Duma Key

Ficha técnica
Título Original: Duma Key
Título Traduzido: Duma Key (2009 – Presente)
Ano de Publicação: 2008
Páginas: 665 (Edição de 2011 – Editora Suma)
Data de Publicação nos EUA: 22/01/2008
Personagens: Edgar Freemantle, Xander Kamen, Jerome Wireman, Elizabeth Eastlake
Conexões: A Torre Negra, A Coisa
Personagens Citados: Bill Denbrough, Richie Tozier
Disponível no Brasil pelas Editoras: Objetiva (2009), Editora Suma (2011), Ponto de Leitura (2014)
Sobre o livro
Após um terrível acidente que arranca o braço direito e sua mão, Edgar Freemantle se encontra totalmente devastado, tanto física quanto psicologicamente. Seu psicólogo o aconselha a procurar um tratamento geográfico, que o leva à ilha de Duma Key. Mas o que ele não sabe é que a tal ilha não é um lugar comum, e através de um dom (ou maldição?) recém-descoberto, Edgar descobrirá que os arrepiantes segredos de Duma Key podem trazer a morte de todos aqueles que ama.
Resenha
Duma Key, de Stephen King, é uma obra profundamente introspectiva que mescla horror, redenção e os mistérios do processo criativo. Publicado em 2008, o romance explora a interseção entre trauma, memória e arte, revelando como a criatividade pode ser tanto uma bênção quanto uma maldição. A história acompanha Edgar Freemantle, um empresário que, após um grave acidente de trabalho que lhe custou o braço direito e deixou sequelas cognitivas, se muda para a ilha de Duma Key, na costa da Flórida, para reconstruir sua vida. Lá, ele descobre um talento inesperado para a pintura, mas seus trabalhos artísticos começam a revelar um poder sobrenatural e um passado sombrio que ameaça consumir tudo ao seu redor.
O coração do livro está na jornada de Edgar para reencontrar a si mesmo. Sua perda física e emocional é uma metáfora para a fragilidade da identidade humana. O acidente não apenas mutila seu corpo, mas também desestabiliza sua percepção de quem ele é, um tema frequentemente explorado por King. A transição de Edgar de um homem de negócios prático para um artista visionário é um símbolo do poder transformador do trauma, que pode tanto destruir quanto reconfigurar a essência de uma pessoa. Em Duma Key, a arte funciona como um canal para expressar sua dor, mas também como uma porta de entrada para forças além de sua compreensão.
A ilha de Duma Key é mais do que um cenário; é uma personagem em si, impregnada de uma energia misteriosa que intensifica os dons criativos de Edgar e conecta o presente ao passado trágico do local. King descreve a paisagem de forma quase onírica, com praias vermelhas e a presença constante do mar, elementos que simbolizam tanto beleza quanto perigo. O mar, em particular, é uma metáfora recorrente para o inconsciente e o fluxo incontrolável da criatividade, sugerindo que a inspiração artística pode ser tão avassaladora quanto uma onda quebrando. Ao mesmo tempo, a ilha carrega o peso de sua história: os segredos enterrados, as tragédias esquecidas e as forças ancestrais que permeiam suas areias.
A relação entre Edgar e Wireman, um homem enigmático que também busca refúgio em Duma Key, é um dos aspectos mais ricos da narrativa. Wireman, com seu próprio histórico de perda e dor, funciona como um espelho para Edgar, mostrando que o sofrimento pode ser compartilhado e que a amizade pode ser uma âncora em tempos de turbulência emocional. O vínculo entre os dois homens é central para o desenvolvimento de Edgar, oferecendo momentos de humor, reflexão e vulnerabilidade que humanizam ainda mais os personagens.
As pinturas de Edgar, que começam como uma expressão catártica de sua dor, logo se tornam um elemento central da trama. Suas obras têm o poder de alterar a realidade, revelando um vínculo inquietante entre a criatividade e a destruição. Esse conceito reflete a ambiguidade inerente à arte, que pode ser tanto uma força de cura quanto uma fonte de terror. King utiliza essas pinturas como uma metáfora para a responsabilidade criativa: o que significa trazer algo ao mundo, e quais são as consequências de liberar forças que talvez não possamos controlar?
No núcleo sobrenatural da história está a figura de Perse, uma entidade malévola ligada à história sombria de Duma Key. Perse simboliza o lado destrutivo da criatividade e do poder, um lembrete de que nem toda inspiração é benigna. Sua influência sobre Edgar e os outros habitantes da ilha destaca o equilíbrio precário entre criação e devastação, sugerindo que a arte, quando usada sem cautela, pode se transformar em um instrumento de caos.
O tema da memória também é explorado de forma brilhante em Duma Key. Edgar, que sofre lapsos de memória após seu acidente, luta para reconstruir não apenas sua vida, mas também seu senso de continuidade e identidade. Duma Key, com seus segredos enterrados, ecoa essa luta, servindo como um símbolo para as verdades que escondemos de nós mesmos e as memórias que escolhemos esquecer. A interação de Edgar com o passado da ilha reflete sua própria jornada de autodescoberta, mostrando que enfrentar nossos demônios, tanto internos quanto externos, é essencial para a cura.
King enche o texto de simbolismos sutis, desde o uso do vermelho nas descrições da paisagem até o papel do mar como um elo entre o consciente e o inconsciente. O braço perdido de Edgar é um símbolo constante de sua luta entre o controle e a impotência, enquanto a arte funciona como um meio de recuperar o controle perdido, mesmo quando ameaça consumi-lo. A relação entre o trauma e a criatividade, um tema recorrente em outras obras de King, é explorada aqui com uma profundidade emocional que ressoa longamente após o término da leitura.
Embora Duma Key apresente os elementos de horror que se tornaram característicos de Stephen King, é também uma obra profundamente humana e introspectiva. É uma história sobre perda, resiliência e a luta para encontrar significado em meio ao caos. Com sua mistura de terror sobrenatural, personagens complexos e uma exploração rica de temas como arte, memória e identidade, Duma Key destaca-se como um dos trabalhos mais maduros e reflexivos de King, reafirmando sua habilidade de combinar o extraordinário com o profundamente humano.
Referências de Personagens
- Edgar divide seu sobrenome com Abagail Freemantle, a profeta do bem do romance A Dança da Morte.
- Edgar compartilha suas habilidades com o personagem Patrick Danville, visto em Insônia e A Torre Negra. Ambos têm a habilidade de trazer as coisas que pintam à vida.
- A banda “Shark Puppy” não é real. Os membros creditados dela são R. Tozier e W. Denbrough; tratam-se de Richard Tozier e William Denbrough, protagonistas do romance A Coisa.
- Apesar de ter uma qualidade feminina, Perse é descrita de forma similar ao Rei Rubro.
Referências Narrativas
- O email de Edgar é EFree19, e o de Pam é Pamorama667 e o seu agente imobiliário é SmithRealty9505. Ambos possuem o número 19 (6+6+7=19, (9+5+5=19), o número místico da série A Torre Negra.
- A tempestade “Alice” ocorreu em 1927, o que totaliza 19.
- Edgar faz uma metáfora sobre o “ka”, dizendo que “a vida é como uma roda”.
- A soma dos números do quarto de hotel em que ficam Pam e Edgar também dá 19.
- O vôo que Edgar leva para a Flórida é o voo 559 (5+5+9 =19)
- O nome da filha de Edgar, Ilse Marie Freemantle tem 19 letras.
- Há uma leve referência ao feito realizado por Andy Dufresne (embora não se fale exatamente sobre ele) sobre “usar a ponta de uma colher para cavar as paredes de uma prisão”. Já Andy, usou uma picareta em miniatura.
- Edgar se refere a si mesmo como um “pistoleiro” (pg 433).
- Nan Melda perde dois dedos da mão direita na praia, o que também acontece com Roland Deschain no início de A Escolha dos Três.
Assuntos Recorrentes
- Rosas como uma força do bem, uma das principais obras de Edgar é “Rosas Crescem das Conchas”, e várias pinturas de Edgar são de rosas, referência direta à saga A Torre Negra, a ex-mulher de Edgar tatuou uma rosa no seio.
- Alguém é iluminado, pois nunca é explicitamente declarado, mas parece que tanto Wireman quanto Elizabeth Eastlake tem/tiveram um toque de brilho.
- Charley the Lawn Jockey (pg 568) compartilha o nome de Charlie, o Choo Choo, e a raiz “char”, que significa morte, também ecoou quando Edgar pensa em ter pessoas sentadas no “char” quando ele tem que pensar de lado para dizer ” cadeira”.