Misery: Louca Obsessão

Ficha técnica
Título Original: Misery
Título Traduzido: Angústia (1988); Misery: Louca Obsessão (2014―Presente)
Ano de Publicação: 1987
Páginas: 326 (Edição de 2014 – Suma de Letras)
Data de Publicação nos EUA: 08/06/1987
Personagens: Paul Sheldon, Annie Wilkes, Bryce Bell, Patrulheiro McKnight, Patrulheiro Wicks
Conexões: O Iluminado; A Coisa
Personagens Citados: Jack Torrance
Adaptação: Louca Obsessão (1990)
Derivados: Castle Rock (2ª temporada)
Disponível no Brasil pelas Editoras: Francisco Alves (1988); Editora Suma (2014)
Sobre o livro
Paul Sheldon é um famoso escritor de romances de época cuja personagem principal se chama Misery Chastain. Cansado de tal rótulo, Paul mata Misery em seu último livro para poder se dedicar a outros tipos de histórias. Passando pelo Colorado, após finalizar um novo romance sem relação com Misery, ele acaba sofrendo um terrível acidente na nevasca; entretanto, a sorte parece estar ao seu lado, pois ele é resgatado por uma estranha enfermeira que se auto-proclama sua fã número um. Annie Wilkes passa a cuidar de seu ídolo em sua isolada morada, sempre arranjando desculpas para não levá-lo a um hospital. Com o passar do tempo, Paul vai estranhando o comportamento de Annie, que pouco a pouco vai se revelando uma completa psicótica. Mas o pior estar por vir, porque a louca Annie acaba comprando o último livro de Misery, e mal sabe ela que Paul matou sua personagem favorita no final. Resta a Paul usar de toda sua esperteza e criatividade para escapar deste que talvez seja o maior pesadelo de qualquer escritor.
Resenha
Misery é uma obra singular de Stephen King, publicada em 1987, que se destaca por sua intensidade claustrofóbica e narrativa profundamente psicológica. Embora classificado como um thriller, o romance transcende o gênero ao oferecer uma reflexão sobre a dinâmica entre criador e consumidor, a relação com a arte e os limites da obsessão.
O livro acompanha Paul Sheldon, um renomado escritor de romances de sucesso, que sofre um acidente de carro em uma estrada isolada. Ele é resgatado por Annie Wilkes, uma enfermeira aposentada e fã obsessiva de sua série de livros sobre a heroína Misery Chastain. No entanto, o resgate se transforma em um pesadelo quando Annie descobre que Paul matou sua personagem favorita no último livro da série.
Paul se torna prisioneiro em sua casa, submetido aos caprichos de Annie, que exige que ele escreva um novo livro para ressuscitar Misery. A interação entre os dois rapidamente se transforma em uma batalha psicológica, com Paul tentando sobreviver à loucura de Annie enquanto reflete sobre sua própria carreira e escolhas como escritor.
A casa de Annie é a prisão literal de Paul, mas também simboliza os grilhões psicológicos que o escritor sente em relação à sua arte. A cadeira de rodas e o quarto pequeno são representações físicas da limitação e do isolamento que Paul enfrenta como artista preso às expectativas de seus fãs e editores.
Annie Wilkes não é apenas uma vilã aterrorizante; ela é uma alegoria do público que demanda que os artistas sacrifiquem sua autenticidade para satisfazer desejos comerciais. Sua insistência em que Paul ressuscite Misery simboliza a pressão que os criadores enfrentam para se conformar às expectativas do mercado, muitas vezes às custas de sua visão artística.
A máquina de escrever, um objeto central na trama, é tanto uma ferramenta de criação quanto um instrumento de tortura. Ela reflete o processo de escrita como algo que pode ser libertador, mas também exaustivo e destrutivo. O detalhe de que a máquina tem a letra “N” quebrada reforça a ideia de que até as ferramentas da criatividade podem ser imperfeitas, exigindo um esforço ainda maior para concluir a obra.
Misery Chastain, a personagem fictícia dentro do livro, simboliza a própria criação artística. Paul a detesta, mas ela é a base de seu sucesso. O conflito entre querer destruir sua criação e precisar dela para sobreviver reflete a tensão que muitos artistas enfrentam entre liberdade criativa e dependência comercial.
Annie é mais do que uma antagonista; ela é a personificação da loucura, da obsessão e do controle absoluto. Sua instabilidade emocional reflete a imprevisibilidade do sucesso e do fracasso artístico, bem como o impacto devastador da crítica destrutiva sobre a psique do criador.
Paul Sheldon é, em muitos aspectos, um reflexo de Stephen King. O autor escreveu Misery durante um período em que lutava contra o alcoolismo e a pressão de ser um escritor prolífico. O livro, portanto, pode ser visto como uma metáfora para o processo de criação artística: um ato que pode ser simultaneamente catártico e excruciante.
A relação entre Annie e Paul reflete a dinâmica perigosa que pode surgir entre celebridades e seus fãs. Annie não é apenas uma leitora; ela se sente proprietária da obra de Paul. Essa obsessão pode ser vista como uma crítica à cultura que transforma a arte em produto e os artistas em servos de seu público.
O estilo de King em Misery é direto, quase sufocante, refletindo a sensação de confinamento que domina o livro. O uso de flashbacks e os trechos do “livro dentro do livro” (o romance que Paul escreve para Annie) adicionam camadas à narrativa, oferecendo ao leitor um vislumbre tanto da mente do escritor quanto do processo criativo.
A tensão é construída com maestria, sem depender de sustos ou terror explícito. Em vez disso, King aposta na dinâmica psicológica e na imprevisibilidade de Annie para criar um clima de constante ameaça.
Misery é mais do que um thriller sobre um escritor preso por uma fã enlouquecida. É uma análise profunda da relação entre criador e consumidor, da luta pela autenticidade artística e do impacto do isolamento – tanto físico quanto emocional – sobre a criatividade.
Stephen King transforma um cenário simples em um palco para explorar os limites da obsessão e da criatividade, criando um dos romances mais intensos e introspectivos de sua carreira. Misery assombra não apenas por suas cenas de terror psicológico, mas por suas reflexões incisivas sobre o ato de criar e as consequências de viver de sua arte.
Curiosidades
- Concorreu ao World Fantasy Award, em 1988.
- King disse que originalmente pensou na história como um conto chamado “Annie Wilkes’ Addiction” (O Vício de Annie Wilkes).
- Uma parte dos fãs rejeitou Os Olhos do Dragão por não conter muito terror. O personagem Paul Sheldon, que foi rotulado como escritor de romances de época, funciona como uma espécie de metáfora para o próprio King, que nesta situação em particular se viu preso ao seu rótulo de escritor de horror.
- Angústia seria, originalmente, um romance de Richard Bachman; porém, como o segredo do autor foi descoberto bem antes da publicação do livro, King provavelmente achou que não teria mais sentido lançá-lo sob seu pseudônimo.
- A adaptação do romance foi a única que já rendeu um Oscar a Stephen King.
- O romance foi parodiado nos desenhos The Critic, Frango Robô e Uma Família da Pesada.
- King relutou por duas décadas antes de revelar as reais motivações de escrever o romance: o livro seria um paralelo acerca de sua dependência às substâncias químicas. A personagem de Annie Wilkes seria a representação de sua dependência e o que ela fazia com seu corpo; castigando-o, fazendo-o se sentir desamparado, separado-o de tudo, e minando qualquer tentativa de “fuga”. King disse que demorou para fazer tal revelação por não se sentir pronto e porque temia que isso desvirtuasse a história.
- Adaptado em filme e peça de teatro.
- A banda Anthrax lançou a música “Misery Loves Company“, em seu disco “State of Euphoria“, que tem inspiração no romance.
- No clipe “Please Don’t Leave Me“, a cantora P!nk parodia Cão Raivoso, O Iluminado, e claro, Angústia.
Referências de Personagens
- De acordo com o livro, Paul Sheldon foi vizinho da Sra. Kaspbrak (mãe de Eddie Kaspbrak, em A Coisa) quando criança.
Referências Narrativas
- Durante uma conversa com Paul, Annie comenta sobre o destino de Jack Torrance e do Hotel Overlook, de O Iluminado.
Assuntos Recorrentes
- O personagem principal é um escritor, Paul Sheldon é um romance romancista popular que tenta entrar em um gênero mais respeitável.