It, A Coisa

Ficha técnica

Título Original: It
Título Traduzido: It, A Coisa
Ano de Publicação: 1986
Data de Publicação nos EUA: 15/09/1986
Personagens Principais: Bill Denbrough, Ben Hascon, Beverly Marsh, Mike Hanlon, Stanley Uris
Cidade da História: Derry
Estados da História: Maine
Adaptações: It: Uma Obra-Prima do Medo (1990), It – A Coisa (2017), It – A Coisa, Capitulo 2 (2019)
Derivados: Welcome to Derry (2025)
Disponível no Brasil pelas Editoras:Francisco Alves (1987); Objetiva (2000; 2006); Planeta DeAgostini (2004); Editora Suma (2014)

Sobre o livro

O ano é 1958, e algumas crianças de Derry começam a desaparecer. Um grupo de amigos percebe que um ser monstruoso, que assume várias formas, especialmente a de um palhaço, é o responsável pelos assassinatos. Juntos, eles se unem para combater a criatura, jurando que se conseguirem derrotar o Palhaço Parcimonioso, e ele algum dia voltar a Derry, eles deverão se unir novamente, para porem um fim definitivo ao reinado de horror da Coisa.

Resenha

Publicado em 1986, It: A Coisa é, ao mesmo tempo, uma obra-prima do terror e uma análise pungente dos traumas que moldam a infância e a vida adulta. Stephen King constrói uma narrativa que transcende o horror tradicional ao mergulhar nos recessos mais sombrios da mente humana e das dinâmicas sociais, criando uma história que assombra tanto pela monstruosidade explícita quanto pela vulnerabilidade emocional dos personagens.

A história alterna entre duas linhas temporais – os anos 1950 e os anos 1980 – em que um grupo de amigos, autodenominado “O Clube dos Otários”, enfrenta uma entidade maligna conhecida como A Coisa. Esta criatura, que se manifesta de diferentes formas para explorar os medos mais profundos de suas vítimas, é emblematicamente representada pelo palhaço Pennywise, uma figura que se tornou um ícone do terror na cultura popular.

King organiza a trama como um mosaico, entrelaçando flashbacks e o presente, o que reflete a própria estrutura da memória: fragmentada, emocionalmente carregada e, muitas vezes, distorcida. Essa abordagem permite ao leitor experimentar, junto aos personagens, o peso do trauma infantil carregado para a vida adulta, bem como a luta para recuperar a coragem perdida com o passar do tempo.

Em It, King usa A Coisa como uma metáfora para o medo universal e para os horrores do crescimento. Pennywise não é apenas um monstro literal, mas também uma personificação dos traumas que perseguem as pessoas ao longo da vida – abuso, violência, bullying e negligência. Esses medos são particularmente intensos na infância, quando o mundo ainda é um lugar cheio de forças incontroláveis.

Derry, a cidade fictícia onde a história se passa, é um microcosmo de podridão moral. A cidade, quase um personagem em si, guarda segredos sombrios e uma complacência coletiva diante da violência. Esse pano de fundo reforça a ideia de que o mal não é apenas uma força externa, mas algo cultivado pela apatia e pela falta de ação.

O “ritual de Chüd”, a batalha final entre os protagonistas e A Coisa, é um simbolismo de confrontar a mortalidade e os próprios demônios internos. Ao contrário de uma vitória tradicional, a derrota de A Coisa depende da união, da aceitação das fraquezas e da capacidade de enfrentar o desconhecido – elementos fundamentais do amadurecimento.

A obra também funciona como uma alegoria sobre o ciclo de abuso e o impacto intergeracional do trauma. Cada membro do Clube dos Otários tem sua luta particular: Bill enfrenta a culpa pela morte do irmão; Beverly sofre abuso doméstico; Eddie é dominado por uma mãe superprotetora; e Mike carrega o peso do racismo sistêmico. Essas histórias pessoais são universais, mostrando como os medos e as dificuldades da infância podem moldar a psique de uma pessoa.

Além disso, King aponta como a sociedade frequentemente ignora ou normaliza a violência, especialmente quando esta afeta os mais vulneráveis. A passividade dos adultos em Derry diante dos assassinatos de crianças é uma crítica à falta de empatia e responsabilidade coletiva.

O que torna It uma leitura tão marcante é a profundidade com que King desenvolve seus personagens. Cada membro do Clube dos Otários é apresentado com uma complexidade emocional que faz o leitor se importar profundamente com suas jornadas. As interações do grupo – tanto na infância quanto na vida adulta – são carregadas de humor, dor e esperança, criando um contraste poderoso com os horrores que enfrentam.

Embora o livro seja longo, sua densidade serve ao propósito de imergir o leitor em uma experiência completa. Os detalhes minuciosos de King, que alguns poderiam considerar excessivos, ajudam a criar um senso de lugar e história que tornam Derry e seus habitantes incrivelmente reais.

It: A Coisa não é apenas um livro de terror, mas uma obra abrangente sobre amizade, coragem e as cicatrizes que carregamos do passado. Ele assombra não apenas por sua monstruosidade explícita, mas pela forma como nos obriga a confrontar nossos próprios medos – tanto aqueles que herdamos quanto os que criamos.

Stephen King transforma o terror em uma ferramenta para explorar a psique humana e os laços que nos unem, resultando em uma narrativa tão assustadora quanto profundamente comovente. It é, sem dúvida, um dos trabalhos mais ambiciosos e impactantes de sua carreira.

Curiosidades

  • O livro levou cinco anos para ser escrito.
  • A cidade fictícia de Derry, onde se passa a história, aparece em várias outras obras de King, como Insônia e Saco de Ossos. É inspirada em Bangor, cidade natal de King no Maine.
  • Stephen King escolheu o palhaço como a forma principal de A Coisa porque acreditava que palhaços já eram naturalmente assustadores para muitas pessoas.
  • A Coisa é descrita como uma entidade cósmica originada no Macroverso. Ela é antagonista direta da Tartaruga (Maturin), uma entidade benigna que também aparece na saga A Torre Negra.
  • King foi inspirado pela mitologia e pela espiritualidade indígena ao criar o Ritual de Chüd, que mistura elementos de batalha mental e misticismo.
  • Com cerca de 1.138 páginas em sua primeira edição, It é uma das obras mais longas de King, perdendo apenas para Sob a Redoma (Under the Dome).
  • A cena do assassinato de Adrian Mellon foi baseada em um caso real de homofobia que ocorreu em Bangor, Maine, nos anos 80.
  • Assim como A Coisa, outras criaturas de King, como o “homem de preto” e os lobos de Calla, também possuem origens no Macroverso, mostrando como os universos de King estão conectados.
  • A polêmica cena em que os membros do Clube dos Otários compartilham um momento sexual na infância foi escrita para simbolizar a transição da infância para a vida adulta. No entanto, ela gerou muitas críticas e permanece controversa até hoje.
  • Embora A Coisa adote várias formas ao longo do livro, sua forma verdadeira é descrita como “luzes mortas” ou uma entidade quase impossível de ser compreendida pelos humanos.
  • King admitiu que a concepção de A Coisa foi influenciada pela obra de H.P. Lovecraft, especialmente no que diz respeito a entidades cósmicas e inumanas.
  • King escreveu It durante um período em que estava refletindo sobre sua própria infância e o impacto do crescimento nos medos que enfrentamos ao longo da vida.

Referências Locais

  • Gatlin, palco de “As Crianças do Milharal”, do livro Sombras da Noite, é mencionada.
  • Hemingford Home Nebraska, também é mencionada, locação que aparece no conto “O Último Degrau da Escada”, presente no mesmo livro; no romance A Dança da Morte; e na noveleta “1922”, da antologia Full Dark, No Stars.
  • Mike Hanlon justifica a falta de crime no Texas devido à água. Vemos aí a semente do conto “O Fim da Confusão Toda”, do livro Pesadelos e Paisagens Noturnas: Volume I.
  • Beverly menciona Frank Dodd, personagem de A Zona Morta.
  • Haven, cidade principal de Os Estranhos, é mencionada.

Referências a Personagens

  • Num flashback, o pai de Mike Hanlon fala sobre um colega de guerra chamado Dick Hallorann, trata-se do mesmo personagem de O Iluminado.

Referências Narrativas

  • O carro que dá carona a Henry Bowers é um Plymouth Fury 1958 vermelho e branco, igualzinho a Christinie.

Assuntos Recorrentes

  • O personagem principal é um escritor, Bill Denbrough quer ser um escritor quando crescer.
  • Violência doméstica, o marido de Bev Marsh é abusivo e termina mal.
  • Humor usado para derrotar o mal, Bill diz a seus amigos que Pennywise pode ser derrotado por piadas e enigmas.

Menções e Referências em Outros Livros

  • No conto “Matéria Cinzenta”, do livro Sombras da Noite, um dos personagens diz que seu colega enlouqueceu ao ver uma aranha do tamanho de um cachorro nos bueiros em que trabalhava. Pela comparação de tamanhos, vê-se que não há relação direta com A Coisa, mas dá pra perceber que já em 1973 (ano em que o conto foi publicado pela primeira vez, na revista Cavalier), King já tinha uma quedinha por aranhas gigantes em esgotos.
  • Na série A Torre Negra há um robô apelidado de Gago Bill.
  • Em O Apanhador de Sonhos, quando estão perseguindo o Sr. Cinza, Henry e Duddits passam por um monumento construído em homenagem aos “Perdedores”, com uma pichação nela dizendo “Pennywise Vive”.
  • Em Duma Key, na página de permissões de uso de direitos autorais está a música “Dig’ by Shark Puppy”, de R. Tozier e W. Denbrough.
  • Paul Sheldon, de Angústia, foi vizinho de Eddie Kaspbrak na infância.
  • Em A Torre Negra Vol. 3 Terras Devastadas, Eddie e Susannah estão a caminho do Cradle quando os Pubes os atacam (por assim dizer). Uma vez que eles mataram alguns, os Pubes param, mas um deles insiste. Ele é descrito como “… careca, exceto por duas mechas de cabelos crespos, um de cada lado. Para Susannah, esse sujeito parecia o Clarabell, o Palhaço; para Eddie parecia Ronald McDonald…” Em It – A Coisa, George vê Pennywise no ralo e acha que ele parece “…como um cruzamento entre Bozo e Clarabell…” e diz que se ele estivesse vivo um ano depois, “…ele teria certamente pensou em Ronald McDonald antes de Bozo ou Clarabell”. E Pennywise é descrito como tendo “…tufos de cabelo ruivo engraçados em cada lado da cabeça careca…” Acredito que o homem da turba que Eddie atira é Pennywise, ou uma versão dele.
  • Dizem que a verdadeira forma do Rei Rubro é uma aranha, como Mordred Deschain. Em IT – A Coisa, a forma mais verdadeira de Pennywise que vemos é uma aranha, seu maior inimigo é uma Tartaruga, como o Maturin, A Tartaruga, e pode mudar de forma, sugerindo que o Rei Rubro e Pennywise são da mesma raça.
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