O que vem por ai: Resenha de “The Little Green God of Agony”

A Book of Horrors
A Book of Horrors

O que você faria para se livrar de uma dor? Não uma dor de cabeça, ou a dor de um braço quebrado em recuperação, mas uma dor dilacerante, ininterrupta, excruciante, uma companhia constante?

Publicado no início de outubro de 2011, na coletânea A Book of Horrors, o mais recente conto de Stephen King, The Little Green God of Agony é agoniante. Andrew Newsome, o sexto homem mais rico do mundo, sofre um acidente aéreo e, depois de diversas cirurgias e processos de reabilitação, ainda amargura as dores do acidente, deitado em sua cama. Enquanto sua enfermeira particular, Katherine MacDonald, está convencida de que as dores possam ser controladas e aliviadas através de exercícios de reabilitação, Newsome pretende comprar o seu alívio, contratando um homem de nome Rideout, para fazer uma espécie de “exorcismo”.

Eu não curo. Eu expulso. Eu extermino a peste do corpo ferido em que ela se alimenta. Cada homem e mulher que sofre de dores está possuído, é claro, mas em algumas pessoas, o problema é mais profundo. Nesses casos, a dor abre um caminho para um deus demônio. É pequeno, mas perigoso. Ele se alimenta de um tipo de dor, produzido por um tipo especial de pessoas.

O cenário proposto pelo conto é lovecraftiano. Há uma gigantesca mansão, uma tempestade assolando o local, capaz de derrubar árvores e quebrar lâmpadas, a escuridão cobrindo tudo à vista, e um pequeno diabo verde da agonia, uma criatura mais do que simbólica. Num primeiro momento, o leitor se vê rodeado de personagens, enquanto o biliardário Newsome explica para seu convidado, Reverendo Rideout, sobre o acidente e as dores consequentes. Sua enfermeira, Katherine, uma mulher extremamente racional, já ouvira essa história dezenas de vezes, sendo capaz de recontá-la no pensamento, sempre ironizando o que seu patrão diz. As descrições dos processos da dor são enraizadas na própria experiência pessoal de King logo após o seu acidente, quando teve de fazer longas e doloridas seções de fisioterapia, para poder recuperar os movimentos da perna.

King sempre disse que a criação de contos é mais trabalhosa do que trabalhos longos, reafirmando que o conto é uma arte perdida. Em The Little Green God of Agony, nós somos agraciados com as mais diversas personagens, bem desenvolvidas em pouquíssimas páginas. É impossível não ficar fascinado com a enfermeira Katherine, quem acredita que as dores de Newsome são psicossomáticas, ou com o Reverendo Rideout, quem não aceita os dez milhões de dólares como pagamento pela cura. Ou até mesmo com Newsome, quem padece em sua cama, simplesmente querendo que a dor desapareça.

Nas últimas cinco páginas, nós percebemos porque o King é considerado o mestre do terror. São momentos como esse que mostram como Stephen King consegue ser aterrorizante. A última frase é, essencialmente, de tirar o fôlego.

Problemas? As dores nesse conto são palpáveis, mas a história só toma forma nas páginas finais, sendo interrompida quando o leitor percebe o potencial da narrativa. Essa foi a intenção de King, causar impacto com as últimas palavras, mas isso não agradará grande parte dos leitores.

Curiosidades? Além do já mencionado acidente, que ajudou na caracterização de uma das personagens, King descreve o Deus da Agonia como um “estranho”, um conceito criado por H.P Lovecraft para denominar demônios que vivem em nosso mundo. Outros monstros de King que possuem a mesma descrição são: Parcimonioso em A Coisa, Tak em Desespero, Dandelo em A Torre Negra e Lord Malshun de A Casa Negra

Seria o demônio da agonia uma personificação da dor? Seria ele real? Ou o Reverendo Rideout é mais um charlatão? Newsome conseguirá finalmente se livrar das dores? Somente o conto te dirá.

The Little Green God of Agony, ainda não traduzido para o português (possivelmente O Pequeno Deus Verde da Agonia), encontra-se no livro A Book of Horrors, podendo ser encontrado na Amazon, Book Depository, ou na sua livraria predileta.

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2 Responses

  1. Por esses e outros motivos que ando tentando aprimorar o meu inglês. Sem dúvida alguma essa história deve ser muito, mas muito interessante e você conseguiu me deixar curioso com seus comentários! kkkkkkkkkkkk

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