Novembro de 63

Ficha técnica

Título Original: 11/22/63
Título Traduzido: Novembro de 63 (2013 – Presente)
Ano de Publicação: 2011
Páginas: 730 (Edição de 2013 – Editora Suma)
Data de Publicação nos EUA: 08/11/2011
Personagens: Jake Epping, Al Templeton, Harry Dunning, Sadie Dunhill, John F. Kennedy
Conexões: A Coisa, Sob a Redoma
Personagens Citados:
Adaptação: 11.22.63 (2016)
Disponível no Brasil pelas Editoras: Editora Suma (2013)

Sobre o livro

Jake Epping é um professor de Inglês de 35 anos que vive em Lisbon Falls, Maine, fazendo uma grana extra ao ensinar a adultos num curso supletivo. Certo dia, Al Templeton, um amigo de Jake, que é dono de um pequeno restaurante local, revela ao professor um incrível segredo: sua despensa é um portal para o ano de 1958. Ele convence Jake a partir em uma insana missão de viajar no tempo e tentar impedir o assassinato do presidente John F. Kennedy, no dia 22 de novembro de 1963. Assim começa a nova vida de Jake, que vai atravessando o fim da década de 50, enquanto se prepara para mudar o curso da história do mundo; algo que poderá trazer consequências que nem mesmo um viajante do tempo será capaz de prever.

Resenha

Novembro de 63, de Stephen King, é uma obra que transcende os limites do romance de viagem no tempo para se tornar uma profunda reflexão sobre história, escolhas e a fragilidade da condição humana. Publicado em 2011, o livro acompanha Jake Epping, um professor de inglês que, ao descobrir um portal para o passado em uma lanchonete local, é recrutado para evitar o assassinato de John F. Kennedy. A missão, aparentemente simples em sua proposta, revela-se um mergulho nas complexidades de uma época e no impacto das ações humanas sobre o tecido do tempo.

O portal temporal, que transporta Jake para 1958, é um símbolo multifacetado. Ele representa a tentação de corrigir erros, de ajustar o passado para moldar um futuro melhor, mas também funciona como um lembrete de que o tempo é resiliente e resistente a alterações. O conceito de que “o passado é obstrutivo” permeia a narrativa, sugerindo que a história tem uma espécie de consciência própria, uma força quase sobrenatural que busca manter a ordem e resistir à intervenção humana. King utiliza esse elemento para explorar o dilema ético das viagens no tempo: mesmo com as melhores intenções, até que ponto alguém tem o direito de alterar o passado?

A reconstrução meticulosa do final dos anos 1950 e início dos anos 1960 é um dos aspectos mais fascinantes do romance. King não apenas recria a estética da época, mas também mergulha nas nuances sociais, culturais e políticas que definiram o período. Ao fazer isso, ele convida o leitor a refletir sobre o impacto das decisões individuais em um contexto histórico maior. A vida de Jake no passado, particularmente sua relação com a cidade de Jodie e com Sadie Dunhill, é um contraste marcante com sua missão maior. Enquanto tenta mudar o destino de Kennedy, Jake encontra no cotidiano de Jodie um senso de pertencimento e propósito, o que levanta a questão: o que realmente vale mais – uma grande causa ou as pequenas, porém significativas, conexões humanas?

A relação entre Jake e Sadie é o coração emocional da narrativa e funciona como uma metáfora para os sacrifícios exigidos pelo destino. Sadie, com sua própria bagagem emocional, representa a possibilidade de felicidade genuína, mas a missão de Jake constantemente ameaça essa estabilidade. A tragédia inerente à história de amor dos dois ressalta a tensão entre o dever e o desejo, mostrando que mesmo as escolhas mais nobres podem trazer dor e perda. Essa dualidade é uma das forças motrizes do livro, levando o leitor a questionar se é possível conciliar a busca por justiça com a realização pessoal.

O assassinato de Kennedy é tratado não apenas como um evento histórico, mas como um ponto de inflexão que simboliza a perda de inocência e o início de uma era mais sombria na história americana. King examina minuciosamente as teorias em torno de Lee Harvey Oswald, retratando-o como um homem complexo e perturbado, mas sem romantizar ou simplificar suas ações. A escolha de King de apresentar Oswald como uma figura ambígua, ao invés de um vilão unidimensional, reforça a ideia de que o mal, muitas vezes, surge de circunstâncias ordinárias e escolhas aparentemente insignificantes.

O desfecho do romance, em que Jake descobre as consequências catastróficas de suas ações no futuro alternativo que criou, é um lembrete pungente das complexidades do destino. O sacrifício final de Jake, ao escolher restaurar a linha do tempo original, é ao mesmo tempo um ato de amor e uma aceitação das limitações humanas. King sugere que o passado, com todas as suas imperfeições, é algo que devemos aprender a aceitar, pois tentar controlá-lo pode ter consequências inimagináveis.

Novembro de 63 também oferece uma reflexão profunda sobre a natureza do tempo e da história. O tempo, na visão de King, é tanto um adversário quanto um professor, uma força que nos desafia a aceitar que nem todos os erros podem ser corrigidos e que o sofrimento faz parte da experiência humana. A ideia de que o passado está “preso como cola” reflete a inércia das estruturas históricas, mas também o peso das escolhas individuais. Cada decisão, por menor que seja, deixa uma marca duradoura, um tema que ecoa em toda a obra.

Além disso, o livro é uma homenagem à literatura e ao poder da narrativa. Jake, como professor de inglês, frequentemente utiliza sua habilidade de contar histórias para navegar pelos desafios do passado, e sua própria jornada é construída como uma história que transcende o tempo. King parece sugerir que, mesmo quando não podemos mudar os eventos, podemos encontrar significado na maneira como os narramos.

Em suma, Novembro de 63 é uma obra profundamente humana, que combina os elementos de suspense e fantasia característicos de Stephen King com uma análise rica e emocionalmente ressonante da história e do destino. É um livro que desafia o leitor a reconsiderar o impacto de suas ações e a aceitar as imperfeições da vida como parte de sua beleza inerente. Ao final, o que fica é um sentimento de perda, mas também de gratidão – pela oportunidade de viver, amar e, acima de tudo, aprender com o que o tempo nos oferece.

Curiosidades

  • O livro foi anunciado mundialmente via twitter pelas editoras Simon & Schuster e Scribner, no dia 2 de março de 2011.
  • Uma das maiores inspirações de King para escrever a história foi o livro Case Closed, de Gerald Posner.
  • O final do livro foi uma sugestão de Joe Hill, filho de King. King já havia bolado um outro final, mas acabou preferindo o do filho.
  • Ganhou, no dia 20 de abril de 2012, o prêmio de Melhor Thriller, no Los Angeles Times Book Award.

Referências Locais

  • Jake vivem em Lisbon Falls, mesma cidade que alguns fugitivos da prisão Shawshank foram recapturados. Também é a cidade que abriga a fábrica de gesso onde Landon “Sparky” trabalha em LOVE: A história de Lisey e que também é mencionada Xerife Bannerman em A Zona Morta.

Referências Biográficas

  • King estudou no Lisbon Falls High School, escola em que o protagonista do livro leciona.

Referências de Personagens

  • Sadie dança com Don Haggarty no baile Sadie Hawkins. Don é referenciado mais algumas vezes ao longo do livro também. (Curiosamente, em 22/11/63, o sobrenome de Don é escrito com dois G’s.) Don Hagarty é um jovem homossexual de Derry e o parceiro de vida de Adrian Mellon. Don deixa Derry depois do funeral de Adrian e do julgamento contra seus atacantes.
  • Ernie Calvert, avô de Norrie Calvert, de Sob a Redoma, é mencionado perto do final do livro como sendo o autor de um artigo de jornal que o protagonista lê.

Referências Narrativas

  • O fato de Jake não ir diretamente para 1963, e sim para 1958, deu a King algumas liberdades para homenagear alguns de seus trabalhos passados: o protagonista vai passar um tempo na Derry de 1958, chegando logo depois dos assassinatos provocados pelo Palhaço Pennywise, de It – A Coisa.
  • Jake também chega a ver um Plymouth Fury ’58, uma leve referência a Christine.
  • Em determinado momento da história, o protagonista vê um carro da marca “Takuro Spirit”. Um modelo peculiar presente apenas em algumas versões alternativas dos Estados Unidos, como visto na série A Torre Negra.
  • Jake aluga um cofre para guardar o caderno de anotações. O número da caixa é 775, o que totaliza 19.
  • Há também um belo paralelo traçado entre a missão de Jake e a missão de John Smith, do livro A Zona Morta – ambos estão em uma cidade estranha para investigar e impedir um assassinato. Outro ponto é que, tanto Jake quanto John sabem o que vai acontecer no futuro, e tentam mudá-lo para melhor, a diferença é que John tem uma visão do futuro, enquanto Jake volta no tempo.

Menções e Referências em Outros Livros

  • Toda a ideia do livro (voltando a tempo para evitar o assassinato de Kennedy) está realmente presente nos Lobos da Calla. Callahan diz que está pensando há muito tempo em usar o 13 Negro para chegar a 1963, descobrir se Oswald agiu por conta própria ou numa conspiração e talvez o impedir de matar Kennedy. Então Eddie olha para ele e pergunta “e se você fizer isso e mudar as coisas para pior?”. Além disso, Callahan usa a expressão de “momento divisor de águas” para falar sobre o assassinato de Kennedy, que ocorre algumas vezes em Novembro de 63. E a última conexão que encontrei são os carros “brancos sobre os vermelhos”: Callahan escapou de homens baixos dirigindo um carro assim enquanto viajava pelas estradas escondidas e o ex-marido de Sadie também está dirigindo um carro branco sobre vermelho.
  • A maior conexão é a ‘porta’ em si. Em A Torre Negra, no capítulo Fedic (Duas visões), Susannah diz que “Ted e seus amigos ficaram bastante surpresos com a rotunda onde estão todas as portas, especialmente a que ia a Dallas em 1963, onde o presidente Kennedy foi morto”. Pode-se argumentar que a porta em Novembro de 63é o análogo do universo da porta em Fedic.
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