Cujo (1981)
Ficha técnica
Título Original: Cujo
Título Traduzido: Cujo
Ano de Publicação: 1981
Data de Publicação nos EUA: 08/09/1981
Personagens Principais: Família Camber: Joe e esposa, filhos Charity e Brett; Família Trenton: Vic, Donna e Tad; Frank Dodd; Gary Pervier.
Cidade da História: Castle Rock
Estados da História: Maine
Adaptações: Cujo (1983)
Disponível no Brasil pelas Editoras: Editora Record (1982) – Editora Suma (2016)
Sobre o livro
A história se desenrola na pacata cidade de Castle Rock, onde a família Trent vive uma vida tranquila até que o cão da raça São Bernardo, Cujo, é mordido por um morcego e contrai raiva. O que inicialmente parece ser uma situação controlável se transforma em um pesadelo quando Cujo se torna violento e ameaçador.
A narrativa se desdobra principalmente em torno de Donna Trent, uma mulher que, junto com seu filho Tad, fica presa em seu carro no quintal da casa dos Camber, a família dona do cão raivoso. Enquanto lutam pela sobrevivência, Donna enfrenta não apenas a ameaça iminente de Cujo, mas também seus próprios demônios internos.
King utiliza “Cujo” para explorar temas como isolamento, desespero e a natureza imprevisível do mal. O livro mergulha profundamente na psicologia dos personagens, proporcionando uma experiência intensa e angustiante para os leitores, enquanto eles acompanham a batalha desesperada pela sobrevivência contra um inimigo que antes era apenas um animal de estimação amigável.
Crítica
De todos os livros de Stephen King, Cujo foi o único livro que li duas vezes, a primeira há quinze anos e a segunda para escrever esta resenha. E, deus meu, como este livro é cruel.
Na abertura são apresentadas diversas figuras conduzindo vidas desesperadas. Vic Trenton e Roger Breakstone estão quase que a perder sua agência de propaganda, devido a um incidente envolvendo um de seus clientes. A esposa de Vic, Donna, está envolvida em um gélido caso extraconjugal, tentando terminá-lo. Tad, o filho do casal, está sendo perseguidos por pesadelos sobre um monstro dentro do armário. Charity Camber, no outro lado da cidade, vive com medo de seu marido bêbado, e seu filho, Brett, tem ataques de sonambulismo. E tem o tal do Cujo, o enorme São Bernardo de Camber, que acabou de contrair raiva.
“Eu disse a você que eles iriam embora, Tad. É o que sempre fazem, afinal. E é aí então que eu volto. Eu gosto de voltar. Gosto de você, Tad. Acho que agora vou voltar todas as noites e cada vez estarei mais perto de sua cama… um pouco mais perto…. até que chegará a noite em que, antes que possa gritar, você ouvirá uma coisa rosnando bem pertinho de sua cama, Tad, e essa coisa serei eu, que saltarei e comerei você, então, passará a estar dentro de mim.”
Uma abertura deprimente, porém, rapidamente tudo se torna mais favorável. Vic e Roger descobrem um jeito de salvar a agência. Donna decide terminar seu caso extraconjugal, sentindo-se mais independente e aliviada. Charity Caamber ganha na loteria, dinheiro suficiente para tirar férias com seu filho. E, praticamente do nada, o universo volta a conspirar contra todas essas figuras. Vic descobre que a sua mulher o estava traindo, e por este e outros motivos, ele acaba perdendo a chance de reviver sua agência. Charity descobre que suas férias não são como ela pensava. E tem o tal do Cujo, o elemento mais aleatório e letal jogado dentro dessa equação.
A partir deste momento tudo dá errado. Cujo começa a fazes suas primeiras vítimas, Donna sai de casa com seu filho Tad em direção à casa de Camber, enquanto o seu amante Kemp, revoltado pelo término da relação, resolve se vingar. Tudo isso parece acontecer gratuitamente demais, pois se não fosse pela reação exagerada de Kemp, Vic teria percebido bem antes que sua mulher e filho estavam desaparecidos e algo estava errado. E tudo isso nas primeiras 200 páginas do livro.
“Aquele monstro que fugira de seu closet. Junto dos ratos não havia monstros.”
As últimas cem páginas estão focadas no desespero de Donna e Tad dentro do Ford Pinto. Cujo ataque, Cujo recua. Nas últimas passagens, Cujo fica perigosamente excitante, um clima de beco sem saída, onde qualquer coisa pode acontecer.
A agência de propaganda de Vic e Roger tem um slogan que melhor representa o livro: “Não, nada de errado aqui.” Aqui temos o Stephen King sendo o mais irônico possível. Tudo dá errado em Cujo. O maior problema disso tudo é que, de todas as coisas que dão errado, a maioria delas poderiam ter sido evitadas. O fato de Vic e Camber estarem fora da cidade quando o Cujo resolve ficar raivoso. O carro de Donna enguiçando no melhor momento. Praticamente tudo.
Tudo isso faz de Cujo um livro inquietante. As caracterizações são estupendas, a escrita de King é certeira e direta. A tensão durante as cenas finais é um ótimo exemplo hiperbólico de um thriller. É somente a ordem em como as situações acontecem que talvez fruste um pouco a narrativa. Muitas coisas parecem aleatórias, tantas coisas que nós, leitores, sentimos uma “mão autorial” conduzindo as peças no tabuleiro. Algo bem similar aos livros lançados sobre a rubrica de Bachman. Embora não seja um problema per se, a falta de qualquer tipo de esperança ou fuga neste livro pode se tornar cansativa, em especial para os mais otimistas que não estão acostumados com enredos “bachnianos” demais (para mais informações sobre quem foi Bachman, consulte nossa página especial sobre ele, clicando aqui). Além do mais, existe um vago conceito sobrenatural, que corrompe um pouco do realismo presente no resto da narrativa. Como em outros livros de King (Achados e Perdidos ou o ainda inédito no Brasil The Girl Who Loved Tom Gordon) um pequeno tom sobrenatural parece inserido como que para garantir sua marca registrada, fugindo um pouco do escopo da história inicial.
Esses problemas são pequenos, é claro, diante do todo que o livro representa. Mesmo com essas falhas, Cujo ainda é uma leitura empolgante, aterrorizante e envolvente e, acima de tudo isso, cruel. Stephen King em sua melhor forma!
O ciclo de Castle Rock
O Ciclo de Castle Rock representa a correlação entre diversos livros e contos que se passam na fictícia cidade de Castle Rock, no Maine. O universo criado em torno da cidade de Castle Rock pode ser comparado com a mitologia da série a Torre Negra.
O Ciclo de Castle Rock é composto de doze histórias, sendo elas seis livros e seis contos. Outros contos e livros onde Castle Rock somente é mencionada não são considerados partes deste ciclo. Se todas as histórias forem lidas em ordem cronológica, elas vão contar o fascinante destino da pequena cidade.
Os protagonistas das diversas histórias passeiam de um livro para o outro. No último livro de Castle Rock, Trocas Macabras, King aprofunda a história de muitas personagens e traça o futuro de cada um. Por isso é possível que uma personagem que esteja viva em um livro acabe morrendo num próximo. Um bom exemplo é o xerife da cidade George Bannerman, que é apresentando em A Zona Morta, acaba sofrendo um final cruel em Cujo e é substituído por Alan Pangborn em Trocas Macabras.
A ordem cronológica do Ciclo de Castle Rock é a seguinte:
• Squad D (inédito em português)
• O Corpo (do livro Quatro Estações)
• A Zona Morta
• Cujo
• Nona (do livro Tripulação de Esqueletos)
• O Caminhão do Tio Otto (do livro Tripulação de Esqueletos)
• O Atalho da Sra. Todd (do livro Tripulação de Esqueletos)
• A Metade Negra
• O Cão da Polaroid (do livro Depois da Meia-noite)
• Trocas Macabras
• A Gente Se Acostuma (do livro Pesadelos e Paisagens Noturnas)
• Premium Harmony (do livro Baazar of Bad Dreams)
Outras histórias que não fazem parte do Ciclo, mas mencionam a cidade ou possuem personagens de Castle Rock:
• Rita Hayworth e a Redenção de Shawshank (Quatro Estações)
• O Jogo Perigoso
• The Girl Who Loved Tom Gordon
• Saco de Ossos
• A História de Linsey
• A Dança da Morte
• N.
• Blaze
Por esse motivo, uma boa parte da menções no livro Cujo serão de outras obras que fazem parte do Ciclo de Castle Rock. Logo nas primeiras páginas o final de A Zona Morta é recontado e algumas personagens voltarão. Eu recomendo ler a Zona Morta antes de encarar o Cujo, assim a experiência vai ser bem mais agradável.
Conexões e curiosidades
• Antes de Cujo ser publicado, um segmento da do livro apareceu na revista Ladies Home Journal em 1981 com o título de The Monster in the Closet. A história não é uma reprodução de um trecho do livro, mas um resumo de diversas seções do livro. Existem algumas diferenças textuais em relação ao livro e até mesmo algumas informações foram adicionadas.
• Uma edição limitada foi publicada pela cão Mysterious Press em 1981. 750 livros numerados e assinados por Stephen King foram vendidos a 75 dólares na época. O valor atual varia entre 700 e 900 dólares. Uma outra edição de 26 livros, que ao invés de números possuem letras, foi entregue para amigos e familiares de King. O valor atual alcança 1.600 dólares.
• Em dezembro de 1983, a Editora Record trouxe ao Brasil o Cão Raivoso, com tradução de Luiz Corção. Pela bagatela de 4.490 cruzeiros, o livro chegou à lista de mais vendidos do país, mesmo sendo “indicado para masoquistas.” Desde então tornou-se um livro raro, pois nunca mais foi publicado, até este ano, quando a Editora Suma de Letras republicou, em formato especial (capa dura e extras) na nova série de livros “Bilioteca Stephen King”, onde a editora pretende relançar vários livros esgotados do autor.
• Nas primeiras páginas do livro, diversas vítimas do assassino Frank Dodd no livro A Zona Morta são relembradas. Entre elas Carol Dunbarger, Cheryl Moody, Alma Frechette, Etta Ringgold
• O xerife George Bannermann ajuda Johnny Smith a resolver o caso em Zona Morta. Em Cujo, ele tenta ajudar Donna e Tad Trenton a escaparem do cão raivoso.
• Tad Trenton conta que fim levou Henrietta Dodd, a mãe de Frank Dodd, o assassino de A Zona Morta.
• Charity Camber é a esposa de Joe Camber, donos do Cujo. Em Trocas Macabras, Ace Merril tenta se lembrar o que aconteceu com Charity. Ele acredita que ela tenha se mudado e tenha vendido suas propriedades para seu tio Reginald Merril.
• No roteiro The General, Cujo caça o gato General durante o ínicio do episódio Olho de Gato.
• Pop Merrill recorda-se do São Bernardo Cujo no conto The Sun Dog, enquanto ele tira fotos de cães com a câmera misteriosa de Kevin Delevans.
• Alan Pangborn revive o Cujo como uma sombra, enquanto ele luta contra Leland Gaunt em Trocas Macabras.
• No conto The Body, Gordon Lachance diz que o cão de guarda do lugar é o cachorro mais bravo da região desde que Cujo pegou raiva.
• A certa altura do livro comenta-se em O Cemitério: “há dois anos atrás um cão São Bernardo contaminou-se com raiva na parte sul do estado e matou quatro pessoas…”. Nada mais do que o cão Cujo, de Cão Raivoso.
• Em Mr Todds Shortcut, o narrador menciona que os acontecimentos de Cujo ainda são relembrados pela população local.
• Em A Torre Negra VII, Bryan Smith reconhece Stephen King e diz adorar o livro com o são bernardo. Ao perguntar o nome do cachorro, King responde: “Cujo – Era uma palavra que Roland conhecia, uma palavra que Susan Delgado costumava usar quando os dois estavam sozinhos. Em Mejis, cujo significava “meu querido”.
• Os acontecimentos de Cujo e suas vítimas são relembrados em The Dark Half.
• Evvie Chalmers prevê o verão tórrido que acontece durante o Cujo. Ela também é relembrada em Trocas Macabras, The Sun Dog e The Body;
• Gary Pervier, uma das vítimas em Cujo é relembrado em Trocas Macabras e The Sun Dog.
Vídeos
Edições brasileiras
Cujo é um dos livros raros de Stephen King, que só foi publicado em duas ocasiões. A primeira delas foi em 1982, quando a Editora Record lançou o livro no Brasil com o título “Cão Raivoso”. O livro só voltaria para as bancas brasileiras, em uma nova edição, 33 anos depois da publicação original, pela Editora Suma.