À Espera de um Milagre

Ficha técnica
Título Original: The Green Mile
Título Traduzido: O Corredor da Morte (1996); À Espera de um Milagre (2000 – Presente)
Ano de Publicação: 1996
Páginas: 400 (Edição de 2013 – Editora Suma)
Data de Publicação nos EUA: 28/03/1996
Personagens: Paul Edgecomb, John Coffey, Brutus Howell, Percy Wetmore, Eduard Delacroix
Conexões: –
Personagens Citados: –
Adaptação: À Espera de um Milagre (1999)
Disponível no Brasil pelas Editoras: Objetiva (1996); Objetiva (2000); Planeta DeAgostini (2004); Ponto de Leitura (2010); Editora Suma (2013)
Sobre o livro
Nos anos 30, John Coffey, um gigantesco negro, é condenado injustamente à cadeira elétrica pelo assassinato de irmãs gêmeas, e vai para a prisão de Cold Mountain, esperar pelo dia de sua execução. O simpático e amedrontado homem aos poucos conquista a afeição dos guardas do presídio, que começam a desconfiar da culpa dele. E depois de descobrirem do que John Coffey é realmente capaz, suas vidas nunca mais serão as mesmas.
Resenha
À Espera de um Milagre (The Green Mile), de Stephen King, é uma obra profundamente tocante que combina elementos do sobrenatural com uma análise emocional e filosófica do sistema de justiça, da natureza humana e da mortalidade. Publicado originalmente em formato de série em seis partes ao longo de 1996, o romance transcende os limites do horror tradicional de King ao explorar os corredores sombrios de uma prisão nos anos 1930 e a relação entre vida e morte.
A história é narrada por Paul Edgecombe, um antigo chefe do Bloco E – o “corredor da morte” – da Penitenciária de Cold Mountain. A narrativa de Paul alterna entre o presente, quando ele vive em um asilo refletindo sobre sua vida, e o passado, marcado pela chegada de John Coffey, um prisioneiro negro injustamente condenado pelo assassinato de duas meninas brancas. Coffey, um homem de aparência imensa e assustadora, é rapidamente revelado como um ser extraordinariamente bondoso e dotado de habilidades milagrosas, desafiando as percepções iniciais de todos ao seu redor.
Um dos elementos mais notáveis do romance é o simbolismo em torno de John Coffey. Seu nome, que ecoa as iniciais “J.C.”, é uma alusão direta a Jesus Cristo, e sua capacidade de curar doenças e absorver a dor dos outros reforça essa conexão messiânica. Coffey não é apenas uma figura redentora; ele é também um espelho que reflete os pecados, preconceitos e injustiças do mundo ao seu redor. Sua condenação injusta é uma metáfora poderosa para o sofrimento dos inocentes e as falhas sistêmicas da justiça, particularmente em um contexto racial.
O corredor da morte, onde grande parte da história se passa, é um espaço saturado de simbolismo. Conhecido como “a milha verde” devido à coloração do chão, ele representa a jornada final de cada prisioneiro em direção à execução. A cor verde, frequentemente associada à vida e à esperança, contrasta ironicamente com o destino mortal daqueles que atravessam o corredor. Essa dualidade reflete o tema central do romance: a coexistência de luz e escuridão, de esperança e desespero, no coração da experiência humana.
Paul Edgecombe, como narrador, é tanto um observador quanto um participante na história. Seu arco emocional e moral é central para o impacto do livro, pois ele luta com questões de autoridade, compaixão e culpa. Ao longo da narrativa, Paul confronta não apenas os horrores do sistema de justiça, mas também suas próprias limitações como ser humano. Ele se torna um intermediário entre os prisioneiros e o inevitável, uma figura que tenta humanizar um processo intrinsecamente desumano.
As interações entre os guardas e os prisioneiros no Bloco E são um microcosmo das complexidades da moralidade humana. Enquanto alguns, como Paul e seus colegas Brutus e Harry, buscam tratar os prisioneiros com dignidade, outros, como Percy Wetmore, representam o abuso de poder e a crueldade sem remorso. Percy, sobrinho de um político influente, personifica a impunidade e a corrupção, destacando as desigualdades do sistema prisional e da sociedade como um todo.
A execução de Delacroix e a subsequente morte de seu rato de estimação, Mr. Jingles, são momentos de profunda carga simbólica. O rato, uma criatura pequena e aparentemente insignificante, representa a capacidade de encontrar beleza e conexão em meio à brutalidade. Sua morte, assim como a de Delacroix, é um lembrete da inevitabilidade da perda e da fragilidade da vida.
O ato final do romance, a execução de John Coffey, é talvez o momento mais devastador e significativo. Paul e os outros guardas que acreditam na inocência de Coffey enfrentam um dilema moral insuportável: seguir a lei ou agir de acordo com sua consciência. A escolha de Coffey de não lutar contra seu destino – afirmando que está cansado da crueldade e do sofrimento que vê no mundo – ecoa temas de sacrifício e resignação. Sua morte, embora profundamente injusta, carrega um senso de propósito, como se ele estivesse escolhendo aliviar o sofrimento dos outros ao aceitar seu destino.
O título original, The Green Mile, também se conecta à jornada universal da vida em direção à morte. Assim como os prisioneiros do Bloco E, todos nós caminhamos por nossa própria “milha verde”, enfrentando nossas escolhas, nossos arrependimentos e, eventualmente, nossa mortalidade. O livro, em última análise, não é apenas uma crítica ao sistema de justiça ou uma exploração de poderes sobrenaturais; é uma meditação sobre o que significa ser humano em um mundo imperfeito.
Stephen King, em À Espera de um Milagre, demonstra sua habilidade única de infundir profundidade emocional e filosófica em uma narrativa aparentemente simples. O romance é uma obra de compaixão e introspecção, que convida o leitor a refletir sobre questões de moralidade, justiça e a capacidade de redenção. É uma história que transcende o horror, explorando as complexidades da alma humana e deixando uma marca duradoura na mente e no coração de seus leitores.
Curiosidades
- Concorreu e venceu na categoria de Melhor Romance, do Bram Stoker Award, em 1996.
- Inspirado por Charles Dickens, King resolveu publicar a história como um romance em série de 6 volumes, em brochura. Os volumes que dividem O Corredor da Morte são:
I – As Duas Meninas Mortas;
II – Um Rato no Corredor;
III – As Mãos de Coffey;
IV – A Morte Horrenda de Eduard Delacroix;
V – Excursão Noturnas;
VI – Coffey no Corredor.
- Em 1997, King relançou o livro em volume único, consertando alguns erros da edição em série. Em 2000, o livro foi publicado pela primeira vez em capa dura.
- No Brasil, a Editora Objetiva seguiu os mesmos exatos passos: primeiro publicou o romance em série, intitulado na época de O Corredor da Morte; na sua segunda edição, em brochura, o título mudou para Á Espera de um Milagre, título da adaptação para os cinemas de 1999. Em 2004, foi publicado em capa dura pela Planeta DeAgostini.
Referências Locais
- A uma possível menção aos Territórios quando Paul e sua turma estão trazendo John Coffey de volta para a prisão depois de curar Melinda, Paul fica surpreso ao ver que John não fez uma pausa e diz que pensou que ele teria ido para os Territórios. (Infelizmente essa referência se perdeu na tradução de M. H. C.Cortes).
Referências Narrativas
- Depois da primeira visita de Mr. Jingles a milha, Brutus pega o registro do visitante, e Dean pergunta o que ele acha que está fazendo. Brutal responde que ele está obedecendo à regra 19. É uma menção ao número 19, numero místico da série A Torre Negra.
- Em As Irmanzinhas de Eluria, Jenna (a única irmã que é boa) usa insetos para curar seus pacientes. E John Coffey (o único prisioneiro que é inocente) também pode curar, e quando ele faz isso, alguns insetos aparecem. Talvez ele conheça os segredos das Irmanzinhas de Eluria
- A localização Velha Fagulha, a cadeira elétrica, que está posicionada no canto sudeste da área de armazenamento. Mesma diração que o Katet de Roland Deschain segue durante sua busca a Torre Negra.
- Durante o flashback da caça às garotas raptadas: quando os cães rastreadores discordam em que direção seguir, William Warton foi para o nordeste ao longo do rio (na direção oposta ao ka-tet, e na mesma direção Walter vai depois de enganar Roland e chegar ao Mar Ocidental), enquanto John Coffey e os gêmeos estavam a sudeste. Me parece o tipo de conexão discutida por Roland e os chefes da Tet Corporation, uma espécie de mensagem do subconsciente de Stephen King.
Assuntos Recorrentes
- Alguém é Iluminado, John Coffey pode ler mentes, curar pessoas, sentir pessoas mortas e se comunicar telepaticamente, muito provavelmente John Coffey é um iluminado.
- O personagem principal é um escritor, Paul Edgecombe não é um escritor profissional, mas escreve meticulosamente suas memórias.
- O personagem principal tem um cônjuge morto, pois Paul lamenta a morte súbita de sua esposa Janice 40 anos antes.