Em 19 de fevereiro, o escritor Stephen King falou para um público de 1.100 pessoas no Trustees Teatro como parte do Savannah Book Festival 2012.
Depois de 40 minutos de discurso, King abriu uma pasta com o arquivo de Dr. Sleep, a continuação de O Iluminado, onde Danny Torrance está com oito anos e vive sozinho com a mãe, três anos após os acontecimentos no Hotel Overlook.
Com o incentivo do público, King sentou-se e leu as primeiras páginas de Dr. Sleep. “Então é assim que começa”, disse King, e começou a ler:
No segundo dia de Dezembro do ano de 1977, um dos grandes hotéis resorts do Colorado queimou até o chão.
O Overlook foi declarado com perda total depois de uma investigação do marechal dos bombeiros. O corpo de bombeiros declarou que a causa tinha sido uma caldeira com defeito. O hotel foi fechado para o inverno, quando ocorreu o acidente, e apenas quatro pessoas estavam presentes. Três sobreviveram.
O zelador de inverno, John Torrance foi morto durante uma frustrada e heróica tentativa para soltar a pressão da caldeira de vapor, que havia chegado a um nível desastrosamente elevado, devido a uma válvula de alívio inoperante. Dois dos sobreviventes foram a esposa e filho do zelador. A terceira pessoa foi o chef do Overlook, Richard Halloran, que tinha deixado seu emprego de temporada na Flórida e veio para verificar os Torrances por causa, do que ele chamou de “um palpite forte” que a família estava em apuros.
Os adultos sobreviventes escaparam muito feridos da explosão, somente a criança não se feriu – fisicamente, pelo menos.
Wendy Torrance e seu filho receberam uma quantia em dinheiro, cedida pela empresa proprietária do Overlook. Não era grande coisa, mas o suficiente para sustentá-los bem durante os três anos que ela ficaria sem trabalhar por causa de lesões nas costas. Ela consultou um advogado que lhe disse que se ela estivesse disposta a resistir e jogar duro, ela iria ganhar mais – talvez muito mais – porque a coorporação estava ansiosa por evitar um processo judicial.
Mas ela, assim como a coorporação, só queria deixar o inverno desastroso no Colorado para trás. Ela iria se recuperar, ela disse, e o fez, apesar dos seus ferimentos nas costas terem a atormentado até o fim de sua vida. Vértebras despedaçadas e costelas quebradas podem ser curadas, mas nunca param de doer.
Winnifred e Daniel Torrance viveram em Maryland por um tempo e depois se mudaram para Tampa. Às vezes, Dick Halloran, aquele dos palpites poderosos, vinha de Key West para conversar com eles – para visitar o jovem Danny especialmente. Eles tinham uma certa ligação.
Em uma manhã, no início de março de 1981, Wendy ligou para Dick e perguntou se ele poderia vir. Danny, disse ela, havia acordado no meio da noite e disse-lhe para não entrar no banheiro. Depois disso, ele se recusou a falar qualquer coisa.
Ele acordou com vontade de fazer xixi e um vento forte soprava lá fora. Estava quente – na Flórida era quase sempre quente – mas ele não gostava do som e supunha que nunca iria gostar. Ele lembrava o Overlook, onde o defeito da caldeira tinha sido o mínimo dos perigos.
Ele e sua mãe moravam em um cortiço, em um pequeno apartamento no segundo andar. Danny saiu do quartinho, ao lado do de sua mãe e atravessou o corredor. O vento soprava, e as folhas de uma palmeira morta batiam ao lado do edifício. O som era esquelético.
Eles sempre deixavam a porta do banheiro aberta quando ninguém estava usando, porque a fechadura estava quebrada. Agora estava fechada – não porque sua mãe estava lá. Graças as lesões faciais sofridas no Overlook, ela agora roncava – um suave som de “queep, queep” – e ele podia ouvi-lo vindo do quarto.
Bem – ele pensou – ela fechou-a por acidente, é só isso.
Porém, ele agora entendia o que acontecia. Ele era um menino de palpites e intuições poderosas, mas às vezes você tinha que saber. Às vezes, você tinha que ver. Isso era algo que ele havia aprendido no Overlook, em um quarto no segundo andar.
Estendendo um braço que pareceu muito longo, muito elástico e sem osso, ele girou a maçaneta e abriu a porta.
A mulher do quarto 217 estava lá, como ele previu que estaria. Ela estava sentada nua na privada, com as pernas e coxas pálidas e inchadas. Seus seios pendiam como balões vazios. O cabelo abaixo do seu estômago era cinza. Seus olhos também eram cinzentos, como espelhos de aço.
Ela o viu e seus lábios se esticaram em um sorriso.
Feche os olhos – Dick Halloran disse uma vez – Se você vir alguma coisa ruim, feche os olhos e diga a si mesmo que não há nada ali e quando abri-los novamente, aquilo terá ido embora. Mas não havia funcionado no quarto 217 quando ele tinha cinco anos e não iria funcionar agora quando ele tinha oito. Ele sabia disso. Ele podia sentir o cheiro dela, ela estava apodrecendo.
A mulher – ele sabia o nome dela, era a Sra. Massey – levantou-se sobre os pés roxos estendendo as mãos para ele. A carne em seus braços pendiam, quase escorrendo. Ela estava sorrindo do jeito que se faz quando você vê um velho amigo, ou talvez, algo bom para comer.
Com uma expressão que poderia parecer calma, Danny fechou a porta suavemente e deu um passo para trás. Ele observou quando a maçaneta virou para a direita, esquerda, direita de novo e então parou. Ele tinha 8 anos agora e era capaz de, pelo menos, ter algum pensamento racional em meio ao horror – em parte porque em algum lugar profundo de sua mente, ele estava esperando por isso, embora pensasse que seria Horace Derwent que acabaria por aparecer, ou talvez o barman, que o pai havia chamado de Lloyd. Ele supôs que deveria saber que seria a Sra. Massey, mesmo antes de finalmente acontecer.
Porque, de todas as coisas mortas-vivas no Overlook, ela tinha sido a pior.
Vídeo de King no Savannah Book Festival 2012
Fonte: Talk Stephen King
Quando estava acabando de escrever essa notícia, a Lijas Library anunciou que Dr. Sleep só será lançado em 2013. Bom, teremos de esperar mais um pouco…
Professor de Língua Portuguesa e Literatura, graduado em Letras pela UEG (Universidade Estadual de Goiás), pós-graduado em arte/educação pela UFG, viciado em literatura de terror/suspense, amante incondicional de séries e Hq´s e fã de carteirinha do mestre Stephen King desde 1996.
7 Responses
Muito bom!!!!
Que coisa, achei diferente essa narrativa inicial. Não sei se é porque já faz um tempinho sem ler King(ou se é uma tendência natural da língua inglesa), mas me lembrou bastante o modo da J.K.Rowling de descrever os fatos.
Gostei, espero que seja legal.
Pode ser que minha tradução tenha ficado ruim Wanderson duehduehd Mas vamos aguardar 2013 e veremos =)
Acho que não, deve ser mesmo pela forma habitual do inglês em se escrever.^^
Estamos perto do lançamento do oitavo volume da Torre Negra e King já nos deixa ansiosos por mais um livro. Só espero que a Objetiva não demore muito a traduzir.
Massa. Gostei desta introdução. Temos que esperar até ano que vem então? Pena heheh