Belas Adormecidas

Ficha técnica

Título Original: Sleeping Beauties
Título Traduzido: Belas Adormecidas
Ano de Publicação: 2017
Páginas: 728 páginas (Editora Suma)
Data de Publicação nos EUA: 26/09/2017
Personagens: Evie Black, Lacey, Clint, Moth
Conexões:
Personagens Citados:
Disponível no Brasil pelas Editoras: Editora Suma (2017)

Sobre o livro

Em um futuro, é real e perto disso pode ser agora, algo acontece quando as mulheres vão dormir; eles ficam envoltos em uma gaze parecida com um casulo. Se eles forem despertados, se a gaze que envolve seus corpos for perturbada ou violada, as mulheres se tornarão ferozes e espetacularmente violentas; e enquanto dormem eles vão para outro lugar. Os homens do nosso mundo são abandonados, deixados para os seus dispositivos cada vez mais primitivos. Uma mulher, no entanto, a misteriosa Evie, é imune à bênção ou maldição da doença do sono. É Evie uma anomalia médica a ser estudada, ou ela é um demônio que deve ser morto?

Resenha

Belas Adormecidas é uma colaboração entre Stephen King e seu filho Owen King, e embora o livro compartilhe o estilo inconfundível de King, ele também revela novas camadas de complexidade, particularmente no que diz respeito à análise das relações humanas, poder, gênero e controle. A obra mistura elementos de ficção científica, horror e drama social, criando uma narrativa que é tanto uma distopia quanto uma reflexão sobre os desafios contemporâneos. Com sua trama centrada em um estranho fenômeno que afeta as mulheres, fazendo com que caiam em um sono profundo e imutável, o livro se desvia das convenções do horror, explorando um território onde o sobrenatural é apenas uma parte do quadro maior de uma crise social, política e pessoal.

O sono das mulheres serve como uma metáfora para a forma como a sociedade, historicamente, tem silenciado as mulheres ou as tem mantido em papéis passivos. À medida que as mulheres caem em um sono profundo, as que permanecem acordadas, os homens, enfrentam uma realidade em que as estruturas de poder estão ameaçadas. Em uma interpretação mais profunda, o sono das mulheres pode ser visto como uma alegoria para a repressão das vozes femininas e o apagamento de suas existências. A metáfora do sono sugere também o desejo da sociedade de manter as mulheres “adormecidas” ou subjugadas, incapazes de lutar por si mesmas ou de desafiar os valores estabelecidos.

Ao longo da obra, a relação entre as personagens femininas que permanecem acordadas e os homens que tentam controlá-las é central. O isolamento das mulheres, que de repente ficam à mercê de homens que agora têm um poder incomum sobre elas, reflete as dinâmicas de poder de gênero. Em uma sociedade em que as mulheres ficam à margem de suas próprias histórias, o fenômeno descrito no livro é uma forma de ressaltar o efeito opressor e silencioso das expectativas sociais. Nesse sentido, Belas Adormecidas pode ser lido como uma crítica ao patriarcado, evidenciando como ele manipula e controla as mulheres, não só no nível físico, mas também psicológico.

Os personagens principais – como Lacey, uma das poucas mulheres que se recusa a cair no sono, e Clint, um homem que observa o colapso da ordem social – são portadores de simbolismos importantes. Lacey, com sua resistência, é uma figura de rebelião, simbolizando a luta das mulheres por autonomia e liberdade. Sua persistência em resistir ao sono é uma analogia à luta por reconhecimento e à rejeição do conformismo. Por outro lado, Clint, com sua postura confusa e imposta de proteção, representa a fragilidade do sistema patriarcal que depende da manutenção do controle. A interação entre eles e com os outros personagens simboliza as tensões que surgem quando as normas sociais e de gênero são quebradas, forçando as pessoas a repensar suas ações e o lugar que ocupam.

Há também um simbolismo evidente na maneira como o “sono” das mulheres é descrito. O sono não é apenas uma condição física; ele se torna uma metáfora para as várias formas de alienação. Ao serem privadas de sua agência e da capacidade de agir, as mulheres no livro estão sendo forçadas a se tornar espectadoras de um mundo que não lhes pertence mais. Isso se conecta diretamente com a sensação de impotência que muitas mulheres experienciam nas sociedades patriarcais, onde suas vozes e direitos muitas vezes são marginalizados.

O livro também toca em questões mais amplas relacionadas à perda de controle e à fragilidade das instituições sociais. A queda da ordem estabelecida – representada pelo desespero dos homens, que começam a mostrar seu lado mais primitivo e violento – reflete a desintegração das normas que sustentam qualquer sociedade. King e Owen King exploram como os sistemas de poder se baseiam no controle das mulheres e, quando este controle começa a falhar, o caos se instala. A cidade que desmorona sob a pressão do que resta de seus pilares sociais e econômicos serve como um reflexo de como o colapso da ordem moral pode resultar na anarquia e na destruição.

A obra também pode ser lida como uma reflexão sobre a dependência das sociedades modernas das mulheres, não apenas no aspecto reprodutivo ou doméstico, mas também no papel que elas desempenham dentro da economia e da cultura. Quando as mulheres deixam de ser participantes ativas na sociedade, os homens começam a perceber, tardiamente, o impacto de sua ausência. Esse é outro nível de simbolismo que está presente no livro, pois traz à tona a importância do equilíbrio e da igualdade de gênero, sugerindo que a sociedade não pode sobreviver sem a contribuição significativa de todos os seus membros, independentemente de seu sexo.

A mistura de terror psicológico e elementos de ficção científica na narrativa de Belas Adormecidas é uma característica típica das obras de Stephen King, mas neste livro a tensão está menos na ameaça física do que na desintegração das estruturas sociais e emocionais. O horror vem da revelação de como a sociedade, quando privada de seus elementos fundamentais, pode se tornar um lugar de desespero e caos. É interessante como a história reflete um tipo de horror mais introspectivo, onde o real medo não é o sobrenatural, mas as consequências de um mundo descontrolado.

Em suma, Belas Adormecidas não é apenas uma história de terror; é uma crítica ao status quo, uma meditação sobre o poder e a resistência, e uma reflexão profunda sobre o papel das mulheres na sociedade. Ao usar o horror como uma forma de questionar a dinâmica de gênero, King e Owen King criam uma obra multifacetada que desafia os leitores a refletirem sobre questões sociais e individuais, enquanto mantém a tensão e o suspense que marcam a assinatura do autor.

Referências Locais

  • Em Dooling há uma loja Gomart de Zoney. Outra dessas lojas mencionada na trilogia de Bill Hodges; ambas são uma alusão de King aos romances de Kelly Braffet.

Referências Culturais

  • O toque de Clinton Norcross é Hey Jude, uma música que aparece frequentemente em A Torre Negra.
  • Maura Dunbarton fornece aos presos livros, incluindo Peter Straub e Joe Hill.

Referências Narrativas

  • Quando Jared Norcross aprende sobre a doença do sono Aurora, ele se sente como se tivesse sido lançado em outro mundo, como em O Talismã e a Casa Negra.
  • Semelhante a Randall Flagg, as mãos de Evie Black não possuem digitais e são completamente suaves. Além disso, ela, como ele, pode flutuar alguns centímetros acima do solo.
  • As cenas em que Evie Black aterroriza os outros de sua cela com seu conhecimento do impossível, são fortemente reminiscentes das ações de Andre Linoge em A Tempestade do Século.
  • Semelhante à Sob a Redoma e Cujo, onde parte do enredo é descrito a partir da perspectiva de um animal, no caso uma raposa.
  • Terry Coombs na sua última noite de prisão pensou “Foda-se essa merda”, que é o lema do personagem Jimmy Gold dos livros de John Rothstein de Achados e Perdidos.
  • Similar a Big Jim em Sob a Redoma, Frank Geary se torna um homem particularmente implacável e forte.
  • A esposa de Kinsman Brightleaf se chama Susannah, como Susannah Dean, dos livros A Torre Negra.
  • O Tempo em Dooling é diferente do que em outras, isso lembra o mundo chave do ciclo Torre Negra, onde o tempo também não flui como nos outros mundos.
  • Alfred Freeman mora na rua Eldridge Street, número 19, citação ao número importante na mitologia da Torre Negra.
  • A tropa de policiais e voluntários de Frank Geary consiste em 19 homens, outra citação ao número místico na mitologia da Torre Negra.
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