Depois

Ficha técnica
Título Original: Later
Título Traduzido: Depois
Ano de Publicação: 2021
Páginas: 256 páginas (Editora Suma)
Data de Publicação nos EUA: 10/09/2019
Personagens: Jamie Conklin, Tia Harriet, Sadie
Conexões: –
Personagens Citados: –
Adaptações: –
Sobre o livro
James Conklin não é uma criança comum: ele vê gente morta. Com que frequência? Jamie não sabe bem; afinal, os mortos em geral se parecem muito com os vivos. Exceto pelo fato de que eles ficam para sempre nas roupas em que morreram, e são incapazes de mentir.
Sua mãe implora para que ele mantenha essa habilidade em segredo, o que não é problema na maior parte do tempo. Pelo menos até Liz Dutton, a companheira de sua mãe e detetive do Departamento de Polícia de Nova York, aparecer na saída da escola e anunciar que precisa de ajuda.
É assim que Jamie embarca em uma corrida para desvendar o último segredo de um falecido terrorista, e começa a jornada mais assustadora de sua vida.
Resenha
Depois é uma obra de Stephen King que se afasta um pouco das grandes dimensões narrativas a que o autor nos acostumou, mas, ainda assim, carrega as marcas do seu estilo inconfundível: um mergulho nas complexidades da psique humana, repleto de metáforas poderosas e uma análise das escolhas morais que definem a vida das pessoas. Em Depois, King utiliza uma história aparentemente simples sobre um garoto com o dom de ver os mortos para abordar temas profundos como a perda, a culpa, o luto e a responsabilidade de saber quando usar o poder, mesmo quando este poder parece irresistível.
O protagonista, Jamie Conklin, é um adolescente que, ao longo da trama, descobre que tem a habilidade de ver os mortos – não como espectros aterrorizantes, mas como figuras comuns, com os quais ele consegue interagir. Essa habilidade, que poderia facilmente ser explorada como mais um elemento sobrenatural, é tratada com um tom muito mais introspectivo e existencial. O que King faz aqui é explorar as implicações éticas e emocionais desse poder. A visão dos mortos, mais do que um recurso para um mistério ou para momentos de terror, torna-se uma metáfora para o luto e para a maneira como lidamos com a morte e com os arrependimentos de nossa vida.
A metáfora central do livro é justamente o poder de ver o que não está mais presente, o que já se foi, e a forma como essa visão pode interferir na vida de quem a tem. Jamie, em sua juventude, não tem a maturidade emocional para lidar com esse dom, e sua jornada é marcada pelo desconforto de ser capaz de acessar o além, mas ao mesmo tempo ser incapaz de processar emocionalmente essas experiências. Ele se vê como um intermediário entre o mundo dos vivos e o dos mortos, e isso cria um vazio existencial que permeia toda a história.
Esse confronto com a morte e a perda é simbolizado por uma série de momentos ao longo do livro, em que o garoto se depara com a fragilidade humana. Cada morte que ele testemunha ou “enxerga” em sua forma mais crua reforça a ideia de que a morte é uma parte inevitável da vida, mas também traz uma reflexão sobre o que permanece após ela. As interações com os mortos, embora inicialmente desconcertantes, servem como uma espécie de espelho, refletindo os próprios sentimentos de Jamie sobre a perda de entes queridos, mas também sobre o medo de sua própria morte, de sua própria finitude.
A conexão com a ética e a moralidade é um aspecto crucial da obra. Ao longo do livro, Jamie é confrontado com a tentação de usar seu poder para manipular a realidade, para tirar vantagens das situações, especialmente quando ele se vê frente a situações de vida ou morte que envolvem pessoas que ele ama. O simbolismo da escolha e da responsabilidade perpassa toda a obra, e o autor coloca Jamie em uma posição onde ele deve aprender que, por mais que tenha o poder de ver o que está além da vida, não pode usá-lo como uma ferramenta para resolver tudo. O poder, em Depois, se torna um fardo, uma responsabilidade moral que força o protagonista a confrontar suas próprias limitações.
A questão da culpa é outro tema importante em Depois. A habilidade de Jamie de se comunicar com os mortos não vem sem preço, e, à medida que ele cresce e lida com as consequências de suas ações, ele é constantemente assombrado pela ideia de que poderia ter feito mais, poderia ter agido de outra maneira, poderia ter salvado mais vidas. Essa culpa, que é uma forma de autossabotagem, funciona como uma metáfora para as lutas internas que todos enfrentamos diante das escolhas que fazemos, e como, muitas vezes, é difícil lidar com o fato de que nossas escolhas têm ramificações que vão além do que podemos imaginar.
Outro aspecto que é profundamente relevante no livro é a forma como King lida com a ideia de redenção. Ao longo da trama, as escolhas de Jamie revelam que a redenção não vem através do poder ou da manipulação, mas sim por meio da aceitação e da compreensão da vida e da morte como partes integradas de uma experiência humana. O próprio Jamie, ao contrário de outros personagens da obra, tem que aprender que as coisas que são irremediáveis, as perdas que não podem ser evitadas, devem ser aceitas com coragem e sem a tentativa de controlar o incontrolável.
Ao explorar a morte e as emoções humanas em torno dela, King também utiliza elementos de horror psicológico. Porém, em vez de simplesmente causar medo, o autor provoca uma reflexão mais profunda, levando o leitor a questionar suas próprias crenças sobre o que acontece após a morte e como a morte influencia as vidas dos que ficam. O fato de Jamie ser capaz de ver os mortos não faz com que ele se torne imune ao sofrimento ou à perda, mas o coloca em uma posição de vulnerabilidade, onde ele é obrigado a lidar com o impacto emocional das mortes que testemunha e da relação que mantém com o além.
Em suma, Depois é um livro que, embora centrado em um elemento sobrenatural, trata de temas universais e profundos que dizem respeito à vida, à morte, ao arrependimento, ao luto e à aceitação. King, como sempre, usa suas habilidades para criar um ambiente rico em atmosferas sombrias e realistas, mas, acima de tudo, cria uma obra que desafia o leitor a refletir sobre como lidamos com o que perdemos, e como o medo do que não podemos controlar é, muitas vezes, mais poderoso do que qualquer força sobrenatural.
Curiosidades
- King comentou: “Eu amo o formato de ‘Hard Case Crime’ e esta história, ela reúne um menino que pode ver coisas além do nosso mundo com elementos cruéis de crime e suspense, se encaixa como um punho.”
- O livro será publicado inicialmente em brochura com capa de Paul Mann; uma edição limitada de capa dura virá mais tarde com duas novas capas de Gregory Manchess: uma capa para o próprio livro e uma capa para um romance de ficção no romance que desempenha um papel essencial na trama.
- Após 2005 e 2013, um novo King aparece a cada 8 anos no formato “Hard Case”.
Referências Locais
- O bloco de apartamentos em que Kenneth Therriault morava lembra Jamie da prisão de Shawshank; o nome do filme Um Sonho de Liberdade é mencionado.
Referências Narrativas
- O escritor Regis Thomas escreve sobre a saga Roanoke, e a misteriosa palavra Croatoan também é mencionada. Ambos vinculam o romance ao roteiro ou ao filme A Tempestade do Século, a não ficção Danse Macabre e o romance Os Estranhos.
- O 19 ocorre várias vezes:
- Thumpers 19º bombardeio mata primeiro .
- O código seguro de Donald Marsden é 7-3-6-1-2, soma de verificação 19 .
- O pino no telefone celular de Liz Dutton é 2-6-6-5, novamente a soma cruzada 19 .
- O professor Marty Burkett conhece o ritual Chüd, que ele recomenda a Jamie durante sua luta contra Kenneth Therriault. Este ritual desempenha um papel muito central na luta contra Pennywise em IT – A Coisa..
- Jamie também vê as luzes mortas; eles assumem o falecido Kenneth Therriault, que então assombra Jamie. “Deadlights” é representado aqui com “death lights” (veja também problemas de conexão em alemão).
Assuntos Recorrentes
- Alguém é Iluminado, Luke tem a habilidade de ver e falar com os mortos.