O que vem por ai: Resenha de “Morality”

Será o conto tão efetivo quanto a capa?

No caso de campanhas publicitárias incomuns, Stephen King já experimentou quase todas. Desde e-books, livros gêmeos, serializados, entre outros. Então, como vender um conto? Como convencer o leitor comprar uma revista, ao invés de ler o conto e poupar alguns reais? Em julho de 2009, a revista norte-americana Esquire trouxe a magnífica Bar Refaeli na capa, como um objeto de leitura. Seminua, ela vestia as palavras de um novo conto do Stephen King. Tudo isso para divulgar Morality, a mais nova história do mestre.

Morality narra a história de Chad e Nora, um casal recém-casado, vivendo na atual recessão da economia norte-americana. Ele, um professor substituto aspirante a escritor com um futuro incerto. Ela, uma enfermeira trabalhando para um homem rico, o qual se recupera de um infarto. O leitor é jogado na história, e quase nenhuma informação sobre o passado do casal é fornecida. King, usando do seu estilo compacto de escrever, sumariza em poucas palavras toda a situação do casal, criando personagens iminentemente relacionáveis.

Devido à situação econômica, eles estão passando por dificuldades. Chad não ganha o suficiente como professor substituto, sendo a última alternativa terminar o seu livro, porém, com a falta de tempo e inspiração, esse projeto acaba sendo prorrogado. Nora, embora ganhando um pouco mais do que seu marido, trabalha como enfermeira particular para um homem rico. Este mesmo homem, um ex-pastor, faz uma oferta para Nora; uma oferta que poderia mudar a vida do casal completamente.

Pessoas comuns em situações extraordinários, essa é a temática mais recorrente na obra de Stephen King, e em Morality isso não é diferente. O que acontece se, um casal em uma complicada situação financeira, recebe uma proposta para ganhar muito dinheiro, muito rápido, mas para isso eles teriam que fazer o impensável? É com essa linha de pensamento que King criou esse conto.

Em qualquer outro conto, essa oferta feita pelo velho homem seria sexo por um preço, porém esse não é o filme Proposta Indecente! A segunda ideia, num contexto mais macabro, seria de um assassinato encomendado. No entanto, isso não é o que o ex-pastor quer. Nem um pouco similar. O que ele simplesmente deseja é pecar. Pecar e pedir perdão por isso.

Eu quero cometer um grande pecado antes de morrer. Um pecado, não de pensamento ou palavra, mas de ato. 

O tal do ato pecaminoso – que eu não revelarei nessa resenha – gera o dilema do conto. Até onde iria uma pessoa, a fim de se romper com sua moral? O que pode ser considerado pecado? Qual o preço de um pecado? Com essas questões – as quais King raramente responde – o conto torna-se realisticamente cruel. Como King já explorou em outros livros (Saco de Ossos, Duma Key, Love – A História de Lisey) a escuridão se encontra no seio dos casamentos. Com Morality, nós podemos testemunhar essa escuridão nascer e crescer.

Problemas? No início nós temos uma versão moderna de uma oferta imoral, no final, o resultado dessa oferta. Enquanto King utiliza seu tempo para preparar o leitor sobre o pecado a ser feito, o conto funciona. A segunda metade do conto não traz a mesma verossimilhança da primeira parte. Todo o entusiasmo, que estava presente na primeira parte do conto, torna-se irreconhecível nos momentos finais.

Curiosidades? Além do casal compartilhar um sobrenome em comum com uma das personagens mais canônicas de King (Callahan), o ex-pastor, em um de seus diálogos com Nora, utiliza de um discurso extremamente similar com o mesmo dito por Abagail Freemantle, em A Dança da Morte.

Morality não foi traduzido para o português. Provavelmente será lançando com a próxima coleção de contos, em 2012. Enquanto isso, para aqueles que quiserem ler, o conto é facilmente encontrado na Internet, em inglês.

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