Lobos de Calla

Ficha técnica

Título Original: The Dark Tower- Volume V: Wolves of the Calla
Título Traduzido: A Torre Negra – Volume V: Lobos de Calla (2006 – Presente)
Ano de Publicação: 2003
Páginas: 744 (Edição de 2006 – Objetiva/Suma)
Personagens: Roland Deschain, Susannah Dean, Donald Callahan, Eddie Dean, Oi
Conexões: Todo o universo já escrito por King
Personagens Citados:
Disponível no Brasil pelas Editoras: Objetiva (2006), Suma de Letras/Suma (2012), Ponto de Leitura (2013)

Sobre o livro

Roland e seu grupo de pistoleiros chegam à cidade de Calla, que está prestes a ser atacada pelos Lobos (cavaleiros mascarados que surgem uma vez a cada geração para roubar metade das crianças do local, e devolvê-las semanas depois, física e mentalmente incapacitadas). Enquanto isso, na Nova York de 1977, a Corporação Sombra planeja tomar para si o terreno baldio onde floresce a Rosa, manifestação da Torre Negra em nosso mundo.

Resumo

(Atenção: Este resumo contém partes importantes do enredo – “Spoilers”)

O quinto volume da saga épica “A torre negra” começa com dois personagens aparentemente secundários. São eles: Tian e Tia Jaffords. Dois irmãos restantes do clã Jaffords. É revelado logo no inicio do livro, que a pequena cidade onde eles moram (batizada de Calla Bryn Sturgis) possui uma peculiaridade no mínimo curiosa. A maioria dos moradores de Calla, pais, mães e filhos, são gêmeos (salvo de poucas exceções que ocorrem uma vez ou outra), e de geração em geração (aproximadamente de 23 em 23 anos) seres encapuzados, cavalgando em grandes cavalos cinzas aparecem em Calla, para levar um, entre os casais de crianças gêmeas existentes em Calla. Não se sabe ao certo porque os Lobos (assim eles são chamados) querem as crianças, mas o fato é que quando elas são mandadas de volta, estão totalmente transformadas. São pessoas incapazes de raciocinar muitas vezes por eles mesmos, e assim acabam sendo apelidados de “Roonts”.

No inicio do quinto volume, Tia e Tian Jaffords (Tia é a irma roont de Tian) são avisados por Andy (um robô mensageiro construido em parceria com a Nort Central Positronics e as Industrias LaMerk) que os lobos se aproximam. Pelo menos um mês ainda falta para sua chegada. Tian resolve então convocar uma assembleia geral entre os cidadãos de Calla, para discutirem uma possível reação contra os Lobos. Na assembleia um homem chamado Callahan (Donald Callahan, que também pode ser visto no livro “A hora do vampiro”) os avisa sobre o grupo de amigos que vem caminhando sobre o feixe de luz, algumas rodas atrás da cidade. Segundo ele, eles são pistoleiros, e podem ajudar na batalha contra os lobos, se houver tal batalha. Assim um grupo de seis pessoas (incluindo Callahan e Tia) parte para encontrar o ka-tet de Roland, em busca de sua ajuda.

Enquanto isso, o ka-tet de Roland segue seu caminho. Em uma noite tranquila, Roland acorda e percebe a movimentação de Susanah. Ele a segue, e acaba descobrindo que aquela não era ela. Era outra personalidade, que surgiu para cuidar e levar ao mundo a criança que ela tem dentro do seu ventre, fruto do dêmonio que a possuiu no circulo falante. Seu nome é Mia, filha de ninguém. Ao mesmo tempo, Eddie, Jake e Oi entram em um estado que o pistoleiro chama de “Todash”, e acabam indo parar novamente na Nova York de 1977, onde descobrem que Calvin Tower (O dono da livraria da mente em Manhatan) é o dono do terreno baldio onde se encontra a rosa. Tower está sendo pressionado pelos mesmos gangsters que Eddie teve que enfrentar quando foi capturado por Roland, e levado ao mundo médio, para que vendesse o terreno baldio para a corporação sombra. Os reais intuitos da corporação, ninguém sabe ao certo, mas Eddie e seus amigos cogitam que seja algo nada bom.

Roland e seus amigos acabam recebendo a visita de Callahan (o único que resolve se aproximar do grupo) que revelou que os vigiava já a dois dias. Callahan então conta a historia dos lobos e todo o resto para Roland. Conta que possui o tão cobiçado “Treze preto” escondido em baixo de uma taboa no assoalho de sua igreja, e que foi o “treze preto” que levou seus amigos ao estado de Todash.

O Ka-tet (a convite de Callahan e seu grupo) chega então até a cidade de Calla, onde participa de uma reunião com os moradores da cidade. Após a reunião eles participam de uma grande festa, onde Roland surpreende mais uma vez seus amigos, dançando a dança da colheita.

Jake se torna amigo de Ben Slightman, e a medida em que os dias passam, a amizade entre os dois se torna algo muito forte.

Eddie conversa com James Jaffords, que acaba lhe contanto como ele e seus amigos acabaram abatendo um dos lobos no passado. James dá uma informação vital para Eddie, um segredo que ele vinha guardando a muito tempo de outras pessoas. Graças a essa informação, Roland e seu Ka-tet poderá se preparar melhor para enfrentar os tão temidos lobos de Calla.

Roland visita Henchick, o velho Dinh da tribo dos Mannis de Calla, em busca de mais informações sobre a “gruta do vão da porta”, uma gruta que contem uma porta semelhante as que Roland usou anteriormente para resgatar Eddie e Susannah, de Nova York. Henchick então leva Roland até a gruta, e lá Roland acaba descobrindo que a porta só se abrirá com a ajuda do “treze preto”. Através da historia de Callahan, Roland descobre que foi graças a essa peça (que foi dada a Callahan pelo homem de preto, no mesmo posto de parada onde Roland encontra Jake, minutos depois que isso acontece) que Callahan havia chegado até a gruta, sendo encontrado desmaiado no lugar pelos Mannis.

As “Orizas”, um grupo de mulheres lançadoras de prato, de Calla, ensinam Susannah (a pedido de Roland, que pretende usa-las na batalha contra os lobos) a lançar os pratos.

Callahan mostra a Roland o artefato que escondia em baixo do assoalho de sua igreja, a decima terceira peça do “arco-iris” do mago. Roland e Eddie vão então de encontro a gruta do vão da porta. Lá, com a ajuda da peça do mago, Roland vigia a porta para impedir que ela se feche, enquanto Eddie a atravessa. Na Nova York de 1977 Eddie vai a procura de Kalvin Tower (ou Toren, como era o seu nome de batismo) com a intenção de impedir que a corporação sombra compre o terreno baldio no qual está plantada a rosa, antes dele, que o fará para assegurar a proteção dela. Eddie encontra Tower nos fundos da sua livraria em Manhatan, sendo ameaçado pelos capangas de Balazar. Eddie enfrente os capangas (que após uma surra, acabam fugindo assustados) e convence Tower a fazer parte dos seus planos para garantir a segurança da rosa. Tower aceita, com uma unica condição, que Eddie salvasse alguns dos seus mais valiosos exemplares de livros, enviando-os para o mundo deles através da porta. Eddie então volta através da porta, com os exemplares dos livros de Tower.

Jake (que anteriormente precensiara uma conversa no minimo estranha entre Slightman pai e Andy, o robô) espera seu amigo Ben dormir, e monta no seu Ponei, e junto com ele e com a ajuda de Oi, acaba seguindo o rastro dos dois, e encontra uma especie de casa, que serve como base de operações para Slightman. Lá ele descobre que existem varias cameras vigiando a cidade de Calla, e que Slightman pai e Andy são os delatores, aqueles que passam todas as informações que os Lobos de Calla precisam. De posse desta valiosa informação, Jake retorna a cidade e conta ao grupo. Eddie (com ajuda de Tian Jaffords) da cabo do robô traidor Andy, e com base na informação de Jake, Roland e seu Ka-tet planeja uma emboscada contra os Lobos.

Finalmente chega o dia em que os Lobos invadem Calla, e após uma curta e cruel batalha Roland e seus amigos acabam vencendo. Mas nem tudo é festa para o Ka-tet do pistoleiro e para os moradores de Calla. Duas vidas foram perdidas durante a batalha, e o quinto volume da “Torre Negra” acaba com Mia tomando conta do corpo de Susannah, roubando o “treze preto” e atravessando a porta, rumo a uma Nova York para ela desconhecida, prestes a dar a luz ao seu “Chapinha”.

Resenha

Lobos de Calla, o quinto volume da saga A Torre Negra, de Stephen King, é uma narrativa que equilibra magistralmente a construção de mitologia com o desenvolvimento de personagens, enquanto aborda questões morais, culturais e existenciais que reverberam tanto no contexto de fantasia da série quanto no mundo real. O livro consolida o ka-tet de Roland Deschain como uma unidade coesa, enfrentando desafios que vão além da busca pela Torre, e o coloca diante de um conflito que é, ao mesmo tempo, profundamente local e universal.

A trama se desenrola na pequena comunidade de Calla Bryn Sturgis, onde os habitantes enfrentam uma ameaça cíclica: os Lobos, misteriosas figuras mascaradas que, a cada geração, sequestram algumas de suas crianças, devolvendo-as mais tarde mentalmente e fisicamente devastadas. Essa premissa, por si só, carrega um simbolismo poderoso, refletindo a perda de inocência e a destruição da próxima geração por forças externas – uma alegoria que pode ser lida como uma crítica às guerras, à exploração econômica ou até às desigualdades estruturais que comprometem o futuro.

A chegada de Roland e seu ka-tet à Calla Bryn Sturgis é permeada por um senso de inevitabilidade. Como pistoleiros, eles estão destinados a ajudar, mas a natureza do ka – o destino – torna suas decisões moralmente complexas. O dilema central do livro gira em torno da resistência ou aceitação do sacrifício. O ka-tet não apenas enfrenta os Lobos como vilões tangíveis, mas também confronta as dúvidas e medos dos moradores, que simbolizam a hesitação e a paralisia diante do poder opressor.

King utiliza Lobos de Calla para explorar as relações dentro do ka-tet, com cada membro enfrentando seus próprios desafios internos. Susannah, por exemplo, luta com a dualidade imposta pela presença de Mia, um ser misterioso que habita sua mente e traz à tona questões de identidade e controle. Eddie Dean continua a crescer como líder secundário, enquanto Jake Chambers é forçado a amadurecer rapidamente, enfrentando a violência e o perigo com uma coragem que transcende sua idade. Esses conflitos internos espelham o tema maior da série: a luta constante entre a individualidade e o coletivo, entre a vontade pessoal e o chamado do ka.

O livro também apresenta Padre Callahan, um personagem que conecta A Torre Negra a outra obra icônica de King, ‘Salem’s Lot. A inclusão de Callahan não é apenas um aceno ao universo interligado do autor, mas também uma oportunidade para expandir a mitologia e explorar temas religiosos e existenciais. Callahan, com seu passado marcado pela culpa e pela busca por redenção, é uma figura trágica que personifica a luta entre fé e desespero. Sua introdução reforça a ideia de que todos os caminhos levam à Torre, vinculando personagens e histórias aparentemente desconexas a um destino maior.

Os Lobos, com suas armas e tecnologias que remetem a ícones da cultura pop, como os sabres de luz de Star Wars e granadas apelidadas de “snitches” que lembram elementos de Harry Potter, criam uma interseção entre fantasia, ficção científica e realismo mágico. Esse hibridismo estilístico é uma marca de King, e aqui ele funciona como uma metáfora para o sincretismo cultural e a perda de identidade em face da globalização e da colonização cultural. Os Lobos não são apenas vilões; são um reflexo das forças impessoais e destrutivas que ameaçam a coesão de comunidades pequenas e tradicionais.

A escrita de King em Lobos de Calla é deliberadamente rítmica, refletindo tanto a tranquilidade pastoral da cidade quanto a tensão crescente diante da ameaça iminente. Ele constrói os diálogos com cuidado, conferindo autenticidade às vozes dos habitantes de Calla Bryn Sturgis e capturando a ambivalência de pessoas divididas entre a esperança de ajuda e o medo de retaliação.

No plano maior da série, o livro também aprofunda os mistérios do hax, ou feixe, e da Torre Negra em si. Há um sentimento crescente de urgência e de convergência, como se todas as forças do multiverso estivessem se alinhando para um clímax inevitável. A introdução de novos elementos, como as bolas mágicas de Maerlyn e os mistérios envolvendo a gravidez de Susannah, reforçam o sentimento de que o mundo está prestes a desmoronar, ao mesmo tempo em que abre novas frentes para o conflito.

Lobos de Calla é uma meditação poderosa sobre comunidade, sacrifício e a luta contra forças inexoráveis. Ele destaca o papel do ka-tet como agentes de mudança em um mundo em ruínas, mas também reconhece os custos pessoais dessa missão. King combina ação, emoção e filosofia em um livro que, embora seja parte de uma saga maior, se sustenta como uma obra profundamente rica e provocativa por si só. É uma prova da habilidade do autor em criar histórias que não apenas entretêm, mas também desafiam o leitor a refletir sobre os dilemas e desafios universais que moldam a humanidade.

Curiosidades

  • O subtítulo/tema do livro é “RESISTÊNCIA”.
  • Concorreu como melhor livro de fantasia no Locus Award de 2004.
  • Marca o retorno de um velho conhecido dos fãs de King: Donald Callahan, o padre do romance ‘Salem.

Conexões

  • Alguém que tenha iluminação na série Dark Tower, é chamado de “o toque” – mas Alain e Jake parecem ter isso.
  • O número místico 19, basicamente tudo na série A Torre Negra soma 19, mas aqui está um bom exemplo: Claudia y Inez Bachman.
  • Callahan descreve os Can-Toi (ou como ele os chama, homens baixos, para Roland e os outros).
  • A Volta do Padre Callahan de
  • Callahan menciona Ben Mears enquanto relata sua história. Bem como os acontecimentos em Jerusalem Lot’s, durante o enrendo de Salem.
  • A Menção aos acontecimentos de 22 de Novembro de 62, enredo de Novembro de 62.
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