O Apanhador de Sonhos

Ficha técnica

Título Original: Dreamcatcher
Título Traduzido: O Apanhador de Sonhos (2001 – Presente)
Ano de Publicação: 2001
Páginas: 656 (Edição de 2013 – Editora Suma)
Data de Publicação nos EUA: 20/03/2001
Personagens: Gary Jones, Douglas Cavell, Joe Claredon, Pete Moore, Henry Devlin
Conexões: A Coisa
Personagens Citados: Pennywise
Adaptação: O Apanhador de Sonhos (2003)
Disponível no Brasil pelas Editoras: Objetiva (2001; 2003; 2005), Planeta DeAgostini (2004), Ponto de Leitura (2013), Editora Suma (2013)

Sobre o livro

Nas florestas nevadas do Maine, um mal se esconde. Pouco a pouco, animais vãos sendo infectados por uma praga nunca vista antes: bactérias alienígenas. Contra isto está uma unidade especial do governo mandada para tal floresta para exterminar os seres alienígenas, cuja nave caiu na região. Porém, um dos extra-terrestres escapa, e acaba encontrando quatro amigos que passavam uma temporada de caça numa cabana. Quando o alienígena infecta um dos amigos, os restantes precisam usar de toda sua coragem e instinto de sobrevivência para enfrentar a criatura e pôr um fim à ameaça do outro mundo, antes que seja tarde demais, pois ele possui um terrível plano.

Resenha

O Apanhador de Sonhos é uma obra singular dentro da vasta bibliografia de Stephen King, uma narrativa que combina terror cósmico, amizade e traumas, entrelaçando esses elementos em um enredo marcado por memórias, conexões humanas e invasões alienígenas. O livro, escrito durante a recuperação de King após um grave acidente, carrega uma densidade emocional e simbólica que reflete o momento de vulnerabilidade do autor, resultando em uma história que é tanto uma jornada psicológica quanto uma aventura sobrenatural.

No centro da narrativa estão quatro amigos de infância — Jonesy, Beaver, Pete e Henry — cujas vidas foram transformadas por uma experiência compartilhada: o resgate de um garoto com deficiência intelectual chamado Duddits. Essa experiência não só reforçou os laços entre eles, mas também lhes concedeu habilidades psíquicas, uma metáfora para o poder transformador da empatia e da solidariedade. Esses dons, no entanto, não são apenas presentes, mas também fardos, simbolizando o peso das conexões emocionais profundas e os desafios de se carregar os traumas do passado.

A trama se desenrola em uma cabana isolada durante uma tempestade de neve, onde os amigos se reúnem para sua reunião anual. A paisagem inóspita e o isolamento físico espelham o estado emocional de cada personagem, que lida com perdas, arrependimentos e desconexão. A chegada de uma força alienígena, representada pelos “Ripley” e a infecção causada pelos esporos extraterrestres, traz à tona temas de invasão, corrupção e transformação, não apenas em um sentido literal, mas também como uma alegoria para o impacto de traumas e forças externas na psique humana.

O conceito do “apanhador de sonhos” que dá título ao livro é um dos principais símbolos da narrativa. Tradicionalmente, o apanhador de sonhos é um objeto destinado a filtrar pesadelos e proteger o subconsciente. Na história, ele funciona como uma metáfora para a tentativa dos personagens de proteger suas memórias e sua humanidade das forças destrutivas, tanto externas quanto internas. A luta para preservar essas memórias, especialmente as relacionadas à amizade e a Duddits, torna-se essencial para resistir às ameaças alienígenas, que buscam apagar a identidade e a individualidade.

Duddits, o personagem central em torno do qual a história orbita, é tanto um símbolo de pureza quanto de sacrifício. Ele representa o melhor dos amigos — sua compaixão, inocência e força emocional — e serve como a chave para derrotar a entidade alienígena Mr. Gray. A relação entre Duddits e os outros personagens ressalta a importância das conexões humanas e da aceitação das diferenças, enquanto a sua fragilidade física é um contraste marcante com o poder que ele exerce em momentos cruciais da trama.

Mr. Gray, por outro lado, é uma personificação do poder corrosivo da invasão, da dominação e da perda de controle. Ele não é apenas um inimigo externo, mas também um reflexo dos medos internos dos personagens: o medo de perder a autonomia, de sucumbir às forças que tentam reescrever quem eles são. Sua presença dentro da mente de Jonesy transforma o corpo e a mente do personagem em campos de batalha, uma representação literal da luta entre o indivíduo e as forças que tentam destruí-lo.

King também explora a ideia de memória como uma fortaleza, um conceito que se manifesta na “sala de arquivo” mental de Jonesy. Este espaço, onde ele guarda suas memórias mais preciosas, é tanto uma metáfora para a resistência psicológica quanto para a importância de proteger o que é mais essencial em nós. À medida que Jonesy enfrenta Mr. Gray, a sala de arquivo torna-se um campo de resistência, demonstrando que a identidade humana é definida não apenas pelo presente, mas também pelas experiências e relações que nos moldaram.

Outro tema recorrente no livro é o impacto do trauma, tanto físico quanto emocional. Cada um dos quatro amigos enfrenta seus próprios demônios, desde o peso da culpa até o vazio existencial. A luta contra a ameaça alienígena serve como uma extensão simbólica de suas batalhas internas, refletindo como eventos traumáticos podem alienar os indivíduos de si mesmos e de seus laços mais profundos. A ameaça externa, no entanto, também os força a confrontar esses traumas e a redescobrir o poder de sua amizade.

A ambientação nevada e a sensação de isolamento criam uma atmosfera opressiva que amplifica o suspense e o horror. A neve, cobrindo tudo e transformando o mundo em um vazio branco, simboliza o esquecimento, a morte e a limpeza, reforçando a ideia de que os personagens estão em uma encruzilhada onde precisam decidir o que preservar e o que deixar para trás.

Apesar de algumas críticas sobre a complexidade da trama e o excesso de elementos, O Apanhador de Sonhos é uma exploração profunda da natureza humana, do poder das conexões e da resiliência frente a forças que tentam nos desumanizar. É uma história que combina o terror visceral com uma análise comovente da amizade e da capacidade de superar o trauma, mantendo-se fiel ao estilo de King de unir o sobrenatural ao íntimo. A jornada dos personagens, ainda que marcada por dor e sacrifício, é, no fundo, uma celebração da humanidade em suas formas mais cruas e vulneráveis.

Curiosidades

  • O livro foi escrito à mão, devido ao atropelamento que King sofreu, que o deixou de cama.
  • O título original da história era Câncer, mas Tabitha King convenceu seu marido a mudá-lo, achando-o de muito mal gosto.

Referências Locais

  • Quando o Sr. Grey leva Jonesy para Standpipe Hill em Derry para entregar sua infecção mortal no abastecimento de água, o estrangeiro está furioso ao descobrir que o Standpipe não existe mais – foi destruído na grande enchente de 1985. Uma estátua comemora aqueles perdidos em a tempestade.

Referências Narrativas

  • Ao ouvirem uma rádio dentro do carro, Henry, Duddits e Owen escutam o radialista chamar a crise alienígena pela qual estão passando de “Zona Morta”.
  • Durante o enrendo Sr. Grey diz “O que é 19, além de um número primo?”, É uma menção ao número 19, numero místico da série A Torre Negra.
  • O pedestal foi levado à maior parte de sua altura na neve, mas a parte superior da placa aparafusada à frente era visível. O Sr. Grey caiu aos joelhos de Jonesy, raspou a neve e leu:
  • “PARA OS PERDIDOS NA TEMPESTADE 31 DE MAIO DE 1985 E PARA AS CRIANÇAS TODAS AS CRIANÇAS COM AMOR BILL, BEN, BEV, EDDIE, RICHIE, STAN, MIKE, O CLUBE DOS PERDEDORES”
  • E pintado de Spray através dele em letras vermelhas irregulares, também perfeitamente visível nos faróis do caminhão, foi esta nova mensagem: PENNYWISE VIVE!
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