manipula facilmente, possa vir a ser o rei. O plano de Flagg para destruir Delain parece perfeito, mas o destino não estará a seu favor.

Resenha

Lançado em 1987, Os Olhos do Dragão é uma das obras mais incomuns de Stephen King. Apesar de ser conhecido por seus romances de terror psicológico e histórias intensas, este livro marca uma incursão do autor no território da fantasia clássica. Ambientado no reino fictício de Delain, o livro pode parecer uma ruptura com o estilo habitual de King, mas carrega a marca inconfundível de sua habilidade de explorar as nuances da humanidade – o que torna esta obra fascinante tanto para os fãs de fantasia quanto para os admiradores de seu trabalho.

A narrativa se passa em Delain, um reino medieval onde a luta pelo poder é moldada por intrigas palacianas, magia e traições. A história gira em torno de dois príncipes: Peter, o herdeiro legítimo, e Thomas, o irmão mais novo, que se sente constantemente à sombra do primogênito. Quando o rei Roland é assassinado, Peter é falsamente acusado do crime, e Thomas assume o trono sob a manipulação de Flagg, o conselheiro maligno e figura central de muitos dos universos de King.

A estrutura é direta, lembrando um conto de fadas, mas King utiliza essa simplicidade como base para explorar temas universais: a luta pelo poder, a fragilidade da inocência e os perigos do ressentimento. A narração, que frequentemente dialoga diretamente com o leitor, acrescenta um charme intimista, evocando a sensação de ouvir uma fábula contada à beira da lareira.

Flagg, o vilão, é o arquétipo do manipulador que prospera na desordem. Ele simboliza a corrupção política e a tendência humana de buscar poder a qualquer custo. Seu objetivo não é apenas dominar Delain, mas destruir sua alma, mostrando como o mal frequentemente atua de maneira indireta e insidiosa.

Os irmãos Peter e Thomas representam dois lados de uma moeda. Peter encarna a nobreza e a coragem, enquanto Thomas é a personificação da insegurança e do ciúme. A dinâmica entre eles reflete a luta interna que muitos enfrentam ao tentar equilibrar virtudes e defeitos.

Embora o dragão no título se refira literalmente a uma cabeça de dragão decorativa no aposento do rei, ele também é uma metáfora para o medo e o poder latente. O dragão observa, silencioso, os acontecimentos do reino, como uma testemunha das escolhas humanas e suas consequências.

A prisão de Peter na Torre da Agulha é mais do que um confinamento físico – é um símbolo de resiliência e criatividade diante da adversidade. Peter transforma sua cela em um local de reflexão e engenhosidade, desafiando a ideia de que a liberdade é apenas uma condição externa.

Flagg, o vilão central, conecta Os Olhos do Dragão a outros trabalhos de King, especialmente A Torre Negra e A Dança da Morte. Sua presença como uma força do caos cria uma continuidade que liga Delain a um universo mais amplo, sugerindo que os mundos de King são fragmentos de uma mesma realidade interligada.

Além disso, o conflito entre Peter e Thomas pode ser comparado a outras rivalidades fraternas na literatura, como Caim e Abel ou Thor e Loki. King aborda o ressentimento e a inveja com nuances, mostrando que até o antagonista (Thomas) é, em última análise, uma vítima de suas próprias inseguranças e das manipulações de Flagg.

A narrativa, com seu tom quase infantil, é uma escolha deliberada que contrasta com os temas sombrios da história. Isso cria uma camada adicional de desconforto, pois o leitor é levado a confrontar o lado obscuro da humanidade em uma moldura que, à primeira vista, parece inofensiva.

Os Olhos do Dragão é uma joia única na bibliografia de Stephen King. É uma história que parece simples em sua superfície, mas revela profundidade quando examinada de perto. Ao explorar a luta pelo poder, a dualidade humana e os perigos da manipulação, King nos entrega uma obra que é, ao mesmo tempo, uma fábula clássica e um espelho de nossas próprias fragilidades.

Embora muitas vezes ofuscado por suas obras de terror mais famosas, este livro é uma prova de que King é, acima de tudo, um contador de histórias magistral, capaz de navegar por qualquer gênero com habilidade e sensibilidade. Os Olhos do Dragão merece ser lido não apenas como uma fantasia, mas como uma reflexão sobre o que significa ser humano em um mundo governado por forças maiores do que nós.

Curiosidades

  • Flagg é o principal vilão das histórias de King, aparecendo em A Dança da Morte e na série A Torre Negra. Nas notas do quarto volume da série, King diz que Tomás e Denis fariam uma aparição em algum ponto da jornada de Roland Deschain, mas isso nunca aconteceu. Eles foram apenas mencionados pelo pistoleiro no segundo volume.
  • Um dos títulos que Stephen pensou em dar ao livro foi “The Nipkins” (Os Lenços de Papel).
  • King escreveu o livro em homenagem à sua filha Naomi, que não gostava de suas histórias de terror.
  • Numa passagem onde o narrador fala sobre a profunda experiência de dor e inveja de Tomás, King faz referência a um poema de Stephen Crane, enquanto escreve: “Ele sentiu como se alguém tivesse alcançado seu coração, cortado um pedaço dele e feito ele comê-lo. O gosto de seu coração era muito amargo, e ele odiou Pedro ainda mais, embora uma parte dele ainda amasse seu bonito irmão, e sempre amaria, e embora o gosto fosse amargo, ele tinha que gostar. Porque era o seu coração.”
  • Eis o poema de Crane: No deserto, eu vi uma criatura, nua, bestial, que, de cócoras no chão, segurou seu coração em sua mão, e o comeu. Eu disse, “está gostoso, amigo?”; “está um pouco amargo”, ele respondeu, “mas eu gosto porque ele é amargo, e porque é meu coração”.

Conexões do Livro

  • King faz uma referência ao mundo Cthulhu Mythos, de H.P. Lovecraft, quando narra que o livro de magia de Flagg “foi escrito nas altas e distantes planícies de Leng, por um homem louco chamado Alhazred”. Em Trocas Macabras, Leland Gaunt diz que conseguiu maconha dessas mesmas planícies.
  • Os conselheiros do Rei Roland veem no Príncipe Pedro o retorno do Branco, “aquela força antiga e resistente, embora humilde, que por vezes sem conta redimiu a humanidade”. Uma óbvia referência à saga A Torre Negra.

Referências a personagens

  • Randall Flagg

Menções e Referências em Outros Livros

  • Na noveleta “As Irmãzinhas de Elúria”, do livro Tudo é Eventual, diz-se que Delain é conhecido como “Toca do Dragão”, ou o “Paraíso dos Mentirosos”.
  • Em As Terras Devastadas, Roland diz que pode ter havido uma guerra civil em Garlan.
  • Em Mago e Vidro, Roland Deschain se refere ao reino de Garlan como um reino conhecido por seus venenos.
  • Em Canção de Susannah, Roland diz que seu avô Alaric viajou para Garlan, um reino próximo a Delain, para matar um dragão, mas chegou tarde porque o último dragão já havia sido morto por um rei que eventualmente fora assassinado.
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