O Pistoleiro

Ficha técnica

Título Original: The Dark Tower – Volume I: The Gunslinger
Título Traduzido: A Torre Negra – Volume I: O Pistoleiro (2004 – Presente)
Ano de Publicação: 1982
Páginas: 224 (Edição de 2013 – Editora Suma)
Data de Publicação nos EUA: 10/06/1982
Personagens: Roland Deschain, Jake Chambers, Walter das Sombras, Sylvia Pittson
Conexões: Todo o universo já escrito por King
Personagens Citados:
Adaptação: The Dark Tower (2017)
Disponível no Brasil pelas Editoras: Objetiva (2004), Editora Suma (2012; 2013), Ponto de Leitura (2013)

Resumo do livro 1 – O pistoleiro
(Atenção: Este resumo contém partes importantes do enredo – “Spoilers”)

“O homem de preto fugia pelo deserto, e o pistoleiro ia atrás…” Assim começa a aventura de Roland de Gilead em busca do seu “santo graal pessoal”, a “torre negra”. Roland esta no encalço do “homem de preto”, um misterioso feiticeiro, no qual ele acredita ter respostas que o ajudarão a chegar até a torre. No caminho Roland se depara com o colono Brown e o seu corvo falante Zoltan (que segundo Brown, se recusa a aprender o “pai nosso”). É para Brown que Roland conta a historia dos fatídicos acontecimentos na cidade de Tull.

Após contar a historia, Roland segue seu caminho em busca da torre, e em um posto de parada, a beira da morte, é salvo por um garoto Chamado Jake Chambers (Roland ainda não sabe, mas Jake fará parte do seu Ka-tet, em busca da torre negra). Jake e Roland seguem caminho, e nas montanhas encontram e enfrentam “os vagos mutantes” (criaturas irracionais de pele esverdeada e aparência monstruosa), e antes que pudessem atravessar as montanhas, Roland tem que fazer uma escolha crucial, entre seu mais novo companheiro de Ka, e A torre negra. Roland escolhe a torre, mas como o próprio Jake diz antes de sucumbir ao abismo: ” existem outros mundos além deste”.

O Pistoleiro alcança o Homem de Preto, e a confabulação final entre eles acontece em um golgota poeirento, repleto de ossos humanos, onde o Homem de Preto prevê o futuro de Roland nas cartas do Tarô. Após a longa confabulação Roland dorme, e quando acorda percebe que o homem de preto não passava de um monte de ossos, coberto por uma túnica preta. De algum modo dez anos haviam se passado, e as covas dos olhos do pistoleiro estavam mais profundas.

Ao final da tarde, Roland chega até uma praia deserta. Ali ele senta na areia e contempla o horizonte, imaginando, pensando no dia em que finalmente irá encontrar a torre negra.

Considerações

  • A primeira publicação de texto integral de “O pistoleiro” (The Gunslinger, no original) ocorreu em 1982, em forma de edição limitada, e somente em 1988 teve sua publicação em massa. A partir dai o livro foi relançado em vários formatos diferentes, incluindo os boxes que contem os outros volumes da serie. Em 2003 a versão original de “O pistoleiro” foi revisada pelo autor e algumas passagens foram acrescentadas, enquanto outras foram retiradas, mantendo assim o primeiro volume coerente com todos os outros.
  • “O Pistoleiro” é considerado por alguns como um livro relativamente “difícil de se ler”, já que o ritmo narrativo desse primeiro volume é completamente diferente dos outros. De cunho mais filosófico, o primeiro livro da série apresenta a face mais psicologica de um Roland obcecado pela sua Torre Negra, que deixa claro, desde o inicio, que passará por cima de tudo e de todos para alcançar seu objetivo. Nesse primeiro volume, de um ponto de vista Freudiano, Roland seria o equivalente ao ID, já que seu instinto enraizado na necessidade de alcançar sua tão cobiçada torre negra é quase inconsciente. É claro que Roland não se da conta disso, e em meio a esse processo deixará, muitas vezes, de lado, valores éticos, morais ou mesmo lógicos, tudo para satisfazer seu desejo irracional de chegar até a Torre Negra.

Resenha (com spoilers)

O Pistoleiro, primeiro volume da série A Torre Negra, é uma obra que exala o tom épico e enigmático característico de Stephen King, apresentando aos leitores um mundo devastado que é ao mesmo tempo familiar e estranho. A narrativa, centrada no pistoleiro Roland Deschain, é uma fusão única de faroeste, fantasia e horror, refletindo a habilidade de King em explorar temas universais por meio de metáforas e simbolismos que ressoam profundamente.

A jornada de Roland, enquanto persegue o homem de preto através de uma paisagem árida e desolada, é uma representação metafórica da busca humana por propósito e entendimento. Roland é movido por uma obsessão que vai além do simples desejo; ele é o arquétipo do herói trágico, disposto a sacrificar tudo — até mesmo sua humanidade — em nome de um objetivo que ele acredita ser maior do que ele mesmo. Essa busca simboliza a eterna luta do ser humano em encontrar significado em um mundo que frequentemente parece indiferente e caótico.

O mundo de O Pistoleiro é uma extensão da psique de Roland: fragmentado, deteriorado e cheio de ecos de um passado glorioso. O conceito de “o mundo seguiu adiante” é uma analogia poderosa sobre decadência, tanto física quanto moral, e reflete a luta constante entre tradição e mudança. Essa ambientação não só dá profundidade à narrativa, mas também atua como um espelho para as próprias dúvidas e questionamentos do protagonista.

King emprega o simbolismo de maneira intricada ao longo da obra. A Torre Negra, ainda que pouco explorada nesse volume inicial, é claramente um ícone de transcendência e mistério, representando a interseção entre o divino e o profano, o conhecido e o desconhecido. A trajetória de Roland em direção à torre é, em última análise, uma jornada espiritual, um confronto com as forças que moldam e desconstroem o universo. O homem de preto, por outro lado, é um símbolo de tentação e revelação, personificando a dualidade do bem e do mal em seu papel de guia e antagonista.

As interações de Roland com os personagens secundários, como Jake Chambers, aprofundam o dilema moral que permeia sua jornada. O relacionamento entre os dois é carregado de tensão emocional, refletindo os conflitos internos de Roland entre a necessidade de conexão humana e seu comprometimento inabalável com sua missão. A morte de Jake, que ocorre por causa da implacabilidade de Roland, é uma metáfora poderosa para as escolhas dolorosas que muitas vezes definem nossas vidas e para o custo do progresso pessoal e espiritual.

A escrita de King nesse volume é deliberadamente fragmentada e evocativa, refletindo o estado quebrado do próprio mundo. A estrutura episódica da narrativa permite ao autor explorar diversos aspectos da psique de Roland e do mundo ao seu redor, ao mesmo tempo que mantém o leitor em um estado constante de inquietação e curiosidade.

O Pistoleiro é uma introdução fascinante e desafiadora à saga A Torre Negra, uma obra que mistura elementos mitológicos, filosóficos e profundamente humanos. Através de suas metáforas e simbolismos, King nos convida a refletir sobre questões universais — o preço da obsessão, a natureza da escolha e a busca por redenção. É um início sombrio e enigmático para uma das séries mais ambiciosas do autor, um convite para embarcar em uma jornada épica que explora os limites da narrativa e da própria imaginação.

Curiosidades

  • A primeira versão de “O pistoleiro” tinha cerca de 9 mil palavras (135 paginas) a menos do que a versão finalizada, que foi revisada e lançada novamente em 2003. Nessa versão foram incluídos inúmeros outros detalhes (como o prefacio sobre a importância do numero 19 por exemplo) para que o romance ficasse mais consistente e condizente com os outros.
  • Stephen King levou 33 anos para concluir a serie, entre os anos de 1970 e 2003. A série só veio a ser lançada no brasil a partir do ano de 2004.
  • O próprio King cita no prefacio de “O pistoleiro”, que este é um livro realmente difícil de se ler.
  • Existem no livro (e em suas continuações) existem diversas referências à cultura pop contemporânea. “Halloween” e “O iluminado” são citados na pagina 206. “Guerra nas estrelas” e “A rosa purpura do Cairo” na página 207 de “O pistoleiro”.
  • Embora falando sobre os diferentes níveis do Khef, e como eles o afetam, Roland atribui a habilidade de ignorar a sede a um Manni de quinto nível. Isso coloca os Manni´s na primeira pagina da série na revisão feita por King, ao invés de no inicio de Mago e Vidro.
  • Na versão revisada King remove três linhas sobre como Roland tem combatido suas inúmeras batalhas durante sua vida, transformando-as em uma simples declaração, dizendo que “ele agora tem menos balas no cinturão.”
  • Roland e Brown trocam uma saudação diferente: “longos dias e belas noites” da presente na versão original.
  • Brown afirma ter avistado um homem pássaro (taheen) e que ele buscava um lugar chamado Algul Siento. Um lugar de suma importância no ultimo livro.
  • Ka é mencionado constantemente. Na versão original não era.
  • Apesar de recarregar suas armas com rapidez King diz que em vez de ter gasto vinte e cinco anos para dominar esta habilidade, Roland “passara mais de mil anos aprendendo este truque e outros.” Isso ressalta a ideia de que o mundo mudou, e Roland tem estado em sua busca por muito mais tempo do que o leitor suspeita.
  • O livro foi inspirado no poema épico Childe Roland à Torre Negra Chegou, de Robert Browning.
  • O livro foi dedicado ao falecido editor Ed Ferman.

Curiosidades com Spoilers

  • O livro foi revisado pelo autor em 2003, e novas adições e subtrações à história foram feitas, entre elas:
  • remoção de uma passagem em que Roland lia uma revista na cidade de Tull, uma vez que em As Terras Devastadas é revelado que o papel é algo valioso e raro no Mundo Médio;
  • remoção da informação de que entre a queda de Gilead e o começo do livro se passam 12 anos (na nova versão, King não revela quanto tempo se passou);
  • o Homem de Preto originalmente fala que é “praticamente imortal”, na nova versão, ele também inclui Roland nessa;
  • remoção de uma passagem em que se diz que durante a queda de Gilead, Roland não sabia onde Cort estava. Como King desenvolveu a trama em livros eventuais (fazendo com que Roland soubesse), ele teve de mudar para “Cort estava morto”, quando o pistoleiro pensa em seu falecido mestre;
  • originalmente, Roland mataria Allie à sangue frio. Quando ela é feita de escudo humano por um dos habitantes de Tull, ela implora para que Roland não atire nela. O pistoleiro executa ambos. Na nova versão, Allie implora para que Roland a mate, pois a magia de Walter a enlouqueceu, o pistoleiro o faz;
  • haveria uma cidade chamada Farson, que foi mudada na nova versão para Taunton, uma vez que Farson se tornou o nome de um dos personagens nos livros subsequentes;
  • a louca Sylvia Pittson fala sobre o anticristo em seu sermão (besta, no original), na nova versão, King trocou “besta” por “um rei rubro com olhos sanguinários”;
  • Porto Azul e Algul Siento, termos que são revelados nos últimos livros da saga, foram adicionados à história, na nova revisão;
  • King inseriu a aparição de um taheen, criatura que aparece nos últimos livros;
  • no livro original, Roland não tem dúvidas que Walter morre no final, de modo que a caçada a Marten Broadcloak continua. Na versão revisada, King alterou esta passagem, deixando Roland ter dúvidas se Walter realmente morreu, fazendo com que os eventos finais de Mago e Vidro ganhem sentido;
  • no original, Jake tem 9 anos, na versão revisada, Jake possui “talvez uns dez ou 11 anos”;
  • na versão original, o mundo de Roland Deschain era claramente o nosso, pois havia referências à Inglaterra, a estrela Polaris, Marte, Jesus, Páscoa, deuses egípcios e gregos, entre outras coisas. Na versão revisada, King removeu todas essas referências;
  • no original, o nome do pai de Roland era “Roland, o Antigo”, na revisão, o nome foi mudado para Steven.
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