Título Original: A Ascensão da Casa dos Mortos
Autor: Lemos Milani
Gênero: Terror/Suspense
Ano de Publicação: 2012
Páginas: 224
Personagens: Lindsay, Santiago, Julieta, Alexandre, Samara
ISBN: 978-85-64590-24-3
Disponível no Brasil pelas Editoras: Estronho (2012)
“Foi em julho, durante uma viagem em família, que o verdadeiro sentimento do medo surgiu. Apenas três pessoas e uma casa mostrarão a você leitor, que o mal não escolhe situação para agir. Esqueça a realidade, apague as barreiras da lógica. Espaço e tempo não passam de mera ilusão.”
Construída em 1853 a Mansão Morrigan, apesar de bela, é um lugar triste durante o dia. Durante a noite essa tristeza se intensifica, solidificando-se nas paredes recobertas de limo, nos corredores escuros, nas cercas naturais com arbustos de flores vermelhas, no ecoar das vozes misteriosas que ninguém sabe de onde vem, nos labirintos indecifráveis e nas várias estátuas que compõem essa paisagem bucólica, de aspecto gótico e caráter sobrenatural e marcante. Um lugar divino sob algumas perspectivas e demoníaco sob outras. É lá que se passa toda a narrativa do primeiro romance do jovem autor Lemos Milani.
A Ascensão da Casa dos Mortos conta a história da família do Juiz Alexandre, que após sofrer um AVC (Acidente Vascular Cerebral) decide, por intermédio de sua noiva Samara, tirar alguns dias de férias em um rústico casarão construído sobre as misteriosas terras serranas. Não demora para que estranhos acontecimentos (vultos, visões, sonhos perturbadores, e barulhos que ninguém sabe de onde vem) se desenrolem após a chegada da família na casa e cabe ao trio Lindsay, Julieta e Santiago tentarem desvendar o mistério que ronda aquela edificação de aspecto belo e ao mesmo tempo sombrio.
A primeira vista, um leitor mais desavisado pode pensar que se trata de mais um, entre os muitos romances sobrenaturais que abusam da temática de casas mal assombradas (temos inúmeros exemplos desse tipo de romance na literatura, como “Hell House” de Richard Matheson, “A Assombração da Casa da Colina” de Shirley Jackson e até mesmo “Rose Red”, roteiro que o próprio Stephen King escreveu direto para a tv) . Entretanto, bastam apenas algumas páginas para que o leitor se veja preso em uma verdadeira teia de acontecimentos aparentemente acidentais, que culminam com o momento crucial, a festa realizada por Samara, prevista para acontecer no 15º dia após a perturbada estadia dos novos moradores do casarão.
Mesclando uma breve explicação sobre o passado da mansão com histórias que envolvem o passado dos novos inquilinos, Milani, com um texto ágil, direto e divertido, sem muitas firulas literárias (o tipo de erro muito comum em novos autores, que em geral se aproveitam dos primeiros trabalhos publicados para “mostrarem serviço”), tece cenas de terror dignas de clássicos como “o iluminado” e “O exorcista” (não sei porque, mas a aparição da garotinha para Santiago só me fez lembrar de Regan e sua automutilação). Os momentos de tensão e calmaria são bem intercalados e a história se desenvolve aos poucos, enquanto o autor apresenta os personagens de modo a fazer com que nós, leitores, nos familiarizemos gradativamente com a história de vida deles, com seus anseios, desejos e principalmente com seus medos.
Apesar do Casarão ser o personagem principal, a cerne da narrativa encontra-se, como já citei anteriormente, nos conflitos pessoais dos personagens, mais precisamente na personagem de Julieta, filha do Juiz Alexandre, cujo passado esconde alguns fatos tão interessantes quanto macabros e importantíssimos para o desenvolvimento e o desfecho da história (que, por sinal, foge drasticamente dos clichês que estamos acostumando a ver nos livros ou nos filmes com essa temática).
Outro ponto que achei bastante interessante foi a divisão da narrativa em dias, ao invés de capítulos, propriamente ditos, além da exploração propositalmente exagerada dos sentimentos dos personagens, num nível mais profundo de consciência (como quando é narrado o desespero de Santiago ao se deparar com a cena do incêndio no hall principal da casa, por exemplo). São detalhes pequenos, mas que colaboraram (pelo menos na minha humilde concepção de leitor) para tornar os fatos ali narrados bem mais verossímeis. Em determinados momentos, apesar da narração em terceira pessoa, me senti como se estivesse lendo os acontecimentos registrados em um diário, por exemplo, ao invés de um livro.
Uma última, (mas não menos importante) observação que eu gostaria de fazer (e eu gosto sempre de falar sobre isso, quando falo sobre algum livro da Editora Estronho) é a questão da diagramação. Sei que não devemos jamais julgar um livro pela capa, mas não tem como não elogiar o trabalho do Titio Estronho que dessa vez, como sempre, deu um show a parte nesse quesito. Com belíssimas imagens de estátuas, tanto na capa quanto na contracapa, sobrepostas por um sutil efeito “grunge” de camadas, o livro consegue passar visualmente toda a angústia imaginativa que o autor passou com seu texto.
“A Ascensão da Casa dos Mortos” é um passeio agradável e ao mesmo tempo perturbador ao fascinante universo sobrenatural que envolve a Mansão Morrigan e seus antigos (e novos) moradores. Um convite ao terror que você, amante da literatura fantástica, não pode perder.
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Sobre o autor: Lemos Milani nasceu na cidade do Rio de Janeiro, em 1991, e atualmente reside em Nova Iguaçu. Não cresceu cercado por livros, mas começou a perceber o valor da literatura ainda cedo – felizmente. Seus escritores preferidos permeiam entre o clássico e o contemporâneo, tendo um papel extremamente importante na formação de seu estilo literário. Não possui gênero fixo de escrita, embora prefira construir seus textos em caráter simbólico e crítico.
Professor de Língua Portuguesa e Literatura, graduado em Letras pela UEG (Universidade Estadual de Goiás), pós-graduado em arte/educação pela UFG, viciado em literatura de terror/suspense, amante incondicional de séries e Hq´s e fã de carteirinha do mestre Stephen King desde 1996.