Título original: The Dark Tower
Título traduzido: A Torre Negra
Gênero: Ação/Aventura
Duração: 95 minutos
Ano de lançamento: 2017
Direção: Nikolaj Arcel
Roteiro: Akiva Goldsman, Anders Thomas Jensen, Jeff Pinkner, Nikolaj Arcel, Stephen King
IMDB: http://www.imdb.com/title/tt1648190/
TRAILER
Um pistoleiro chamado Roland Deschain (Idris Elba) percorre o mundo em busca da Torre Negra, eixo de todo o tempo-espaço que está prestes a desaparecer. Essa busca envolve uma intensa perseguição ao poderoso Homem de Preto (Matthew McConaughey), passagens entre tempos diferentes, encontros intensos e confusões entre o real e o imaginário. Baseado na obra literária homônima de Stephen King.
AFINAL, O QUE ACHAMOS DA ADAPTAÇÃO DA TORRE NEGRA?
Longos dias e belas noites Pistoleiros. Durante muito tempo eu pensei se deveria ou não escrever esta resenha. Se deveria ou não mexer nesse vespeiro que se tornou a saga da Torre Negra no cinema ou deixá-la quietinha, imaculada na minha estante, com a visão que eu mesmo criei sobre o universo de Roland Deschain e seu ka-tet. Decidi, por fim, criar coragem e deixar aqui meu desabafo sobre a fatídica produção cinematográfica que leva o nome da Torre Negra, mas que no final (ou até mesmo no início) descobrimos que só fica nisso mesmo. Mas enfim, vamos ao que interessa…
Em primeiro lugar, eu não assisti a adaptação da Torre Negra tão logo ela ficou disponível no cinema. Não tive tempo sequer de pensar em como faria para conseguir tempo de ir ver o filme, antes que a enxurrada de críticas negativas começasse a sair nos blogs especializados. Foi o primeiro balde de água fria. É obvio que não sou do tipo que leva tão a sério as críticas, sejam elas oriundas de especialistas no assunto ou não, afinal critica é algo bem pessoal e o que você achar horrível em um filme, eu posso gostar e vice-versa. Mas, infelizmente, não foi possível ignorar. Havia certa lógica e um consenso em praticamente todas as críticas, de que o diretor tinha errado (e muito) a mão. Essas críticas, obviamente, refletiram na bilheteria do filme, que foi praticamente um fracasso. Tudo isso, aliado à falta de tempo, fez com que eu optasse por ver o filme apenas recentemente, quando me sobrou um pouco de tempo e menos ainda de empolgação. Logo nos primeiros minutos de filme eu vi que minha decisão de não ir com muita sede ao pote fora a mais correta possível.
Dizer que A Torre Negra, adaptação do livro homônimo de Stephen King, não tem absolutamente nada a ver com o livro é um pouco exagerado. Sim, temos muitas coisas legais, como, por exemplo, o amontoado de referências às outras obras do autor, que só serão percebidas pelos que acompanham um pouco mais de perto a carreira de Stephen King e ao menos isso acrescentou um pouco de graça ao filme. Temos as caracterizações de alguns personagens, como os Taheens, que também soa interessante e efeitos especiais, em sua maioria, competentes (com exceção da sequência final, que é uma verdadeira aula de como não usar efeitos especiais) que cumprem o propósito no filme, mas de resto é só isso. Como filme, independente dos livros, ele já soa batido e repleto de clichês hollywoodianos, mas como adaptação ele consegue se afundar ainda mais no profundo buraco cavado pelo diretor Nikolaj Arcel e pelo roteirista Akiva Goldsman (com a ajuda de outros quatro distintos cavalheiros, entre eles o próprio Steve).
Para início de conversa, no filme o foco principal da história não é Roland Deschain e sua busca implacável pela Torre Negra, mas sim Jake Chambers. Não que Jake não seja um personagem de grande importância no decorrer dos oito livros que compõem essa grandiosa saga, mas a questão é que a atenção do filme foi dada a um personagem que sequer teve tempo para ser melhor desenvolvido, aliado ao fato de que Tom Taylor, ator responsável por interpretar Jake nos cinemas, entregou uma atuação aparentemente desmotivada e sem inspiração. Você não sente, realmente, em momento algum, uma conexão emocional do personagem com a história.
Temos também, é claro, o fato de que A Torre Negra é, em essência, um livro sobre obsessão, sobre a busca irrefreada de Roland Deschain pela Torre, sobre sua incansável tentativa de consertar o eixo de todo o tempo-espaço e fazer com que o mundo volte a ser como era antes de ter “seguido adiante” e não um livro sobre um garoto iluminado que tem (apenas ele) o poder para destruir toda a Torre. A obsessão de Roland que é tão enfatizada nos livros e com a qual ele precisa aprender a lidar, no decorrer de todo o processo de amadurecimento do personagem, foi substituída no filme por uma vaga e insípida busca por vingança. “Ah, Edilton, mas O Homem de Preto matou o pai dele. É claro que ele ia procurar por vingança.” Eis ai outro grave problema no roteiro de Goldsman, a caracterização dos personagens.
Se você leu os livros sabe quem são os Pistoleiros. São figuras quase míticas, que carregam seus revolveres enormes com cabos de sândalo, verdadeiros heróis do Mundo-Médio, reverenciados por onde passam, mesmo após todos pensarem que eles não mais existiam. Steven Deschain, pai de Roland, foi um desses Pistoleiros. Ele era senhor de Gilead e o 29ª geração da Linhagem do Eld, descendente do próprio Rei Arthur. No filme Steve aparece em uma única cena e é justamente (aviso de spoiler, caso você ainda não tenho visto o filme) na cena onde ele é morto pelo Homem de Preto com uma simples palavra. Sim. Uma única palavra matou um dos maiores Pistoleiros que o Mundo-Médio já viu. Mas se a morte de Steve foi no mínimo bizarra, o que dizer de um Homem de Preto poderoso o suficiente para parar balas e matar pessoas com uma única palavra?
McConaughey, que já tem em seu currículo um Oscar, bem que tentou, mas no final das contas o Homem de Preto entregue por ele não passou de uma visão caricata e mal construída de um dos personagens mais interessantes já criados por Stephen King. A maior parte dos seus diálogos são sofríveis e seus maneirismos quase circenses dão um ar bem mais cômico do que trágico ao Homem de Preto, embora ele ainda consiga, com relativo sucesso, expressar a natureza essencialmente má do arqui-inimigo de Roland.
Elba, por sua vez, entrega um Pistoleiro que padece no meio termo. Embora tenha achado as habilidades de Roland, em certos momentos, igualmente circenses, malabarismos e pulos exagerados a parte, ainda há nele o olhar de Pistoleiro, a alma de um Homem que não esqueceu a face de seu pai, que se comunica muito mais com o olhar do que com as palavras e que, mesmo com o centro de sua motivação drasticamente alterado, permanece obstinado em sua busca, não poupando, como todo bom Pistoleiro que se preze, balas para alcançá-lo.
Por último, mas não menos importante, temos o fato do desenrolar da trama se passar rápido demais, com informações sendo jogadas a todo momento para o telespectador, dando a impressão que foi um filme feito pensando exclusivamente no fã service e deixando de lado o público que nunca ouviu falar da obra. Personagens que no fim se mostraram completamente irrelevantes para o desenrolar da trama foram criados, enquanto outros de enorme importância foram deixados de lado e o próprio Mundo-Médio quase não foi explorado, dando lugar a Nova York que, por sua vez, também poderia ter sido melhor aproveitada, principalmente nos momentos cômicos de Roland tentando se adaptar àquele novo universo, que praticamente ficaram de fora do filme.
Infelizmente parece que os envolvidos nesse projeto esqueceram as faces de seus pais e agora, depois da fraca bilheteria e da péssima recepção, tanto do público quanto da crítica, talvez o projeto de mais dois filmes e pelo menos duas temporadas de uma série de tv vá por água abaixo e a Torre caia de uma vez por todas. Uma pena. A obra máxima de Steve (na visão do próprio Steve), que demorou mais de trinta anos para ser finalizada, merecia uma adaptação digna de respeito. Mas talvez seja o destino ou Ka, como diria o próprio Roland. Sendo assim, ainda há esperança, afinal Ka é como uma roda e uma hora as coisas talvez voltem a se ajeitar.
Professor de Língua Portuguesa e Literatura, graduado em Letras pela UEG (Universidade Estadual de Goiás), pós-graduado em arte/educação pela UFG, viciado em literatura de terror/suspense, amante incondicional de séries e Hq´s e fã de carteirinha do mestre Stephen King desde 1996.