A Incendiária (1980)
Ficha técnica
Título Original: Firestarter
Título Traduzido: A Incendiária
Ano de Publicação: 1980
Data de Publicação nos EUA: 29/09/1980
Personagens Principais: Charlene McGee, John Rainbird, James Hollister, Andrew McGee, Irv Manders
Adaptações: Chamas da Vingança (1984) – Chamas da Vingança (2022)
Derivados: Vingança em Chamas (2002)
Disponível no Brasil pelas Editoras: Record (1980); Livros do Brasil (1985); Círculo do Livro (1986); Editora Suma (2018)
Sobre o livro
Quando eram jovens, os pais de Charlie McGee passaram por uma experiência científica que lhes deu poderes sobrenaturais. A pequena Charlie, é claro, herdou de seus pais o DNA modificado. Charlie possui o dom da pirocinesia, ou seja, o poder de atear fogo apenas com a força da mente. Porém, uma organização ultra-secreta americana, conhecida como “A Oficina”, deseja controlar Charlie para usá-la como uma arma. Tem início uma fuga desesperada dos McGee por todo o país norte-americano em busca de um lugar seguro.
Crítica
A década de 1950 trouxe mudanças para todo o mundo com o surgimento da ficção cientifica (sci-fi). Com o tempo, as narrativas com conceitos mirabolantes, experimentos em seres humanos e até mesmo aliens, entrou no gosto do público e se tornou um dos gêneros mais lucrativos em qualquer mídia. Nos anos 80, o nosso amado mestre lançava o seu mais novo livro, que ia de desencontro ao gênero o qual ele tinha se tornado famoso, o terror. A história de uma criança que nasceu com poderes, por ser fruto de pais que fizeram parte de experimentos e que tem que viver fugindo, cativou a todos e mostrou que o mestre não era bom escrevendo apenas horror.
“A Incendiaria”, até o ano passado, era um livro que pertencia ao hall dos livros raros do King e, graças a Suma de Letras, foi relançado aqui no Brasil, na coleção “Biblioteca Stephen King”. Com isso, o público mais jovem e que não tinha tanto dinheiro ou tempo para adquirir a versão mais rara, como eu, teve acesso e se maravilhou com este ótimo sci-fi.
O livro se inicia com a jovem Charlie Mcgee e seu pai, Andy Mcgee, fugindo de alguns agentes da organização do governo conhecida como “A Oficina” que, por alguma razão, quer capturar os dois. Logo descobrimos que Andy e Vic, mãe de Charlie, foram cobaias de um experimento realizado por esta agência e com isso eles ganharam estranhos poderes. O que chama a atenção da Oficina é o nascimento da Charlie, que nasce com o dom da pirocinese, a capacidade de gerar e controlar o fogo com o poder da mente.
Aqui King utiliza o artificio de flashbacks para montar o plano de fundo do enredo, enquanto avança na história da perseguição entre os personagens. Este artificio, quando bem empregado, pode ser uma maneira interessante de explorar o passado dos personagens, sem necessariamente precisar começar desse ponto e King, que já fez uso desse recurso em vários dos seus livros e contos, sabe muito bem como utilizá-lo, prendendo a atenção do leitor sem entregar todos os detalhes do enredo de uma vez, atiçando ainda mais nossa curiosidade e instigando-nos a descobrir o que acontecerá na página seguinte.
É interessante vermos a relação de pai e filha, entre Charlie e Andy, e como as restrições impostas à garotinha pelos pais e a eventual quebra destas, por conta da situação em que eles estão, afeta a história e o nível de poder de Charlie. O impacto que isso causa na frágil mentalidade dela deixa a garota exposta a manipulações e, particularmente pensando, me levou a questionar: “o que aconteceria se esta menininha “quebrasse” por conta destas situações que ela viveu?” ou ainda “ o que aconteceria se, por causa disso, ela criasse desprezo pela humanidade?”
A Oficina, como um todo, se mostra como um excelente grupo de antagonistas, principalmente quando John Rainbird aparece, e realmente traz aquela sensação de ameaça que é necessária para uma história dessas. A manipulação feita por Rainbird na fragilizada Charlie e a obsessão que isso cria nele, movem a segunda parte do livro e auxiliam no processo de construção e da profundidade que os personagens vão ganhando no decorrer do livro. O medo do Andy, como pai, de perder a filha para a agencia que tanto os caçou, é a cereja do bolo para uma história que emana sci-fi a cada página e ainda assim carrega aquela essência de um King clássico.
A Incendiária é um excelente livro e, graças à Suma de Letras, ganhou uma edição à altura de sua excelência. Uma ótima ficção científica e uma brilhante história de “gato e rato”. Como nem tudo são flores, acabou ganhando uma adaptação bem mediana e uma sequência pior ainda, que não chega aos pés do seu material de origem. Como sempre digo, se é livro do King, então você deve ler. Vale cada segundo, pode confiar.
Curiosidades e referências
- Concorreu ao British Fantasy Award em 1981.
- A cantora de folk, Julia Ecklar, inspirou-se no romance para compôr a letra de uma de suas canções, “Daddy’s Little Girl”.
- No posfácio de uma das edições da HQ de A Torre Negra, King diz que A Incendiária seria um romance ideal para ser transformado numa HQ, entretanto, ele não sabe como anda a questão dos direitos.
- O número 19 é o numero místico da série A Torre Negra. “A tempestade veio no dia 19 de agosto…”
- Patrick Hockstetter, um dos médicos do livro, também é um nome de um personagem de It – A Coisa. Entretanto, não são a mesma pessoa.
- Alguém é Iluminado, Charlie McGee pode mover coisas com sua mente e incendiar objetos espontaneamente, Andy McGee pode usar a hipnose para forçar sua vontade nas pessoas ou fazê-las perceber coisas que não estão lá e Vicky a habilidade é limitada a fechar portas com o pensamento ou ligar e desligar rádios.
Conexões
OS LANGOLIERS: “A Oficina” é mencionada em “Os Langoliers”, conto presente na coletânea “Depois da Meia-Noite”
OS ESTRANHOS: Após toda a agitação ter terminado em “Os Estranhos”, “A Oficina” veio para Haven para investigar.
O TALISMÃ: As Torres Rainbird, um complexo de condomínios em Nova York, são mencionadas em “O Talismã”. Rainbird é o nome do operativo do Grupo designado para Charlie McGee em “A Incendiária”.
Vídeos
Edições brasileiras
A primeira edição brasileira foi publicada em 1980 pela editora Record. A mais popular, com exceção da edição publicada em 2018 pela Editora Suma, provavelmente é a edição de 1986 da Círculo do Livro, já que é facilmente encontrada em livrarias de livros usados, geralmente em bom estado de conservação.