Love: A História de Lisey

Ficha técnica

Título Original: Lisey’s Story
Título Traduzido: LOVE: A História de Lisey (2008 – Presente)
Ano de Publicação: 2006
Páginas: 544 (Edição de 2012 – Editora Suma)
Data de Publicação nos EUA: 24/10/2006
Personagens: Lisa Landon, Scott Landon, Andy Clutterbuck, Zack McCool, Amanda Debusher
Conexões: A Coisa, Saco de Ossos, O Apanhador de Sonhos, A Torre Negra
Personagens Citados: Norris Ridgewick, Mike Noonan
Adaptações: A História de Lisey (minissérie de 2021 produzida pela Apple+)
Disponível no Brasil pelas Editoras: Objetiva (2008), Ponto de Leitura (2011), Editora Suma (2012)

Sobre o livro

Dois anos após ficar viúva, Lisey precisa organizar os papéis deixados pelo marido no escritório da casa isolada onde os dois moravam. Lisey descobre que está sendo perseguida por um psicopata que quer obrigá-la a passar as obras póstumas de seu marido ao editor. Enquanto tenta escapar desta ameaça, Lisey acaba adentrando o fantástico mundo paralelo de Boo’ya Moon, fonte da criatividade de seu estranho marido, bem como seu refúgio na infância.

Resenha

Love: A História de Lisey, de Stephen King, é uma obra profundamente íntima e emocional, que mescla horror psicológico, fantasia e uma intensa reflexão sobre o amor, o luto e a conexão entre duas almas. Publicado em 2006, o romance é considerado uma das narrativas mais pessoais de King, inspirado por sua própria relação com sua esposa, Tabitha King, e pelas reflexões provocadas por um episódio de saúde quase fatal que ele enfrentou anos antes. Nesse livro, King não apenas cria um conto sobre perdas e segredos, mas também explora as camadas complexas de um casamento longo e profundo.

A história acompanha Lisey Landon, viúva de Scott Landon, um aclamado escritor com um passado tão brilhante quanto sombrio. Dois anos após sua morte, Lisey é forçada a enfrentar não apenas o legado literário e os segredos de seu marido, mas também suas próprias memórias e traumas, quando se depara com uma série de eventos que a empurram para um mundo fantástico e perigoso chamado Boo’ya Moon. A narrativa oscila entre a realidade e esse reino onírico, criando uma metáfora pungente para o espaço onde os artistas buscam inspiração e para o refúgio emocional que construímos para escapar das dores do mundo.

A relação entre Lisey e Scott é o coração da história e, ao mesmo tempo, uma metáfora para a dualidade do amor: um lugar de segurança e vulnerabilidade, mas também de desafios e sacrifícios. King transforma o casamento em uma espécie de terreno mágico, um espaço onde dois indivíduos aprendem a compartilhar não apenas suas alegrias, mas também seus demônios mais sombrios. A habilidade de Scott de visitar Boo’ya Moon pode ser interpretada como uma metáfora para a criatividade, um dom que traz tanto inspiração quanto tormento. Esse mundo é um lugar de beleza e terror, um reflexo direto da complexidade da mente criativa e do impacto que ela pode ter sobre aqueles ao seu redor.

Lisey, como protagonista, representa a força silenciosa que muitas vezes é negligenciada em histórias de amor. A jornada dela não é apenas para compreender Scott, mas para se redefinir fora da sombra de seu marido. Ao longo do livro, Lisey emerge como uma personagem profundamente multifacetada: uma mulher que foi sustentáculo e confidente de um homem brilhante, mas também alguém que descobre sua própria força e identidade enquanto enfrenta ameaças do passado e do presente.

O tema do trauma é central na narrativa, tanto para Lisey quanto para Scott. Os flashbacks revelam a infância brutal de Scott, marcada por abusos e violência, e como essas experiências moldaram sua vida adulta e sua arte. Boo’ya Moon, com sua dualidade de beleza e perigo, também simboliza os mecanismos de enfrentamento que criamos para sobreviver ao trauma, funcionando como um espaço psíquico onde memórias dolorosas e inspiração coexistem. Para Scott, é um refúgio; para Lisey, é um território desconhecido que ela precisa explorar para finalmente se libertar.

A obra também é rica em simbolismo e linguagens próprias, com King usando palavras e frases inventadas por Scott e Lisey como forma de ilustrar a intimidade única de seu relacionamento. Termos como “bool” e “smuck” não apenas criam uma linguagem compartilhada entre o casal, mas também servem como uma metáfora para os mundos internos que criamos em parcerias duradouras. Essa linguagem, estranha a outros, reforça o isolamento e a exclusividade de sua conexão.

A inspiração na própria vida de King é evidente. Ele já declarou que a ideia para o romance surgiu após sua hospitalização em 1999, quando retornou para casa e encontrou Tabitha reorganizando seu escritório. Essa imagem de sua esposa lidando com seus pertences o fez refletir sobre como seria se ele tivesse morrido. A profunda devoção de King a Tabitha transparece na maneira como Lisey é retratada: como uma mulher forte, resiliente e essencial na vida de Scott. A relação entre os dois personagens ecoa a complexidade e a profundidade de um casamento real, incluindo seus altos e baixos, e o impacto duradouro que um parceiro pode ter sobre o outro.

Os elementos de horror em Love não estão apenas em Boo’ya Moon ou nas ameaças externas, mas também na exploração dos medos mais íntimos: perder quem amamos, enfrentar nosso passado e lidar com as consequências de nossas escolhas. Boo’ya Moon, com seu “mar de gritos” e o predador conhecido como Long Boy, encapsula o terror de encarar as profundezas de nosso inconsciente e o preço da criatividade e do amor.

Embora Love tenha recebido críticas mistas à época de sua publicação, sua força reside em sua profundidade emocional e em sua habilidade de misturar gêneros para criar algo único. King transforma a história de Lisey em uma meditação sobre o poder do amor, a importância da memória e a resiliência que encontramos em nós mesmos quando confrontados com a perda. É um livro que desafia expectativas ao oferecer não apenas terror, mas também esperança, mostrando que, mesmo nos momentos mais sombrios, há beleza e significado na conexão humana.

Curiosidades

  • Concorreu ao World Fantasy Award, em 2007.
  • A Editora Objetiva/Suma preferiu seguir os passos da editora alemã, e batizar o livro com o pré-título de “LOVE”.

Referências Locais

  • Durante a narrativa Landon “Sparky” trabalha em uma fabrica de Gesso em Lisbon Falls. Mesma cidade que alguns fugitivos da prisão Shawshank foram recapturados e que Jake Epping mora e leciona no inicio de Novembro de 63. Que também é mencionada Xerife Bannerman em A Zona Morta.
  • No fim do livro, é descoberto que Dooley mora em Shooter’s Knob, Tennessee. Na noveleta “Janela Secreta, Secreto Jardim”, um dos personagens diz ser proveniente de Shooter’s Knob.
  • Enquanto segue para casa de sua irmã Amanda, Lisey passa pela estrada Deep Cut, locação em que Henry e Pete se acidentam, em O Apanhador de Sonhos.
  • Numa discussão sobre hospitais, um certo “Kingdom Hospital” é mencionado.
  • É mencionado que um personagem usa um souvenir do Lago Dark Score, locação de Saco de Ossos.
  • Derry Home, o hospital em Derry, e o Arcadia Mental Health (um hospício, também de Derry) são mencionados.

Referências de Personagens

  • A irmã de Lisey, Darla, diz que possui uma fita cassete de uma história de Michael Noonan, protagonista de Saco de Ossos.
  • Referências narrativas
  • Um poema escrito por King na época da faculdade e mencionado por Jack Torrance, em O Iluminado, é mencionado por Lisey (“Os argumentos contra a loucura caem por terra com um leve farfalhar”.).
  • Lisey compara sua memória à “grande torre do tempo”. Ela também menciona Gilead. A frase “Bool! The End” aparece no livro A Torre Negra – Volume IV: Mago e Vidro.
  • A placa do BMW de Lisey é 5761RD, e os números somados dão 19 (número místico da série), e RD, é claro, são as iniciais de Roland Deschain.

Assuntos Recorrentes

  • Um dos personagens principais é um escritor, Scott Landon é talvez o personagem mais parecido com Stephen King (mais ainda do que Thad Beaumont em The Dark Half). Ele escreve uma série de romances best-seller, ganha o National Book Award eo Pulitzer Prize. um amor por sua esposa que sobrevive por muito tempo após sua morte – em parte, graças à sua escrita.
  • Um dos personagens principais tem um cônjuge morto, a história de Lisey é sobre o como ela está lidando com a perda de seu marido, Scott Landon.
  • Evidência de que a realidade é fina, Scott Landon pula para um lugar chamado Boo’ya Moon regularmente.
  • Lisey chama a polícia esperando falar com o xerife Norris Ridgewick, mas quem atende é o assistente Andy Clutterbuck. Sua existência no livro é no mínimo curiosa, já que no epílogo de Trocas Macabras, é dito que Andy faleceu pouco tempo depois dos eventos da história, ao se afogar.
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