Concordo com o Edi sobre o poder de imersão na história que a introdução, tanto as imagens quanto a música, conseguiram produzir. As cenas alternas entre passado e presente de momentos diversos ao longo da trama, tendo seu ponto levemente alegre com a dancinha de Sara Tidwell, ficaram fascinantes! Dessa parte não houve o que reclamar!
Logo no inicio o recurso usado da camera sobrevoando a floresta e o lago para depois entrar na cabana do Noonan lembra a ferramenta muito usada por Stephen King em seus livros: tornar o leitor um espectador invisivel de todos os acontecimentos. Obviamente todo o leitor é um espectador, mas em Stephen King somos convidados constantemente à passeios pelo ar ou à atravessar fechaduras junto com o próprio autor. O que torna a leitura de King ainda mais algo instrospectivo, esse foi um ponto positivo ao começar essa parte da minissérie.
A senhora Meserve pouco depois suscita mais um mistério na mente conturbada de Noonan “A loucura de Dark Score Lake” que tem como suposto foco o próprio lago de Dark Score! Isso lembrou-me outra história do King em que um lago também possui grande importância (“Love”), não irei me deter aqui sobre este livro para evitar spoiller e porque futuramente teremos uma resenha dele. Caso na primeira parte essa loucura, segundo a lenda contagiosa, fosse mais explorada e os esclarecimentos anteriores fossem deixados somente para agora tudo poderia adiquirir maior profundidade e obiviamente acho que o desenvolvimento de um estado lúcido para uma confusão mental, com cumes de loucura e alucinações, posteriormente se concluindo em algumas respostas seria melhor estruturado. Principalmente numa linguagem televisiva que tem como prioridade manter sempre o espectador preso à tela, afinal audiência é a alma do negócio.
E em sua investigação Michael Noonan nos proporciona mais um momento de susto completamente previsível:
Como falei antes e o Edi comentou na crítica da primeira parte, algo em que a série pecou gravemente foi nos sustos ou “momentos surpresas”. A atmosfera, a música, enfim, todo o ambiente denunciava que algo iria acontecer o que acabava com qualquer emoção mais forte que o espectador pudesse ter, uma vez que tendo a atenção da audiência presa o que nos faz dizer “Uau! Que coisa fantástica!” são justamente as coisas que não esperávamos, as coisas que nos pegam com a defesa baixa.
Foi muito decepcionante assistir cenas em que começava: música soturna, algum barulho estranho de fundo, luzes escassas, apreensão no rosto do Noonan – qualquer pessoa comum pensa “Vai aparecer algum coisa ai!” – e então algum evento sobrenatural ocorria. Alguns poderão dizer: “Mas essa é uma história de terror! O que você queria? Ursinhos com desenhos nos peitos?” Para esses eu respondo: O terror bem feito não precisa ser óbvio. Na verdade quando o terror não é óbvio nos faz alçar voos mais altos com a imaginação, teorizar sobre a história, nos fascinar!
Contudo houve sim instantes que foram inesperados, momentos bem construídos que podem até proporcionar um pequeno contentamento para alguns, mas nada muito excepcional.
Outro lado negativo da série foi que não se aprofundou tanto quanto deveria no “núcleo” constituído por Max Devore e Vó Branca. Certo que toda a história que vemos, inclusive no livro, é a partir do olhar do Noonan, mas bem que o Mick Garris poderia ter criado mais uns encontros ocasionais, situações que deixassem mais ressaltadas as personalidade do senhor Devore e sua ajudante. Eu achei a Vó Branca no livro justamente um dos ícones mais assustadores, sempre ao lado do ranzinza e com uma aparência de madrasta má de contos de fadas.
Então, mais uma referência à outra obra de King:
Isso é o mais fascinante no multi-verso do King, a maneira como tudo está ligado!
O grande inimigo dessa minissérie foi mesmo a pressa. Não sei dizer se toda a culpa foi mesmo do Mick Garris, mas se tudo fosse feito em mais partes poderia ter gerado uma grande adaptação. Agradando todos os fãs, contudo o que vimos não foi isso. É uma pena, essa é mais uma versão de King que vai para a lista de “Boa para assistir numa dia de chuva caso não haja coisa melhor”. O trabalho de fotografia, trilha sonora, maquiagem realmente foram executados com muito esmero, mas o Pierce não convenceu em sua atuação e a direção não foi das melhores, para não dizer coisa pior. É uma pena uma história tão incrível que prova por a+b que não há monstro mais pavoroso que o monstro humano ganhar formas tão mal trabalhadas na televisão. Assim me despeço de todos por enquanto. Não esqueçam de deixarem suas impressões também nos comentários! Que o Ka traga melhores ventos!
Professor de Língua Portuguesa e Literatura, graduado em Letras pela UEG (Universidade Estadual de Goiás), pós-graduado em arte/educação pela UFG, viciado em literatura de terror/suspense, amante incondicional de séries e Hq´s e fã de carteirinha do mestre Stephen King desde 1996.
10 Responses
Olha, eu gostei mais da segunda parte, mas tenho certeza que ela não chega aos pés do livro – que ainda não li. Não gostei da atuação Pierce e realmente ficou um terror barato.
Nem animei a assistir a segunda parte. Achei a primeira um pouco chata.
Me decepcionou muito. Um dos melhores livros do SK teve um trabalho péssimo de roteiro.
A produção tava impecável, mas tive a sensação que o clímax do enredo foi diluído durante o filme ao invés de acontecer no final. Acho que eles tinham medo de ficar desinteressante.
O vilão do filme Devore que odiei tanto em cada pagina nem deu tempo de nos irritar na série.
Quem não leu o livro por favor não assista, meu irmão viu e perdeu a vontade de ler o livro, disse que apenas serviu pra estragar o final.
O único diretor que nunca decepcionou com uma obra do King em mãos foi o Darabont. Há outras adaptações que ficaram muito boas, mas são exceções.
Impossível adaptar uma obra tão boa em 2 capítulos! Ele pecou pela pressa e preguiça….
Decepcionante, como grande parte das adaptações de livros do King. Definitivamente, Mick Garris não pode mais adaptar as obras do mestre, ele as deixa extremamente superficial, tornando uma estória incrível em apenas uma estorinha de terror fraca e previsível.
Pessoal
(sei que passou bastante tempo – até nem lembro se já comentei no primeiro artigo)
A questão não é o erro de direção de Mick Garris. Pelo contrário. É – creio – o contrato. Com a emissora em questão (A&E, se não me foge à lembrança).
Se a emissora tivesse dado um maior tempo, aí teria saído algo bem melhor.
Devo dizer que gostei bastante da minisserie (salvo uma coisa ou outra).
Está valendo.
Abraços
Leon Nunes, Escritor
Mick Garris dirigindo filmes tem a mesma sutileza de um elefante querendo empinar uma bicicleta. Falta talento. Comparação cruel (e provavelmente desmerecida) mas o Alfred Hitchcock tinha tantos ou mais problemas quando dirigiu Psicose mas transformou os impecilhos em desafios e entregou um dos melhores filmes da historia do cinema.
Bag of bones é seco, bobo, mal adaptado e mal escalado. Diretor de casting dessa mini-serie colocar o James Bond (não adianta, Pierce Brosnan não tem talento suficiente pra desvencilhar do trabalho dele como JB onde ele funcionou muito bem.) fazendo o papel de um escritor sofrendo a morte da esposa foi uma decisão estúpida. O publico não consegue embarcar no drama do Mike e os sustos foram previsíveis e grosseiros. Toda a atmosfera do livro foi embora.
O livro no entanto é muito bom. Junto com o filme A Espinha do Diabo é um dos grandes “góticos” modernos que tem por aí.