O site especializado TorrentFreak noticiou essa semana que um arquivo com mais de 190 mil livros pirateados foi removido da Internet, esse arquivo estava sendo utilizado para treinar modelos de Inteligência Artificial(IA), e a noticia foi confirmada pelo criador do arquivo, o norte-americano Shawn Presser, que vê o caso como prejudicador do desenvolvimento de ferramentas de IA por pequenas empresas. O objetivo do Books3, que foi criado em 2020, não era ser usado por gigantes tecnológicas, a missão era dar aos internautas uma base de dados suficientemente grande para competir com gigantes online como a Google, a Microsoft e a OpenAI.
O arquivo continha obras de Stephen King, Zadie Smith, Rachel Cusk e Elena Ferrante estão entre milhares de autores cujas obras piratas foram usadas para treinar ferramentas de inteligência artificial, revelou um artigo do The Atlantic.
Mais de 170 mil títulos foram inseridos em modelos administrados por empresas como Meta e Bloomberg, de acordo com uma análise do “Books3”, o conjunto de dados aproveitado pelas empresas para construir suas ferramentas de IA.
O Books3 foi usado para treinar o LLaMA da Meta, um dos vários grandes modelos de linguagem – o mais conhecido deles é o ChatGPT da OpenAI, que pode gerar conteúdo com base em padrões identificados em exemplos de textos. O conjunto de dados também foi usado para treinar o BloombergGPT da Bloomberg, o GPT-J da EleutherAI e é “provável” que tenha sido usado em outros modelos de IA.
Os títulos contidos nos Livros3 são aproximadamente um terço de ficção e dois terços de não-ficção, e a maioria foi publicada nas últimas duas décadas. Os títulos abrangem grandes e pequenas editoras.
E tendo conhecimento disso autor Stephen King responde à revelação de que seus livros estão sendo usada para treinar inteligência artificial ao site The Atlantic.
Carros autônomos. Aspiradores de pó em forma de pires que deslizam para lá e para cá (apenas ocasionalmente ficando presos nos cantos). Telefones que informam onde você está e como chegar ao próximo lugar. Vivemos com todas essas coisas e, em alguns casos, o smartphone é o melhor exemplo, não podemos viver sem elas, ou é o que dizemos a nós mesmos. Mas será que uma máquina que lê pode aprender a escrever?
Em uma de minhas poucas incursões na não-ficção (Sob a Escrita), eu disse que não é possível aprender a escrever a menos que você seja um leitor, e a menos que leia muito. Aparentemente, os programadores de IA levaram esse conselho a sério. Como a capacidade de memória dos computadores é tão grande, tudo o que já escrevi caberia em um pen drive, fato que nunca deixa de me impressionar, esses programadores podem despejar milhares de livros em liquidificadores digitais de última geração. Incluindo, ao que parece, o meu. A verdadeira questão é se você obtém uma soma maior do que as partes, quando você despeja tudo de volta.
Até o momento, a resposta é não. Os poemas de IA no estilo de William Blake ou William Carlos Williams (já vi os dois) são muito parecidos com o dinheiro do cinema: bons à primeira vista, mas não tão bons depois de uma inspeção mais detalhada. Escrevi uma cena em um livro que será lançado em breve que pode ilustrar esse ponto. Um personagem se aproxima de outro personagem e atira em sua nuca com um pequeno revólver. Quando o atirador vira o homem morto, ele vê uma pequena protuberância na testa do homem. A bala não saiu completamente, como você pode ver. Quando me sentei naquele dia, eu sabia que o assassinato ia acontecer e sabia que seria um assassinato por arma de fogo. Eu não sabia dessa protuberância, que se tornou uma imagem que assombra o atirador no futuro. Esse foi um momento genuinamente criativo, que veio do fato de estar na história e ver o que o assassino estava vendo. Foi uma surpresa total.
Uma máquina poderia criar essa protuberância? Eu diria que não, mas devo – relutantemente, acrescentar este qualificador: ainda não. A criatividade não pode ocorrer sem sensibilidade, e agora há argumentos de que algumas IAs são de fato sensíveis. Se isso for verdade agora ou no futuro, então a criatividade poderá ser possível. Eu vejo essa possibilidade com um certo fascínio terrível. Eu proibiria o ensino (se é que essa é a palavra) de minhas histórias aos computadores? Nem mesmo se eu pudesse. Eu também poderia ser o Rei Canuto, proibindo a maré de subir. Ou um Ludica tentando impedir o progresso industrial martelando um tear a vapor em pedaços.
Isso me deixa nervoso? Sinto que meu território está sendo invadido? Ainda não, provavelmente porque já atingi uma idade bastante avançada. Mas vou lhe dizer que esse assunto sempre me faz pensar no romance mais presciente, Colossus, de D. F. Jones. Nele, o computador que se estende por todo o mundo se torna sensível e diz ao seu criador, Forbin, que, com o tempo, a humanidade passará a amá-lo e respeitá-lo. (Da mesma forma, suponho, que muitos dos computadores que se estendem por todo o mundo se tornam sensíveis e dizem ao seu criador, Forbin, que, com o tempo, a humanidade passará a amá-lo e respeitá-lo.) (Da mesma forma que, suponho, muitos de nós amamos e respeitamos nossos telefones.) Forbin grita: – Nunca! – Mas o narrador tem a última palavra, e uma única palavra é tudo o que é preciso: – Nunca?
Stephen King
Engenheiro Civil formado pela Universidade Anhembi Morumbi, amante de Terror, Horror e Cultura Geek em geral. Leitor Fiel há uma década e aumentando.
Uma resposta
Muito bom. Assunto bem urgente hoje em dia.