Jerusalem´s Lot

Jerusalem´s Lot (também conhecida como Salem´s Lot ou apenas Lot) é uma cidade fictícia que faz parte da topografia do Maine de Stephen King. A cidade serviu de cenário para alguns contos e romances e apareceu pela primeira vez no livro “Salem´s Lot” (anteriormente conhecido como “A Hora do Vampiro” e posteriormente como “Salem” no Brasil). Se levarmos em consideração a ordem cronológica dos fatos, sua primeira aparição no universo de Stephen King se deu no conto “Jerusalem´s Lot” (no qual a história se passa em 1850), lançado em 1978, quando a cidade ainda tinha este nome, antes de voltar a ser povoada e passar a ser conhecida como Salem´s Lot ou Lot.

A cidade

Localização: A cidade está localizada no Condado de Cumberland, entre as cidades de Falmouth, Windham e Cumberland, perto da parte sul do estado, cerca de 20 milhas ao norte de Porland. Lot faz parte da trindade fictícia criada por Stephen King, composta por Jerusalem´s Lot, Castle Rock e Derry, onde se passam muitas de suas mais conhecidas histórias. São cidades que, em geral, carregam uma aura de mistério e um “clima” (psicologicamente) pesado, onde aconteceram muitas tragédias.

King explicou em “Dança Macabra” que Jerusalem´s Lot foi, em grande parte, inspirada pela cidade de Durham, Maine, em especial pela área em que residiam jovens conhecidos localmente como “Metodistas Corners”. A Mansão Marsten, do romance original, foi baseada na casa vazia dos Corners, que o próprio Steve e seus amigos haviam explorado na infância.

Além do romance “Salem”, os contos “Jerusalem´s Lot” (do livro “Sombras da Noite”) e “A Saideira” (“Sombras da Noite”) também se passam em Lot. Há referências à cidade ainda em várias de suas obras mais conhecidas, como; “O Iluminado”, “Zona Morta”, “O Corpo” (conto do livro “as quatro estações”), “O Cemitério”, “Eclipse Total”, “Apanhador de Sonhos”, “Dr. Sono”, “Revival” e os três últimos livros da série “A Torre Negra”, “Lobos de Calla”, “Canção de Susannah” e “A Torre Negra”. 

A história de Jerusalem´s Lot

Quando Jerusalem´s Lot foi oficialmente incorporada como município, em 1765, o Maine ainda fazia parte da Colônia da Baia de Massachusetts. A cidade recebeu seu nome graças a um mito relacionado a um dos primeiros moradores, Charles Belknap Tanner. Charles criava porcos e um deles se chamava Jerusalém. Certo dia, Jerusalém escapou do curral e foi parar nos limites de uma floresta próxima, e quando Tanner o pegou de volta ele estava agressivo e selvagem. Tanner passou a alertar as crianças que invadiam sua propriedade de que elas deveriam se manter afastadas do “pedaço de lote de Jerusalem” (“Jerusalem’s wood lot” no original). Eventualmente a frase acabou sendo incorporada como o nome da cidade.

Apesar de ter sido incorporada oficialmente apenas em 1765, a cidade foi originalmente fundada em 1710 por um pregador chamado James Boon, líder de um grupo dissidente de colonos puritanos, originários do sul do Maine. O culto tornou-se conhecido na região por seu ligamento com a bruxaria e pelas práticas sexuais, tidas pelos moradores locais como imorais, onde os participantes eram adeptos, inclusive, da endogamia (sistema onde os acasalamentos se dão entre os parentes). James era o tipo de líder religioso excêntrico, que vivia cercado por mulheres e envolto em mistério.

Em 1782 os irmãos Robert e Philip Boone construíram a casa chamada ChapelWaite, em Preacher´s Corner, um vilarejo próximo a Jerusalem´s lot, fundado em 1741. Os irmãos eram descendentes de James Boon, o fundador da seita, mas não estavam cientes disso, apesar do sobrenome deixar isso bastante evidente.

Um dos irmãos, Philip, acaba se envolvendo diretamente com a seita e realiza alguns trabalhos para James, entre eles o de conseguir um exemplar do livro misterioso chamado “De Vermis Mysteriis” (“O mistério do verme” em tradução livre). O envolvimento de Philip com a seita causou desentendimentos entre ele e seu irmão Robert (uma desavença que duraria por gerações), que não concordava com a participação do irmão e via James como um líder religioso inveterado que manipulara seu irmão. Em 1789, James e seus seguidores desaparecem misteriosamente, pouco tempo depois de Philip ter conseguido o livro.

Em 1850 Charles Boone (neto de Robert Boone) e seu servo Calvin McCain, chegam em Chapelwaite, a casa ancestral negligenciada pelo falecido primo distante de Charles, Stephen, descendente direto de Philip e Robert. Em meio às suas explorações, eles encontram um diário onde é narrada a história de Jerusalem´s Lot e da misteriosa seita de James.

Em uma data desconhecida, em algum momento após a exploração de Boone e McCann, narradas no conto “Jerusalem´s Lot”, as pessoas começaram a habitar novamente a cidade, que teve um representante, Elias Jointner, nomeado para a Câmara dos Deputados em 1896, como narrado no romance “Salem”. Jerusalem´s Lot acabou, aos poucos, se tornando uma espécie de “lar” para coisas estranhas e assustadoras, apesar das histórias antigas terem acabado virando lendas na boca dos moradores locais.

Curiosidades

O conto “Jerusalem´s Lot”, onde conhecemos um pouco mais sobre a misteriosa cidade, funciona basicamente como uma prévia do romance “Salem´s Lot” (“Salem” no Brasil) e a história é narrada em forma de epístolas, seguindo os moldes de outra história bastante conhecida, “Drácula” de Bram Stoker. O próprio Stephen King admitiu que o romance “Salem´s Lot” surgiu com a ideia de como seria se o famoso Conde Drácula reaparecesse nos dias atuais. Entretanto, esteticamente falando, apesar de ter sido inspirado por e ainda guardar semelhanças com a obra de Stoker, há claras referências ao universo de outro famoso autor de histórias de terror, no qual Stephen King se inspirou e do qual era leitor fervoroso; Howard Phillips Lovecraft.

As conexões

Além da própria ambientação de Lot ser bastante semelhante às cidades narradas por Lovecraft em seus diversos contos, o nome de um dos personagens é Yog-Sothoth. No universo de Lovecraft Yog-Sothoth é uma entidade cósmica de inigualável poder, um dos chamados “Antigos”, mencionado pela primeira vez no conto “O caso de Dexter Ward”.

Uma das coisas que mais incomoda Charles em Chapelwaite são os barulhos que eles ouvem durante a noite, que eles acreditavam ser de ratos andando nas paredes. Um dos contos mais conhecidos de Lovecraft se chama “The rats in the walls” (“Os ratos nas paredes”, em tradução livre).

No conto há ainda a menção a um grimório (livro que contém ensinamentos tidos como mágicos ou sobrenaturais) chamado “De Vermis Mysteriis”, nos mesmos moldes do famoso livro criado por Lovecraft, o “Necronomicon”. O livro fictício foi criado pelo prolifico escritor norte-americano de histórias de horror e ficção cientifica Robert Bloch (autor do livro “Psicose”, que deu origem ao filme homônimo de Hitchcock) e posteriormente integrado aos chamados “Mitos de Cthulhu”, uma série de histórias que ajudaram a enriquecer o universo de Lovecraft. Lovecraft foi uma espécie de “mentor” de Bloch, que foi um dos primeiros a fazer parte do “Circulo de Lovecraft”, um grupo de autores que tinha por premissa expandir o universo criado por Lovecraft, após a sua morte.

Outra referência sútil; No final do conto de King é revelado que o avô de Charles, Robert Boone, teve dois filhos bastardos e que um deles vive em Rhode Island. Lovecraft nasceu e morreu em Providence, uma cidade deste mesmo estado, além de ter ambientado muitas de suas histórias lá.