Conto de Fadas

Ficha técnica

Título Original: Fairy Tale
Título Traduzido: Conto de Fadas
Ano de Publicação: 2022
Páginas: 624 (Editora Suma)
Data de Publicação nos EUA: 06/09/2022
Personagens: Charlie Reade, Howard Bowditch, Radar e Christopher Polley
Conexões: A Torre Negra, Zona Morta, Cujo, O Talismã
Disponível no Brasil pelas Editoras: Editora Suma (2022)

Sobre o livro

Charlie Reade parece um garoto normal do ensino médio, ótimo no beisebol e no futebol americano, um estudante decente. Mas ele carrega uma carga pesada. Sua mãe foi morta em um acidente quando ele tinha dez anos, e a tristeza levou seu pai a beber. Charlie aprendeu a cuidar de si mesmo e de seu pai. Então, quando Charlie tem dezessete anos, ele conhece Howard Bowditch, um homem recluso com um cachorro grande em uma grande casa no topo de uma grande colina. No quintal há um galpão trancado de onde surgem sons estranhos, como se alguma criatura estivesse tentando escapar. Quando o Sr. Bowditch morre, ele deixa a casa de Charlie, uma enorme quantidade de ouro, uma fita cassete contando uma história que é impossível de acreditar e uma responsabilidade grande demais para um menino arcar.

Porque dentro do galpão há um portal para outro mundo, onde os habitantes estão em perigo e cujos líderes monstruosos podem destruir seu próprio mundo e o nosso. Neste universo paralelo, onde duas luas correm pelo céu, e as grandes torres de um extenso palácio perfuram as nuvens, existem princesas e príncipes exilados que sofrem punições horríveis; há masmorras; há jogos em que homens e mulheres devem lutar entre si até a morte para a diversão da “Bela”. E há um relógio de sol mágico que pode voltar no tempo.

Uma história tão antiga quanto um mito e tão surpreendente e icônica quanto o resto do trabalho de King, Fairy Tale é sobre um cara comum forçado a assumir o papel de herói pelas circunstâncias, e é espetacularmente cheio de suspense e satisfatório.

Resenha

Conto de Fadas é uma obra que nos leva a uma jornada profundamente humana, embrenhada nas sombras e luzes de um universo paralelo. A trama segue Charlie Reade, um adolescente comum que, após a morte de seu pai, se vê imerso em uma realidade onde o extraordinário se torna tangível. King, conhecido por sua habilidade de misturar o fantástico e o real, usa este livro para criar uma história de crescimento pessoal, coragem e sacrifício, ao mesmo tempo em que explora as complexidades do bem e do mal, de forma quase mítica.

O elemento central da narrativa é o portal para o mundo de Another World, que Charlie encontra na casa de um idoso, o Sr. Bowditch. Essa porta, que parece ser um eco dos portais míticos de outras obras de fantasia, serve como uma metáfora da jornada do herói, mas de uma maneira inovadora. Em vez de um jovem chamado a salvar o mundo, Charlie é um garoto comum, lidando com perdas pessoais e tentando compreender seu lugar no mundo, enquanto se vê diante de forças maiores que ele. A travessia para o mundo alternativo e o que ele descobre lá são símbolos de crescimento e amadurecimento, de como as grandes batalhas da vida nem sempre acontecem no plano físico, mas também no emocional e psicológico.

King, com sua habitual destreza, utiliza o conceito de herói e vilão de maneira complexa. Ao contrário de muitas histórias em que os papéis de herói e vilão são claros, Conto de Fadas explora a dualidade dessas figuras. O próprio Sr. Bowditch é um personagem que simboliza a perda e a sabedoria obtida através da dor, e ao mesmo tempo, o mundo paralelo revela suas próprias regras de moralidade, onde o bem e o mal se confundem e não são absolutos. Essa ambiguidade é uma das maiores forças do livro, já que ela nos força a refletir sobre as escolhas que fazemos e sobre os sacrifícios que estamos dispostos a realizar.

O mundo de Another World é uma fantasia sombria que remete às antigas histórias de cavaleiros, monstros e magias. No entanto, King infunde esse mundo com uma sensação de perigo iminente, sempre à espreita, o que torna a jornada de Charlie não apenas uma aventura épica, mas também uma travessia existencial. Ele se vê lutando contra criaturas e forças que, em muitos aspectos, refletem as próprias dificuldades da vida real, como a perda, a solidão e a busca por identidade. O autor trabalha com o simbolismo de que, embora o mundo de fantasia seja um reflexo do real, ele também amplifica as emoções e dilemas que as personagens enfrentam, oferecendo uma maneira mais direta e pura de lidar com seus medos e desejos.

Uma analogia importante no livro é a da “escada” ou “porta” que liga os dois mundos. Ao atravessar essa fronteira, Charlie não está apenas se deslocando fisicamente, mas também entrando em uma fase de sua vida onde os dilemas que enfrentará se tornam mais graves e complexos. A porta é, assim, uma metáfora para o amadurecimento e para a perda da inocência, algo que é exposto de maneira contundente nas escolhas de Charlie. Cada passo que ele dá no mundo fantástico é também um reflexo do crescimento interior, de como ele lida com o medo, a coragem e os sacrifícios necessários para salvar aqueles que ama.

Ao longo da trama, o autor também faz uma crítica sutil à natureza humana e aos sistemas que regem a sociedade. A luta de Charlie contra as forças malignas de Another World pode ser lida como uma metáfora para os desafios que enfrentamos no mundo real, onde as instituições e normas muitas vezes se tornam forças opressivas que devemos enfrentar para alcançar nosso próprio senso de liberdade e justiça. O vilão, neste caso, não é apenas uma entidade externa, mas uma representação das dificuldades universais que todos enfrentamos, como a corrupção, a crueldade e a falta de empatia.

Conto de Fadas também tem algo de introspectivo, pois leva o leitor a refletir sobre o papel das escolhas individuais em um mundo onde o destino parece ser ditado por forças além do controle. A história propõe que, mesmo em um cenário onde o fantástico parece dominar, ainda são as ações pessoais e os valores morais que moldam o futuro. Essa visão de que nossas ações, mesmo em meio a forças aparentemente imparáveis, têm impacto, oferece uma camada de esperança e redenção.

A escrita de King é mais uma vez notável, fluída e envolvente. Seu estilo inconfundível, capaz de manter o suspense e ao mesmo tempo permitir momentos de profundidade emocional, é a chave para que o livro seja não apenas uma obra de fantasia, mas também uma meditação sobre a vida, o crescimento e os desafios que definem nossa jornada. Em Conto de Fadas, ele nos apresenta uma história onde, apesar das dificuldades e das forças aparentemente insuperáveis, é o coração e as escolhas humanas que, em última análise, determinam o curso das coisas.

Referências Narrativas

  • O número 19, famoso número místico da série A Torre Negra, aparece varias vezes durante o livro:
    • Bowditch recebeu 19 Mil Dólares de desconto na conta do hospital.
    • O nome de um dos usuários do twitter é BullGay19.
    • Bowditch achou o poço dos mundos em 1919 na colina Sycomre.
    • Charlie fala que o piso do poço dos mundos era como paralelepípedos de Londres dos filmes de século XIX
  • Quando Charlie veste o coldre do Bowditch, ele menciona que era um pistoleiro de araque, outra obvia referência a Roland Deschain, o pistoleiro de A Torre Negra.
  • É mencionada a revista Inside View, tabloide fictício presente em romances como A Zona Morta e Joyland.
  • A Famosa saudação de Roland é falada durante a narrativa. “Longos Dias e Belas Noites” mas a tradução foi feita de forma nova.
  • Cláudia profere o seguinte frase: “Empis… Arabella… há outros mundos além deste”. Esta frase é muito famosa e conhecida aos leitores da saga A Torre Negra.

Assuntos Recorrentes

  • O personagem principal é um escritor, no início do livro Charlie Read, narra que é um escritor.
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